De novo

8 3 0
                                    

Antes que pudesse notar, meu punho já havia depositado um soco no maxilar do gordo bêbado. Ouvi Nanda gritar meu nome e mais uns gritos que eu não consegui distinguir. É claro que Leandro quis revidar. É claro que ganhou outro soco. É claro que o resto do bando partiu pra cima de mim.

Quando os seguranças do shopping apareceram correndo, um dos amigos do Leandro já havia sacado um canivete velho há uns segundos. Só quando os seguranças conseguiram me afastar do grupo, eu contei que eram seis. Nanda voou para mim, me segurou pelos ombros enquanto os seguranças mandavam ela se afastar. Ela me examinou um pouco, passou a mão no meu rosto e sujou de sangue. Só assim para eu saber que estava sangrando.

Passamos mais uma hora no shopping sob a ameaça de a Polícia ser contatada. Nanda segurava minha mão, mas não me olhava. Só quando entramos no carro, com ela no volante, eu a vi expressar algum sentimento e não era muito bom. Agarrou o volante com força, mas não ligou o carro, e chorou. Choro de raiva e eu não me atrevi a fazer nada, só olhei para o outro lado enquanto ela chorava o que tinha para chorar. Eu não queria não fazer nada, ficar ali ouvindo minha garota chorar, mas eu não sabia fazer mais nada. O máximo que fiz, quando já estávamos na frente do meu prédio, foi colocar minha mão em sua coxa, mas ela abriu a porta e saiu do carro.

Pela sua reação, eu acreditei que ela fosse embora, mas entrou no apartamento comigo e foi direto para a cozinha. Voltou com uma caixa branca e eu ainda estava parado na sala.

- Senta aí. - Não olhou para mim quando disse.

Sentei no sofá e ela puxou a mesinha de madeira do centro da sala para fazer de cadeira. Sentou de maneira que ficasse de frente para mim, olhando para o estrago no meu rosto. Encarei seu rosto, guardei seus detalhes e mergulhei em teus olhos, mas não veio resposta.

Ela encostou um pedaço de algodão no meu rosto de um jeito nada delicado, eu não sei o que tinha ali, mas ardeu e eu reclamei, afastei meu rosto de sua mão:

- Ei!

- Para com isso!

- Isso dói.

- É para doer, mesmo! - Esticou a mão com o algodão e voltou a encostar na maçã direita do meu rosto.

- Nanda! - Reclamei.

- Para de reclamar, droga! Isso não aconteceria se você não se enfiasse numa briga absurda! - Ela me encarou e eu não respondi. Quem cala, consente. - E eu só quero ajudar. - Olhava para o machucado no meu rosto muito concentrada.

- Eu não pedi sua ajuda.

Ela interrompeu o movimento que fazia para cuidar dos machucados no meu rosto e me encarou. Estava tão perto e me olhava com raiva.

- Ótimo. Dane-se.

Largou a caixa branca na mesinha que usava de cadeira e saiu do apartamento batendo a porta com força.

***

Clarice entrou no próprio quarto e me encontrou sentado no seu tapete cor-de-rosa. Trazia nas mãos a caixa de primeiros socorros de sua mãe, que não podia nem sonhar que eu estava ali. Ela usava uma saia comprida e uma regata branca; o cabelo, que quando cheguei estava solto, agora formava uma trança jogada sobre o ombro. Clarice ajoelhou ao meu lado e colocou a caixa branca entre nós.

- Desculpa. - Pedi.

- Outra briga, Dan? - Suspirou - De novo.

- Desculpa.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora