Capítulo 16

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Eu não me lembrava exatamente como fui parar ali, jogado perto da porta do meu quarto, com a cabeça apoiada na parede e sem forças para levantar. Eu mal podia abrir os olhos e isso também não me interessava, eu só queria acabar tudo, mas não tinha forças nem para isso. Patético.

Eu ouvia barulhos, mas não sabia - e nem me preocupava - de onde vinham. Meu estômago doía, doía muito, mas a dor física era anestesiada pelo álcool. Senti uma lufada de ar e veio o frio, muito frio.

- Dan!

Uma voz, um cheiro diferente naquele lugar onde eu me encontrava semimorto. Senti seu toque no meu corpo, no meu rosto. De repente, eu tinha vontade de abrir os olhos apenas para vê-la, e eu a odiei por isso. Nanda continuava me chamando, mas eu não conseguia responder.

- Vai ficar tudo bem. - Ela prometeu e eu sabia que chorava.

Eu senti seu rosto no meu, seu lábios tentando me fazer voltar, o gosto das lágrimas salgadas. E só.

***

Acordei num quarto muito branco, com uma janela fechada me mostrando que já era noite. Ou ainda era noite. Deu tempo de observar algumas coisas antes de Samuel notar que eu estava acordado, como o lençol fino que cobria meu corpo, a ausência das minha roupas e uma agulha enfiada no meu braço.

- Dani!

- Oi.

- Como você está?

- Bem, sei lá.

- Você nos deu um susto, seu imbecil.

- Eu tô aqui desde quando?

- Tem três dias.

- Tudo isso?

Ele ia me responder, mas a porta do quarto foi aberta por uma enfermeira de meia idade, com Nanda e Rafaela logo atrás. Nanda pareceu ter levado choque ao me ver, abriu um sorriso espontâneo, mas fechou a cara em seguida. Rafaela apenas caminhou para o sofá pequeno e a enfermeira começou a checar o fio condutor do soro para o meu corpo. Nanda esperou a enfermeira se afastar e tomou o lugar dela, bem perto de mim.

- Como você está? - Tocou meu cabelo com a ponta dos dedos e começou a mexer devagar.

- Bem. - Ficamos em silêncio por um tempo - Nanda, eu... Obrigado. - Eu a olhava com admiração, mas me sentia sendo sugado pela profundidade daqueles olhos, que não eram grandes, mas eram tão... intensos.

***

Eu quase não reconheci meu apartamento ao entrar, com Sam atrás de mim. Estava limpo, arrumado e com uma brisa fresca entrando pela janela aberta, só havia estado daquele jeito uma vez, quando me mudei.

- Você diz que a Rafa não gosta de você, mas ela ajudou a arrumar aqui.

- Ela não gosta de mim. - Joguei meu peso no sofá e depois me arrependi da falta de delicadeza. Tudo doía. - É de você que ela gosta.

- Você sabe que não pode beber por um bom tempo, né? - Ele contornou a bancada da minha cozinha e deixou as sacolas que carregava espalhadas.

- Sam. - Eu o chamei e ele levantou os olhos das sacolas para mim - Eu sei que devia ter percebido antes, mas não percebi. Vocês estão apaixonados, né?

- Estou confuso, Dani, mais confuso que puta em convento! - Passou a mão nos cabelos, suspirando - Eu amo a Lívia, mas-

- Você não ama a Lívia. Você não pode amar a Lívia e a Rafaela ao mesmo tempo.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora