XV

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— Anjos? Você perdeu a cabeça?

Eu sabia que seria algo complicado convencê-la de qualquer coisa que havia se passado. Anjos, demónios, lutas e mortes. Mas um argumento forte era que, Rachel estava comigo quando o meu anjo exterminou cruelmente os nossos amigos. O facto de que o aceitava, e que estava comigo, soava doentio e inconsequente.

— Rachel, você viu com os próprios olhos. O que aquele homem fez, nenhum ser-humano faria.

— Íris, anjos não matam pessoas. Era apenas um maníaco psicopata que brincou com um bando de adolescentes indefesos. — ela cuspiu.

— Um maníaco psicopata que não te matou, e nem a mim. Ele olhou para você, e recuou.

— Pode ter nos conhecido de algum lado, ou ficado com pena.

Deixei um suspiro esvair-se dos meus lábios quando joguei-me na poltrona macia. O quarto dela parecia um cenário de filme infantil. Muitas bonecas antigas na prateleira em cima da cama, quadros amadores que foram pintados por ela mesma e, almofadas de veludo. Rachel era o tipo de adolescente típica e original, ao mesmo tempo. Era útil e sabia como decorar um quarto de forma bizarra, mas admirável.

— Você vem até a minha casa, depois de passar dias sem falar comigo. E espera que eu acredite num conto de fadas que surgiu na sua cabeça. — ela murmurou enquanto saía para o alpendre do quarto.

Permaneci quieta na poltrona aveludada e lilás. Rachel tinha razão. Eu parecia uma louca com todas aquelas histórias. Ninguém acreditaria em mim. Há momentos que nem eu mesma acredito que algo assim acontece comigo, ou pior, que pareça tão natural, como se já tivesse presenciado algo assim numa outra vida, ou tido o convívio com criaturas de tal padrão.

Ouvi o que parecia um grunhido soar na varanda, imaginei que ela estivesse a chorar, mas não conhecia os seus reais motivos para isso.

— Rachel?

Silêncio. O meu coração afundou naquele momento. Ergui o meu corpo da poltrona quente, e caminhei para a varanda. A imagem alta e forte logo invadiu o quarto, os ombros largos pareciam tapar metade do arco da varanda. Ele tinha algo nas mãos. Rachel. Não pude impedir uma expressão espantada que invadiu o meu rosto.

— O que você fez com ela?! — elevei o tom de voz, espantada.

O seu silêncio era um incômodo constante. Gabriel quase nunca respondia as minhas perguntas, ou importava-se com as minhas palavras. Rafael tinha razão quanto ao seu comportamento, ele hora era algo, outrora, outro algo. Muitas personalidades habitavam dentro de si.

O anjo depois de aconchegar Rachel na cama, olhou-me. Ele vestia algo comum, escuro, e um sobretudo preto, aberto. Tinha grande parte do peito exposto, exibindo a série de tinta escura que era fixa na sua pele ardente.

— Ela só está inconsciente.

A sua voz rouca e baixa preencheu o quarto, os meus músculos pareciam romper-se apenas com o ar da sua presença forte. Gabriel tinha os olhos frios, e sem arrependimento. Como se matar Rafael fosse algo comum, como eliminar um inseto da calçada. O tecido fino da minha camisola logo tocou a parede, foi quando percebi que me estava a afastar. Um certo medo preencheu o meu corpo.

Gabriel sentou-se na poltrona que eu antes ocupava, entediado com o meu medo, e com o meu ato de afastar-me. Algo nele estava diferente.

— Porque você o matou?

Pude notar a sua mudança, o seu peito adiantou uma respiração profunda, enquanto a sua mente captava palavras para uma resposta. Ou não.

— Eu prometi que se ele tocasse em ti, novamente, o mataria.

Crows { H.S }Onde histórias criam vida. Descubra agora