Drink Azul

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Cheguei cedo no primeiro dia de trabalho, o bar ainda estava fechado e havia até alguns poucos funcionários ajeitando os uniformes. Lembrei das instruções de Helena, dois dias antes, e guardei minha bolsa e minha jaqueta no quarto onde os funcionários podiam trocar de roupas e até fazer umas pausas. Eu tinha um armário pequeno com chave para guardar o que quisesse. Eu ainda estava mexendo no armário só para não parecer desocupada.

– Oi, garota nova. – Uma garçonete loira e bem bonita parou ao meu lado, com um sorriso bonito de boas-vindas.

– Oi. – Agradeci mentalmente por não precisar continuar fingindo estar ocupada.

– Eu sou a Ju, e você?

– Nanda. – Trocamos beijos no rosto porque quase ninguém aperta as mãos hoje em dia.

– Nome legal! Você vai gostar de trabalhar aqui. – Grudou seu braço no meu e saímos do quarto. – E vai se dar bem, também, você é bonita e...– Ela se perdeu totalmente no que falava, se concentrou em alguma coisa atrás de mim.

Tentei controlar a curiosidade, mas acabei olhando para trás também. Era ele, Daniel. Daniel entrou no bar com uma regata branca justa e o cabelo preso num coque de samurai, deixando uns fios escaparem. Estava vestido como os outros barmans e caminhou direto para o seu lugar, atrás do balcão do bar. Nat tinha razão, ele era um gato mesmo.

– Aquele ali é o Daniel. Não é o mais gato daqui, ele é todo fechadão, mas uma hora dessas eu levo ele pra casa. – E riu, riu alto. – Brincadeira! – Mas não parecia brincadeira, nem de longe.

Passei a noite toda evitando qualquer maneira de interação com Daniel. Eu me sentia intimidada e intrigada ao mesmo tempo, de todas as vezes que eu olhava fingindo não olhar, ele estava de cara fechada. Sorria simpático de vez em quando para alguma mulher jogando charme, mas voltava a olhar só para os drinks que fazia. Mas dentre todos os meus problemas, Daniel tinha cara de problema e eu não queria mais um.

Só quando todos os barmans estavam ocupados, precisei falar com ele.

– Preciso de uma caipirinha e um... drink azul. – Sem "oi" nem "por favor", que era pra poder acabar logo.

– Um drink azul? Que bela garçonete nós temos aqui! – Deu uma risada sarcásticas e virou, me deixando de cara para as costas dele.

Bem, acabou mais rápido do que pensei. Fiquei ali, parada e incrédula. Eu até podia ele achar ele bonito, os ombros largos naquela regata branca que só servia para mostrar os músculos que ele parecia sempre esconder sob a jaqueta de couro. Mas ele se afastou do balcão, destruindo qualquer esperança que eu tinha de que ele estivesse pegando meu pedido, e então eu decidi que não o achava bonito.

– Tá precisando de ajuda? – Outro barman se aproximou. Esse já era bonito só pelo sorriso simpático.

– Por favor! – Implorei. – Preciso de uma caipirinha e um drink azul.

– Drink azul? – E riu.

– Olha, foi o que a moça pediu, ok?

Riu mais uma vez, mostrando seus dentes muito brancos.

– Nós temos três tipos de drinks azuis.

Victor, era o nome. Tinha um black power que combinava perfeitamente com os dentes brancos, combinava com a pele negra e os olhões que tinham um tom de castanho quase chegando no mel. Explicou a diferença entre os três drinks e preparou os três para mim. Levei todos na bandeja e a moça da mesa gostou tanto da variedade que ficou com todos e me deixou uma gorjeta ótima.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora