O sol brilhava forte naquela tarde de primavera, tão forte que Daniel usou a mão para tentar cobrir os olhos enquanto caminhava preguiçosamente na direção da grande árvore que Clarice sempre escolhia para abrigar o piquenique. Não caminhava preguiçosamente apenas porque estava cansado de andar tanto para chegar à árvore que ela havia escolhido, mas porque gostava de apreciar a maneira como ela corria a sua frente, tão alegre que quase parecia flutuar sobre a grama.
- Ande logo, Dan! - Ela mandou daquele jeito que meio brigava e a outra metade brincava.
Ele escondeu o sorriso e apertou o passo para acompanhá-la. Mesmo andando mais rápido, ele fez questão de ficar alguns passos para trás, apenas para poder observar a brisa conversando com o tecido azul céu do vestido dela. Ela finalmente parou sob a sombra da árvore e esticou a toalha verde de piquenique na grama. Ele lhe entregou a cesta de vime recheada por sanduíches, torta e bolo, que ela mesma havia feito com a ajuda de sua mãe. E ela começou a espalhar os pratos do piquenique sobre a toalha, depois sentou e ele, como sempre, a seguiu.
Depois de tantos obstáculos, eles finalmente tinham um tempo a sós. Sem fugir, sem quebrar regras. Ele não costumava se importar com a opinião dos outros, mas para ela, era importante, então passava a ser importante para ele também.
O sol vazava por entre as folhas da árvore e iluminava cuidadosamente a garota na frente dele. A luz fazia o cabelo incrivelmente claro dela parecer ainda mais claro e brilhante, sua pele fina quase brilhava. Daniel tinha certeza que estava tudo em seu lugar, o sol iluminava os lugares certos e ela estava ali, tão perto que ele nem precisava se esticar muito para tocá-la.
- Está tudo perfeito, não está? - Ela sorriu com seus olhos azuis brilhantes.
- Sim. - Ele tocou o rosto da garota com delicadeza e exibia um sorriso muito manso para um homem tão grande.
- Você consegue imaginar o futuro, como eu? Quero dizer, agora que está tudo dando certo e nós podemos ficar juntos como queríamos...
- Sim. - Estava domado, disso não restavam dúvidas.
- E vamos comprar aquela casa amarela, daquele lado da cidade. Depois vamos-
- Eu te amo.
- O quê?
- Eu te amo, Clarice.
- Eu também te amo, Daniel. - Ela sussurrou com os olhos transbordando sentimento.
E eles avançaram, um na direção do outro, como eles rezavam para ser eternamente. Daniel tocou a bochecha ligeiramente rosada de Clarice. Depois de tantos obstáculos, tantos problemas, eles finalmente estavam juntos sem ter de esconder. Ela fechou os olhos sutilmente e ele se aproximou, podendo sentir a respiração dela em seu rosto.
Antes mesmo que ele pudesse tocar seus lábios suaves, um vento forte o parou. A sombra daquela árvore, que antes era o lugar em que tudo se acertou, agora engolia todo o parque. A sombra engoliu o sol e levou Clarice. Ele quase pôde senti-la escapar por entre seus dedos.
Clarice partiu mais uma vez e levou toda a luz consigo.
Tudo era escuridão.
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Para: Clarice
RomanceAssim que botou os olhos nela, repensou sua descrença no amor. Ouviu um compilado de músicas melosas em sua cabeça e todas elas começavam a fazer sentido. Existia, então, esse tal de amor. E tinha olhos azuis clarinhos. Foi só uma faísca, quando enc...