With Or Without You

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Eu estava ouvindo a minha música preferida – U2 é ótimo, né –, dentro do meu carro e dirigindo responsavelmente para o meu apartamento. Parece até o sonho adolescente da vida universitária, mas aí veio o sinal vermelho e eu parei. Porém o carro que vinha atrás – um grande carro, por sinal – não estava dirigindo, assim, tão responsavelmente.

Foi só uma batida pequena para o carrão, mas me fez colar a testa no volante do meu próprio carro e perder uma das melhores partes da música. Levantei os olhos e pude ver a fumaça saindo debaixo do capô e então eu parei para pensar sobre: porquê, exatamente, eu havia decidido que era uma boa ideia sair de casa naquela sexta-feira.


***


Mais ou menos uma hora antes

Bebi outro gole da cerveja e pousei a garrafa na mesa mais uma vez. Com os dedos na mesa de madeira do bar, eu podia sentir a música pulsar. Tentei contar quantos meses eu não ia ouvir música ao vivo no bar com as meninas. Era nosso bar preferido desde o primeiro ano e ficava bem perto da faculdade, o que atraía uma grande quantidade de universitários. Rafa torcia o pescoço na cadeira para ver melhor a banda que tocava essa noite. Até que a banda é boa, pensei tamborilando na mesa com os dedos.

– Ei! – Uma voz animada e talvez um pouco bêbada fez Rafa olhar para o outro lado da mesa. Natalie puxou a cadeira e sentou-se novamente em seu lugar, ajeitando a saia curta. Esticou o braço chamando pelo garçom. – Eu saio por cinco minutinhos e quando volto, Nanda está com cara de enterro de novo! – Percebeu o garçom que tinha cara de bobo ao olhar para ela e deu atenção para o pobre moço com os olhos perdidos na morena – Mais uma caipirinha e uma tequila, por favor. – Deu um belo sorriso de presente para o rapaz e ele foi, parecendo ainda mais bobo.

– Você vai beber os dois?

– A tequila é pra viúva, aqui. – Apontou para mim.

– Que viúva? Eu estou bem, Nat.

– Sim, estamos vendo. – Revirou os olhões pretos – Qual é, gata. É só uma noite sem o seu príncipe.

– Não é isso. – As duas me encararam. – Quando ele viajou, nós estávamos brigados. – Pensei por um segundo – De novo.

– Que novela, hein, amiga. – Resmungou enquanto pegava os copos da bandeja que o garçom-com-cara-de-bobo estendia.

Ela me estendeu o copo e eu suspirei antes de virar a tequila de uma vez. Nós não brigávamos sempre, mas quando acontecia, era tão difícil de resolver, tão cansativo. O motivo de não haver brigas frequentes existia porquê eu evitava os assuntos que tinham potencial para causar uma discussão. De qualquer forma, toda vez quando ele viajava para a casa dos pais sem resolver uma briga, por qualquer que fosse, fazia parecer que o problema era maior do que ele realmente era. Porém, ele tinha que ir cada vez mais para o Rio Grande do Sul, onde os pais moravam e onde ficava a sede da empresa de sua família. O pai estava mais velho e ele estava no fim do curso de Administração, mais próximo de assumir a empresa. E eu fugia dos convites para ir junto desde... Sempre.

– Vocês deviam tirar férias. – Rafa sugeriu depois de pensar um pouco com a garrafa de cerveja na mão. – Longe da faculdade e do trabalho, sabe.

– Não. Nada disso. – Nat agitou a cabeça. – Quem devia tirar férias é você. Tirar umas férias desse relacionamento.

– Nat! – Rafa brigou abafando o riso.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora