Katy Perry não.

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O clima parecia melhor entre os funcionários do bar, como se o episódio da não-festa de aniversário tivesse sido apagado. Victor fazia piadinhas para alegrar o clima desde a hora em que chegou. Todos os funcionários foram chegando aos poucos e, mesmo aqueles mal-humorados - como eu, depois de uma reunião de TCC e uma passada no estúdio onde fazia um ou outro trabalho fotográfico - pareciam mais leves depois de ver Victor com seu sorriso brilhante e um maravilhoso arsenal de piadas horríveis.

- Ai, Meu Deus! - Helena berrou passando pelas portas duplas que nos separavam da cozinha. Como sempre, ela atraiu todos os olhares. - Ok, preciso de alguém. Hm... Nanda! - Agitou as mãos até que eu estiveste realmente perto. - Eu esqueci que hoje era folga do Dan e deixei a chave do armário de bebidas com ele! - Ela respirou fundo. - Certo, preciso que você vá buscar, ok?

- Ok.

- Ah, maravilha.

Ela usou o pretexto de que eu era a pessoa mais próxima dele no corpo de funcionários. Pediu desculpas por não poder mandar Victor comigo, já que o endereço que ela passou não era exatamente no lugar mais seguro de São Paulo. Não que São Paulo seja seguro, mas era ainda pior. Helena ligou para Daniel e confirmou que ele estaria em casa, depois eu pude ir.

***

Depois de exatamente trinta minutos desde a ligação de Helena, mandei uma mensagem de texto para a Fernanda, que não respondeu. A não ser que ela estivesse perdida, ela devia estar perto, então desci as escadas e decidi esperar do lado de fora do prédio. A rua estava escura e todas as luzes dos postes pareciam ter desistido de brilhar, um ou outra, apenas piscava e deixava a rua mais amedrontadora.

A rua estava deserta, exceto por... Na esquina, havia um grupo de homens fazendo o que parecia ser um círculo. Eram os homens de sempre, que ficavam na esquina e controlavam o quarteirão da maneira que queriam, mas raramente ficavam tão perto, daquela maneira. E quando ficavam, era por um motivo.

Corri. Corri o mais rápido que pude, até ver que realmente faziam em um círculo fechado. Agarrei a parte de trás do colarinho de uma jaqueta grossa e verde, e então puxei com força, abrindo espaço naquele círculo. Todos me olharam surpresos, inclusive ela, o centro do círculo que disputava a posse de sua bolsa enquanto tentavam lhe tirar a jaqueta. Seu lábio tremeu e os olhos encheram. Os outros ainda me olhavam com cara de dúvida e o cara da jaqueta verde parecia irritado.

- Deixem ela em paz. - Eu me aproximei e a puxei delicadamente pelo braço, mas o cara que puxava sua bolsa não quis soltar. - Ouviu? - Falei baixo, mas ele levantou os olhos.

- Qual é, Daniel? Fica na tua, mano.

Eu me aproximei, falando ainda mais baixo:

- Não sou teu mano. Solta. – Mandei com os dentes cerrados e ele obedeceu.

Só depois de sentir o soco nas costas, eu entendi a obediência fácil demais. Não era um soco realmente forte, só me deixou irritado. Ouvi Fernanda reprimir um gritinho e percebi que eles voltaram a tentar toca-la. E isso me deixou mais irritado.

Segurei o braço dela mais forte e, com a outra mão, soquei um nariz aleatório. Depois mais um.

- É só uma garota, meu! - Ele usava a mão para esconder o sangue que escorria do nariz.

E eles se afastaram.

- Fica longe dela. - Mandei e a puxei para longe.

Ela fungava baixinho enquanto subíamos as escadas para o meu apartamento. Pensei em envolver seus ombros com o meu braço, mas hesitei e não fiz. Eu a guiei até o meu sofá e peguei o celular. Primeiro Samuel, depois Helena.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora