Rafael mal podia se conter de tanta felicidade enquanto contava para seu pai que ele seria avô.
- Isso é maravilhoso! – disse Felício igualmente animado. – Não vejo a hora de segurar meu netinho nos braços.
- Ainda não sabemos se será um menino meu sogro. – disse Julia, sorrindo enquanto acenava com as mãos na direção de Felício.
- Ai, amor! Eu estou tão feliz! – comentou Rafael, abraçando Julia e a beijando na testa.
- Nem me fale, querido. Nem me fale.
Os meses foram se passando e a cada mês Julia se lembrava de algumas coisas que tinham acontecido durante o período que esteve desaparecida. Nada de muito esclarecedor, mas algumas coisas a deixaram preocupada, bem como a Rafael.
Julia lembrou que tinha sido levada para um lugar muito diferente dos estabelecimentos de Aquária. Algo parecido como um laboratório, porém, era como se fosse subterrâneo ou coisa parecida. Na certa algum local escondido das pessoas.
Conforme os dias foram se passando, ela também se lembrou haviam lhe colocado em uma espécie de cama e que ela estava ligada a inúmeros aparelhos. Sem falar que também lembrou que lhe deram algumas injeções.
Todas essas lembranças lhe deixaram preocupada, mas uma em particular, fez com que ela ficasse não apenas preocupada, mas também intrigada.
Em uma de suas lembranças, Julia lembrou que em um de seus momentos semiconsciente ela não estava sozinha, e ela não falava das pessoas que sempre a acompanhavam durante sua estadia no laboratório, médicos ou cientistas possivelmente, mas dessa vez em particular, ela viu dois indivíduos estranhos ao lado dela. Tinham uma aparência normal de uma pessoa comum, mas eles pareciam um tanto cansados e sem ar e seus lábios pareciam ressecados, tão ressecados que estavam brancos.
Outro detalhe é que eles estavam completamente sem roupas e pareciam saber o que ia acontecer a ela, pois a olhavam penosamente, embora eles parecessem estar em um estado bem pior que ela.
Ela não entendeu o que estava acontecendo, e tão pouco tinha forças suficiente para perguntar. Sem falar que nem ao menos conseguia vê-los direito, pois sua visão era falha e na maioria das vezes eram só borrões que preenchiam seu campo de visão.
Preocupada com essas últimas lembranças, Julia pergunta ao esposo o que devia fazer:
- Você acha que devemos contar isso a alguém? – perguntou ela para Rafael, logo que terminou de contar-lhe o que acabara de lembrar.
Após pensar um pouco, Rafael se pronuncia.
- Não. Acredito que isso não iria ajudar em nada e no fim ia ficar tudo do jeito que está, sem falar que poderiam querer fazer algum tipo de experiência com você para saber o que houve, então é melhor esquecermos essa história e seguirmos com nossas vidas. Você está grávida e em poucos meses estará dando a luz ao nosso filho ou filha, e contar essa história para alguém poderia nos trazer apenas uma agitação indesejada. Vamos apenas deixar como está. Tudo bem pra você?
Julia assentiu, e então olhou para sua barriga enquanto a acariciava suavemente com a palma das mãos, o que foi logo imitado por Rafael.
~ ALGUNS MESES DEPOIS ~
Julia caminhava pelo quintal de sua casa quando de repente sente uma forte contração. Ela grita de dor enquanto pede socorro para o marido.
Segundos depois, Rafael chega correndo para ajudá-la.
- O que houve? – perguntou alarmado.
- O bebê! – respondeu Julia, olhando para Rafael com os olhos arregalados, demonstrando sua preocupação. – Ele está nascendo.
- Mas ainda não está na hora! Ai meu Deus!!!
Rafael tenta leva-la o mais rápido possível até seu aquamóvel para leva-la ao hospital mais próximo. Ele vinha se programando para levar Julia ao hospital uma semana antes da data prevista para o nascimento, mas essa data chegou com um mês de antecedência.
Quando chegaram no hospital, Julia foi levada imediatamente para sala de emergências. Rafael tentou acompanha-la, mas foi impedido por um dos médicos.
Por fim, Rafael foi obrigado a esperar do lado de fora da sala.
Não demorou muito tempo e ele viu Julia sendo levada para outra sala. Rafael os seguiu e dessa vez não foi impedido por ninguém, e foi quando ele percebeu para onde estavam indo; para a sala de cirurgias.
- O que está acontecendo? – perguntou para um dos médicos enquanto faziam o trajeto até a sala. – Julia vai ficar bem?
- Faremos o possível, senhor, mas não temos certeza. – respondeu o médico. – Infelizmente sua esposa já perdeu muito sangue e tememos que ela não resista à operação. Não podemos garantir nada, mas faremos o que estiver ao nosso alcance para salvar pelo menos um dos dois. Há uma grande possibilidade de apenas o bebê sobreviver.
Um choque percorreu todo o corpo de Rafael, fazendo parar seu percurso por alguns instantes até voltar a caminhar novamente.
Sem saber mais o que falar, e ainda muito chocado com o que acabara de ouvir, Rafael ficou em silêncio, apenas torcendo para que tudo desse certo enquanto olhava preocupado para a esposa desacordada.
Um longo tempo se passou até que finalmente a cirurgia chegou ao fim. De repente, a sala é invadida pelo lindo choro do bebê que acabara de nascer. Ao mesmo tempo, uma enorme alegria toma conta de Rafael, que chorou ao ver seu pequeno filhinho ali, na sua frente, sendo colocado nos braços de Julia que ainda vivia.
- É um menino. – disse o médico enquanto colocava o bebê nos braços de Julia. – Já escolheram o nome?
- Já sim. – respondeu ela. – O nome dele será Kai. Kai Weber.
Ela olhou para Rafael, que retribuía o olhar com um sorriso e os olhos cheios de emoção e felicidade.
- É um lindo nome. – disse uma das enfermeiras.
De repente, os olhos de Julia pareceram distantes, ao mesmo tempo que o monitor cardíaco começou a apitar continuamente dentro da sala.
Ainda sem entender direito o que estava acontecendo, Rafael imediatamente foi conduzido por um dos enfermeiros para fora da sala e só então a ficha cai.
Um imenso desespero toma conta dele e ele começa a gritar e chorar ao mesmo tempo, chamando o nome da esposa enquanto observava todo o seu corpo estremecendo em resposta aos choques emitidos pelo desfibrilador em seu peito.
Enquanto Rafael gritava e chorava desesperadamente, ele observava aquela cena do lado de fora da sala, através de uma janela de vidro que o impedia de ouvir qualquer som emitido de dentro daquele quarto.
Ele só teve tempo de ver o filho sendo levando por um dos médicos e colocado em uma incubadora e quando se virou novamente na direção da cama de Julia, viu os médicos afastando os aparelhos de sua esposa, enquanto um deles o encarava e fazia sinal negativo com a cabeça enquanto tirava suas luvas de borracha das mãos. Julia havia morrido.
Rafael não pensou em mais nada, apenas se deixou levar por aquele forte sentimento de dor. Levou as mãos ao rosto e com as costas na parece foi escorregando até o chão, onde encolheu suas pernas, abraçando-as, e então chorou penosamente até seus olhos não aguentarem mais.

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Aquária
FantasiEfeito Estufa. A Terra vinha sofrendo com ele a vários anos e mesmo com as pistas que o planeta vinha dando de que isso traria prejuízos no futuro, a população mundial simples fechou os olhos e ouvidos para o problema, e com o tempo, o problema só f...