Kai ficou perplexo com o que via. A linda garota com calda o observava com um olhar de insegurança. Ela parecia estar no meio de um conflito interno, decidindo se fugiria ou permaneceria ali.
Os dois se encaravam; ambos imóveis. Por fim a linda garota loira se moveu. Mergulhou novamente no oceano e desapareceu como se nunca tivesse estado ali. Por um momento, ainda chocado com o recente acontecimento, Kai continuou parado, até que por fim se moveu, na esperança inútil de ainda encontrá-la.
- Espere! – gritou ele, correndo em direção à água. – Eu não vou machucá-la.
Instintivamente Kai mergulha na água e tenta ir em busca da garota, mas não consegue mais avistá-la. Ela havia desaparecido na imensidão azul do oceano.
Depois de alguns minutos procurando, subindo rapidamente até a superfície apenas para pegar ar, Kai desiste e retorna para praia decepcionado.
- Eu acho que no fim das contas esse lugar deve ser mesmo tóxico, porque eu definitivamente devo estar ficando maluco. – Disse ele para si mesmo enquanto saía da água, tentando se convencer de que o que tinha visto tinha sido apenas uma miragem ou coisa parecida, uma peça pregada pelo seu subconsciente. No fundo, porém, Kai sabia que não era.
-Sereias. – Continuou, mas ainda olhando para o oceano – Hm, até parece! Vou voltar ao trabalho que eu faço mais. – Concluiu ele por fim, pegando seus livros e materiais e seguindo em direção à floresta.
Antes de se embrenhar na mata, porém, Kai dá uma última olhada para o oceano, mas ela não estava ali.
Duas semanas se passaram desde o encontro de Kai com a sereia. Ele já estava se convencendo de que tudo não havia passado de uma ilusão causada pelos supostos gases tóxicos da superfície. Agora ele sempre levava máscara de proteção quando ia se aventurar pela ilha.
Porém, mesmo achando que o que tinha visto havia sido uma ilusão, Kai agora estava sendo mais cuidadoso quanto ao que tocar e muito mais com o que comer. Ilusão ou não, ele descobriu que o inseto que tinha visto naquele dia era uma aranha muito agressiva e perigosa, que continha um veneno potente que poderia matá-lo em poucas horas se ele não recebesse os devidos cuidados.
Ela era conhecida como Aranha Armadeira ou Aranha da Bananeira. O motivo era óbvio, ela fazia por merecer o nome que tinha. Escondia-se nas folhas e cachos das bananeiras e quando se sentia ameaçada, se armava numa posição de ataque e saltava rapidamente na direção dos inimigos, picando-os com suas presas afiadas sem a menor cerimônia.
Se não fosse a garota sereia – ou a velocidade com que Kai se desviou – ele provavelmente estaria morto, pois dificilmente ele encontraria um antídoto para o veneno nos hospitais de A23 ou de qualquer outra cúpula de Aquária, pois essa aranha, assim como vários outros animais e plantas que Kai já havia encontrando durante suas expedições na ilha, já eram considerados instintos a dezenas de anos, e com isso, antídotos para animais peçonhentos daquela época já não eram mais produzidos a anos.
Como o próprio Kai duvidava do que tinha visto, ele achou mais prudente guardar o suposto acontecimento apenas para si mesmo, não contando nem mesmo para seu melhor amigo Zack, que percebeu que Kai andava meio distraído e perguntou o que tinha acontecido.
- Eu to bem. – Respondeu Kai para o amigo. – Só to meio cansado esses dias. A expedição está dando muito trabalho.
- Kai, eu estou muito preocupado com essas suas viagens para você sabe onde. Sabe que isso é perigoso e o que pode acontecer a você se for pego. Porque não desiste dessa sua ideia maluca de provar que o Chefe Supremo está errado?
- Mentindo. – Corrigiu Kai. – E sim, eu sei o que pode acontecer, mas também sei que estou certo. Agora mais do que nunca. Durante essas semanas que estive lá em cima, nada de devastador aconteceu. As chuvas que caíram não passaram de uma chuvinha de verão, e as tempestades, não houve uma sequer. Se o clima estivesse tão ruim lá em cima quanto o Chefe Supremo está dizendo que está, eu no mínimo já teria visto alguma tempestade de raios ou coisa parecida, mas nada do que ele disse aconteceu, então eu digo: Tem alguma coisa de errado aí e eu vou descobrir o que é.
- Pode ser, mas você acha mesmo que se você descobrir alguma coisa as pessoas vão te ouvir?
- Não sei, mas se não me ouvirem pelo menos vão saber a verdade.
Zack beliscou o nariz e arrastou sua mão até o cabelo para arrumá-lo, suspirando forte em seguida.
- Kai, acorda! Mesmo que as pessoas acreditem em você, o que acha que vai mudar? Você acha mesmo que vai adiantar de alguma coisa? O que elas poderão fazer contra uma ordem direta do Chefe Supremo? Se rebelar?
- Talvez!
Zack balançou a cabeça antes de falar.
- O máximo que você vai conseguir com isso é acabar sendo preso, e se tiver sorte!
- Obrigado pelo apoio que vem me dando, Zack. Está ajudando muito. – Retrucou Kai. – Você está sendo um ótimo melhor amigo.
Zack suspirou novamente antes de se justificar.
- Eu sei que não estou te apoiando muito, cara. Mas eu só estou preocupado com você. Somos praticamente irmãos e eu não sei o que eu faria se te acontecesse alguma coisa.
Kai virou o rosto e olhou para cima, visualizando o brilho da superfície através do topo da cúpula. Por um momento ele não falou nada, até que finalmente se pronunciou.
- Está bem. Desculpa. Eu sei que você só está preocupado comigo, mas confia em mim. Eu não vou fazer nada precipitado. Eu sou teimoso quando quero descobrir alguma coisa, mas também sei ser paciente. Não vou fazer nada sem pensar. Eu prometo. – Kai coloca a mão sobre o ombro do amigo. – Fica tranquilo Zack.
- O.K. Eu vou tentar ser mais compreensivo. Mas você tem que me prometer que vai ter cuidado e que vai me contar tudo que acontecer de diferente lá em cima, pode ser?
Imediatamente Kai se lembrou da garota misteriosa, porém ele ainda não estava pronto para contar sobre ela para Zack, não sem antes ter certeza do que tinha visto. Do contrário, seu amigo poderia achar que ele estava ficando louco, e isso poderia complicar muito a situação de Kai, e ele não queria isso.
- Pode deixar – disse Kai tentando não parecer nervoso. –, lhe contarei qualquer coisa de estranho que acontecer por lá. – Kai dá um sorriso forçado.
Zack o observa desconfiado, levantando uma das sobrancelhas e cruzando os braços, porém não diz nada, apenas acena negativamente com a cabeça e dá um meio sorriso.
Segundos depois o sinal toca e ambos voltam para a aula. Kai sentindo um alívio enorme por finalmente encerrar o assunto.
Ele ainda não sabia, mas aquele seria seu últimodia de uma vida normal.

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Aquária
ФэнтезиEfeito Estufa. A Terra vinha sofrendo com ele a vários anos e mesmo com as pistas que o planeta vinha dando de que isso traria prejuízos no futuro, a população mundial simples fechou os olhos e ouvidos para o problema, e com o tempo, o problema só f...