— Mas que merda é esta?
A voz dele era de surpresa, espanto, e principalmente, decepção. Os olhos de Gabriel estavam fixos em mim, ele não queria encara-lo, e nem eu. Estávamos ambos perdidos. Usei o meu antebraço para empurrar o corpo masculino à minha frente, e encarei o meu pai na porta, o seu rosto inteiramente furioso.
— Pai...
— Então essa é a sua amiga? — ele inquiriu. O tom sarcástico, e letal, enquanto olhava o anjo com uma sobrancelha arqueada.
— Você acha que eu tenho a sua idade para acreditar nessas merdas? — o seu tom de voz aumentou, e eu comprimi por dentro.
Agarrei o casaco escuro que estava sobre a penteadeira e estendi contra o corpo de Gabriel, ele olhava-me com uma certa preocupação. Perdi-me por momentos nos seus olhos, e os insultos e reclamações do meu pai tornaram-se abafados.
— Vai. Eu cuido disso. — murmurei.
— Tem certeza?
— Tenho.
Ele agarrou o casaco, e depositou um leve beijo na minha têmpora. Um arrepio percorreu a minha espinha quando ele passou pelo meu pai, os dois olharam-se, dois olhares corrompidos com o que parecia ódio. Não podia ficar pior.
— Está de castigo.
Ele disse quando fechou a porta do quarto. Os meus olhos arregalaram-se com a surpresa. Ele não podia me tratar como uma criança.
— Quantos anos acha que tenho? — eu própria notava o cinismo na minha voz, a irritação.
— Para passar noites fora sem avisos, e depois mentir para mim, sem responsabilidade alguma, 15. Está de castigo. — ele insistiu. — Não vai colocar um pé se quer para fora de casa até que eu decida mudar isso.
— Você não pode simplesmente me prender aqui. — eu queria chorar, de raiva. Sentia a minha cabeça comprimida e o meu rosto quente, mas eu não queria mostrar ser a criança que ele julgava que fosse.— Eu posso. Eu sou o seu pai. E enquanto você estiver na minha casa, sendo cuidada por mim, tem de me obedecer. — o seu tom de voz estava novamente alto.
Assenti em silêncio, e virei o meu corpo, ignorando-o. Sentei-me na cama e puxei novamente o notebook para perto.
— Quem é ele?
— Um cara que conheci há uns dois ou três meses. — que me conheceu quando nasci.
— Ele não parece uma boa pessoa. — comentou.
— Você vendia comprimidos para aborto quando conheceu a mamãe.
O seu rosto passou de zangado para surpreso num instante.
— Mas eu não invadi o quarto dela.
— Não tenho culpa se você não era tão radical.
— Naquela época ainda prezavam em proteger algo. E você também devia. — ele grunhiu.
Encolhi as minhas sobrancelhas, um pouco confusa com aquela conversa. Minimizei o editor de texto, deixando a redação para outra hora e abri o navegador para conferir os emails.
— Proteger o quê? — perguntei sem olha-lo.
— Você sabe. A sua castidade.
Ele parecia atrapalhado com aquilo, e tive de esforçar-me para conter o riso. Eu não acredito. Olhei-o um pouco envergonhada, as minhas bochechas estavam novamente vermelhas. Eu não sei se deveria conta-lo, mas mentir mais uma vez, era um ato fútil.

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Crows { H.S }
TerrorAqui, fixarei a minha eterna súplica, por mais que vagueie pelo vale sombrio da morte, que padeça nas mais prolíferas agonias do submundo, livra-me do mal que pelo chamado exílio caminha. Aquele cujo o coração é quente e o olhar, assassino. A criatu...