Miguel tinha razão, a única forma de fazer com que elas entendam que precisam ser recolhidas, é uma demonstração. Como uma fisioterapia ou reabilitação. Mas há riscos, e todos naquele quarto os conheciam. As frágeis penas queimadas, e o que sobrou das asas do anjo, poderiam simplesmente desintegrar-se com a força de Miguel, despedaçar-se. Ou Gabriel, poderia nunca mais conseguir vê-las, abri-las.
O anjo mais velho move as mãos rumo as pobres asas fragilizadas, e Gabriel recua rapidamente e instantaneamente para o fundo da cama.
— Espera. — avisa.
Miguel agarra no que me parecem a estrutura das asas, ossos, e Gabriel solta um tipo de alerta em grito. Um som grave, de desaprovação e dor, seguidamente volta a afastar-se e o seu corpo está inteiro na cama, ela está sentado nos lençóis. A sua expressão congelou a minha alma.
— Miguel, tem de haver outra maneira. —supliquei.
— Vira de costas, o quanto menos lutar, mais rápido acaba. — Miguel basicamente ordena e o anjo senta-se na beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos unidas em frente a boca, ele ganha um ar imensamente sexy e poderoso quando está assim.
Miguel ajoelhou-se na cama, e levou novamente as mãos nas asas enfermas, o arcanjo puxou o ar com os dentes. Isso não vai acabar como deve.
Assim que Miguel empurrou o par de asas para as costas do arcanjo mais novo, foi surpreendido pela distância. O corpo de Gabriel cedeu e os seus joelhos encontraram o chão, ele rapidamente tentou levantar-te, debilitado, no que me pareceu uma tentativa de fugir. Miguel agarra a sua panturrilha e o puxa novamente para o chão, o rosto do anjo embate na madeira com alguma força.
As linhas negras voltaram a aparecer nas mãos do Gabriel e eu sabia o que aquilo significava. Ele estava a ficar irritado, muito irritado. Quando ele volta a ficar de pé, Miguel o empurra contra a parede, o seu corpo fica prensado assim como o seu rosto. Com uma mão, Miguel segura a nuca do anjo, para que ele não fuja do seu aperto. A expressão no meu rosto não muda, eu estava espantada e sem saber o que fazer. Com a outra mão, Miguel impulsiona as asas para dentro, fazendo com que um grito rouco fosse ouvido de Gabriel.
— Miguel pára! — vi-me a berrar. Quando agarrei os bíceps de Miguel a minha força era literalmente; nada.
Eu queria que ele parasse. Eu não suportava a ideia de que aquilo magoava o meu anjo, por mais que fosse necessário, apenas eu podia fazê-lo.
Eu podia ver rachaduras profundas a formarem-se na parede a qual Gabriel era pressionado com a força de Miguel. O quarto tornou-se silencioso, a não ser pelas duas respirações masculinas ásperas e aceleradas. As asas simplesmente desapareceram ao unirem-se às costas de Gabriel.
Miguel libertou-o, e olhou a mão suja de sangue, a ferida era bem maior quando vista assim. Gabriel ajeitou os ombros de uma forma brusca, e virou-se. Uma parte do seu rosto estava completamente arranhada e magoada, fazendo-me compreender as rachaduras na parede.
— Tratem da ferida, vou arranjar uma camisa-de-força. — Miguel explicou deixando o quarto.
— Uma camisa de força? — Gabriel cuspiu alto.
— Você não vai voltar a abrir essas merdas tão cedo. — Miguel retrucou enquanto descia a escada.
— Vai se ferrar!
O anjo basicamente berrou num tom raivoso e rouco, que fez a minha cabeça girar. A sua mão atinge a garrafa de whiscky bruscamente, e o som do vidro a partir-se assustou-me. Ele parecia descontrolado, não sabia que a dor, ou a decadência das suas asas o assustava tanto.

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Crows { H.S }
TerrorAqui, fixarei a minha eterna súplica, por mais que vagueie pelo vale sombrio da morte, que padeça nas mais prolíferas agonias do submundo, livra-me do mal que pelo chamado exílio caminha. Aquele cujo o coração é quente e o olhar, assassino. A criatu...