XII

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As coisas tornavam-se complicadas. Não queria de forma alguma perder o controle, mas se Asmodeus esteve tão próximo dela, nada o impediria de fazer mais vezes. Eu não podia estar o tempo todo com Íris, não podia protege-la nos seus próprios sonhos. Asmodeus sabia que se tentasse se aproximar dela na realidade, eu sentiria desde o primeiro passo em sua direção. Não significava que ele não conseguiria extermina-la antes que eu aparecesse, o que me preocupava. Mirage e Miguel estavam ambos na sala de estar, não estava a espera de visitas naquela altura da manhã.

— Dormindo fora de casa? — inquiriu Mirage. O cigarro trançado entre os dedos magros, a pose elegante na cadeira colonial.

— Isso é um tipo de reunião?

Fechei a porta atrás de mim. Miguel ocupava basicamente o sofá todo.

— Asmodeus deixou uma lembrança para ela. — ele disse, apontando com a cabeça para Mirage.

Ela ergueu o cabelo negro, e inclinou-se até estar de costas para mim. Uma marca negra estava gravada na nuca.

— Ele me marcou. Os caças vão aparecer logo. De alguma forma sabe que estou com você.

Um calafrio percorreu o meu corpo. Asmodeus sabia sobre Mirage, não a deixaria escapar ilesa depois de uma traição tão clara.

— Vão saber onde estou se eu exercer qualquer atividade. — Mirage sempre mantinha a postura intacta, mas era notável a preocupação nos seus olhos.

— Quando foi isso?

— Nesta madrugada. — respondeu Mirage.

Aquilo era parcialmente impossível; Asmodeus estava com Íris na noite passada. O que faria com que viesse atrás de Mirage? E como raios saberia que ela estava comigo? Ignorei os fatos. Mirage não sonharia em me trair agora que Asmodeus está à sua procura.

— Você fica aqui. Não vou deixar que toquem em você. — pude observar a satisfação no seu rosto quando terminei de dizer.

— Vem comigo. Precisamos conversar. — disse Miguel enquanto seguia para a cozinha. Fui atrás.

Encostei-me à ombreira da porta, de braços cruzados. Miguel perambulou pela cozinha até apoiar o quadril na bancada. Cruzou também os braços.

— Fala.

— Gabriel, eu sei que você quer proteger as pessoas que gosta. Como Íris e Mirage. Mas você não pode esquecer que tem um demônio com chifres atrás de você.

— Eu sei.

— E o pior, tem uma coisa que pode matar você. Isso, se não for mentira o que ela disse.

— É verdade. Eu estive com ele. O vi. E a adaga celestial. — expeli num murmúrio.

— Como assim?

— Asmodeus invadiu o sonho dela. — suspirei — Miguel, é complicado explicar. Só o que precisa saber, é que ele está com a adaga.

— Espera, espera, Asmodeus esteve com a Íris?

Assenti.

— Esta noite. Por isso só apareci agora. Ele usou a adaga para apunhala-la. E enquanto ela morria, tentou me matar.

— E você acha que ele a marcou? Como fez com Mirage?

Crows { H.S }Onde histórias criam vida. Descubra agora