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Era uma manhã iluminada de sábado, pelo menos para os padrões aquarianos. Kai acordou cedinho para se preparar para a sua aventura, até então mais maluca e perigosa. Normalmente as explorações mais próximas que Kai já havia feito, tinham chegado no máximo aos recifes de corais à vários metros da superfície, e mesmo assim isso já era considerado muito perigoso para os aquarianos, embora não fosse proibido.

A maioria das pessoas só passavam por esses recifes protegidas em seus aquamóveis, e isso apenas em ocasiões bem específicas, como em uma comemoração de aniversário de alguma criança ou adolescente curioso. Kai por outro lado, saía de seu aquamóvel e vestia sua roupa de mergulho para chegar bem perto dos corais e senti-los com as próprias mãos.

Como cresceu ouvindo histórias sobre as belezas naturais das costas litorâneas ao redor do mundo, das várias cidades tropicais que seu avô visitava, Kai ficava a cada aniversário mais encantado por elas.

Quando o avô morreu, ele se sentiu na obrigação de aprender ainda mais sobre a Terra e suas belezas, na intenção de manter a memória do avô viva.

Com o passar dos anos, conforme Kai ia se familiarizando com os recifes de corais que costumava visitar, ele passou a levar apenas seu respiradouro, exibindo sem nenhuma cerimônia seus músculos definidos e sua tão suada barriga de tanquinho, que era seu maior trunfo com as garotas.

Em uma piscina em alguma das cúpulas de Aquária, isso com certeza lhe traria os olhares de várias garotas que passassem no local – o que sempre acontecia nas suas idas ao parque, quando tomava banho no lago sintético do local – mas ali, ali era só ele e a natureza, e isso lhe deixava mais feliz que qualquer olhar ou suspiro feminino.

Por mais que Kai gostasse da atenção das garotas e de, volta e meia, flertar com algumas delas, Kai nunca se sentia completo quando estava com elas. Ele as beijava, vivia o momento, ao ponto de quase chegar no momento X daquele encontro, porém, ele nunca foi até o fim. Era como se algo o prendesse, como se de uma hora para a outra a garota com a qual ele se relacionava naquele momento simplesmente deixasse de ser interessante e ai ele simplesmente se afastava, deixando um certo clima estranho entre ele e a garota, o que na maioria das vezes, a fazia lhe perguntar se havia outra garota no jogo, mas Kai, apenas balançava a cabeça negativamente, e então a beijava novamente e logo em seguida se despedia.

No início, isso lhe causou alguns probleminhas sociais, mas com o tempo, ele aprendeu a lidar consigo mesmo e passou a tomar conta da situação. Agora, ele é o desejo da maioria das garotas da sua escola e nenhuma delas sequer imagina que ele ainda está se guardando para a garota certa. Algo que é considerado raro – ou mesmo inexistente – desde os tempos em que a humanidade habitava na superfície terrestre.

Logo que terminou seu café da manhã, Kai pega seu equipamento de mergulho e suas chaves e segue para a garagem. Era hora de seguir com sua programação.

Ele liga seu aquamóvel e flutua suavemente até uma das saídas de sua cúpula, a A23, nome dado a sua cúpula por ser a vigésima terceira cidade do Atlântico.

Quando chega na saída da cúpula, os guardas nem ao menos pedem a identificação dele, pois já estavam bem acostumados a vê-lo por ali.

- Outra exploração, Kai? – pergunta Tulio, um dos porteiros que havia se tornado amigo de Kai.

- É sim. Quero procurar alguma coisa nova por aí.

- Acho difícil. Você já andou por praticamente todo o oceano!

Os outros dois guardam riram com o comentário de Tulio, fazendo Kai fazer o mesmo.

- Pois é, mas ainda falta esse "praticamente" ai da frase que eu ainda não explorei. – respondeu Kai dando uma piscadinha de olho para Tulio.

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