Prefiro a Marvel.

12 3 0
                                    

Eu não estava nada bem quando Daniel parou a moto em frente ao meu prédio. Já passava das 18h, o céu estava escuro e me lembrei que eu havia saído de casa sem café da manhã. Não sentia fome, mas sentia fraqueza.

Passamos horas sem dizer nada, na cachoeira, os dois quietos, as vezes chorando, as vezes não.

Ele parecia exausto quando tirou o capacete.

- Obrigada. - Levantou os olhos para mim, mas não parecia ter intenção de descer da moto. - Por me contar.

- Viaja comigo amanhã. - Ele falou depois de uns segundos me olhando.

- Oi?

- Para São Sebastião.

- A casa dos seus pais? - Perguntei e ele assentiu. Calculei meus motivos para não ir e, por fim, disse: - Que horas?

- Amanhã de manhã. Eu passo aqui e a gente vai. Podemos voltar na quinta, depois do almoço.

Ignorei todas as minhas responsabilidades de garçonete e aceitei. Ignorei até que eu precisaria de mala, que não ia caber no porta-capacete debaixo do banco da moto e aceitei. Ignorei tudo e aceitei.

Até que não era muito longe de moto, ainda mais naquela velocidade, mas, mesmo assim, chegamos exaustos. Eu estava reclamando há uns quarenta minutos, quando chegamos. Já estava começando a sentir falta do metrô de São Paulo.

Dan parou a moto perto do portão baixo de madeira bem cuidado. O portão que mais parecida cerca, envolvia um espaço enorme. Dava para ver a casa enorme, o jardim e até um parquinho ao lado da casa. Era uma casa alta, branca e muito grande, como a maioria das casas daquela rua de paralelepípedos.

Ele ainda pegava as mochilas enfiadas debaixo do banco da moto quando a porta da frente da casa se abriu exibindo uma senhora de avental. Ela sorria para o filho curvado sobre a moto, que quando olhou para ela, só soube sorrir. Senti aquele aperto no peito de saudade de mãe, mas quando ela olhou para mim, sorriu comovida, emocionada.

Atravessamos o portãozinho de mãos dadas, e na outra mão, Dan carregava três mochilas estourando.

Estávamos a alguns passos de distância ainda, quando ouvi um latido alto. Um cachorro grande e preto passou correndo ao lado da mãe de Daniel - quase a derrubou - e veio em nossa direção correndo desesperadamente. Um menininho apareceu ao lado da senhora, na porta, assustado.

Daniel gritou um "Não!" bastante dramático quando o cachorro pulou em cima de mim. Era grande, o cão. Grande, alegre e gostava de lamber visitantes. Ri bastante enquanto tentava controlar o animal, mas Daniel tirou-o de cima de mim.

- É lindo! - Acarinhei a cabeça do animal desesperado por carinho.

- É a Luna.

- Então é linda! Por que Luna?

- É toda preta e tem os olhos quase prateados, parece a lua no céu. - Foi a senhora que respondeu minha pergunta entregando a coleira da cadela para o menininho que segurava a saia de seu vestido. - E esse é Gabriel. - Apontou para o menino.

- Oi, eu sou a Nanda. - Estendi a mão para ele, que não pegou, mas me deu um sorriso.

- Eu sou Amélia. - Tomou minha mão ignorada pelo menino e eu a abracei. - Essa é a moça de quem me falou? Ela é linda mesmo, meu filho. - Atacou o filho num abraço cheio de beijos. - Eu estava com saudades. Vamos, entrem, vocês devem estar cansados! Vamos, Gabriel. - Falou tudo de uma vez, a senhora baixinha. Tomou a mão do menino e seguiu para dentro de casa.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora