Íris POVO som dos gritos era cada vez mais alto e próximo, o pânico corria por minhas veias como nunca, nem o meu próprio assassino me assustara daquela forma. O impacto e som causado pela aterrissagem fez com que eu me desequilibrasse e caísse na escada. Os meus olhos foram arregalados com a surpresa ao ver as enormes asas negras armadas, não conseguia definir as penas, ou a textura, a escuridão me impedia. Os gritos cessaram. Senti-me uma tola por estar a chorar naquele momento. Ele olhou-me um tanto surpreso por um tempo, mas depois estreitou os olhos como que para focar a visão no meu rosto. A minha pergunta parecia não ter sentido, foi algo impulsivo, e se não fosse ele o assassino? Mas era, eu reconheceria os cabelos ondulados em qualquer ocasião.
— Eu preciso... De respostas. — expeli num murmúrio. Precisava de algo que quebrasse o seu silêncio fatal.
Eu queria confronta-lo. Quem era ele? O que ele era? Mas as minhas palavras não pareciam ter algum tipo de efeito na situação. O meu corpo automaticamente recuou com a sua aproximação, não sabia o que ele pretendia com aquilo, olhava-me como se procurasse algum tipo de ferimento ou um simples arranhão. Ele apanhou-me no colo, e eu grunhi de frustração. Não sabia o que esperar daquilo. O conforto dos seus braços era inigualável. Encolhi os meus braços, deixando-me completamente entregue à comodidade.
— Para onde estás a levar-me?
— Para casa. — ele surpreende-me com uma resposta. Era dono de um rouco único e grave, o tom de voz baixo causou-me uma onda de arrepios.
Encostei o meu rosto na superfície macia do seu peito confiante, as suas palavras deixaram-me tranquila, estar nos braços de um estranho não era o mais brilhante plano, mas um estranho que livrou-me de criaturas que eu nem se quer conhecia, a comodidade e segurança que sentia estando com o rapaz alto e de asas escuras era familiar o bastante para que eu confiasse nele. O coração calmo. A carne quente. A mistura precisa para que me sentisse em casa.
Gabriel POV
Não tinha conhecimento algum do que estava a fazer. Até onde conhecia, a casa não era muito distante de onde estávamos, o que não me impedia de caminhar com ela até lá. O seu silêncio levou-me a perceber quando já dormia. Admito que o percurso tornou-se mais confortável assim, continuar com mais perguntas das quais não sei responder poderia complicar a situação. A luz da sala estava acesa, podia ver pela porta da frente. Dei a volta na casa, à procura da janela branca e rústica do seu quarto, era por ela onde a observava antes de tudo. Libertei um curto suspiro ao trazer novamente as minhas asas, podia jurar que senti uma movimentação vinda de sua parte. Depois de erguer, aterrissei na varanda pequena, recolhendo as estruturas grandes de penas escuras. A cortina branca que tapava a porta movia-se como que a dançar em sintonia com a brisa da noite, nos seus intervalos permitia-me observar o interior do quarto, que era o mesmo. Não havia um berço, ou uma cama pequena e bonecas. O estado solitário dos lençóis claros fizeram-me imaginar o quão fria a cama estaria para ela, seria capaz de aperta-la e encobri-la com as minhas asas a noite toda para conservar o calor que a confortava. Mas era algo inalcançável. Talvez se nunca a tivesse deixado, Íris não tivesse de passar por absolutamente nada disto, sob meus cuidados, aquela maldita brincadeira nunca teria existido para a sua mente pura. Repousei o seu corpo na cama, com o máximo de cuidado que consegui. Sabia que ela acordaria, o sono leve é uma característica que a acompanha desde criança. Descalcei-a e removei o gorro de crochê que encobria o topo do cabelo claro. Acumulei todas as mantas que já estavam na cama junto dela, de forma confortável e que fosse capaz de a aquecer como eu aqueci. Senti o contato da sua pele gélida contra a minha, quente, quando ela agarrou o meu punho impedindo-me de deixar a cama. Pude pressentir a dilatação das minhas pupilas ao fixar a minha atenção no seu rosto. Os olhos ainda estavam fechados. Ela abriu-os de forma lenta, como que a acordar numa manhã bem disposta.

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Crows { H.S }
HororAqui, fixarei a minha eterna súplica, por mais que vagueie pelo vale sombrio da morte, que padeça nas mais prolíferas agonias do submundo, livra-me do mal que pelo chamado exílio caminha. Aquele cujo o coração é quente e o olhar, assassino. A criatu...