Cadê o noivo?

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Cheguei cedo no bar com as pernas tremendo de medo e esperança, mas ela não estava lá. Enquanto eu ligava desesperadamente em seu celular, ela ligou para Helena e cancelou o contrato mesmo sem cumprir o aviso prévio. Davi colocou a mão no meu ombro como se quisesse me consolar, quando me contou.

E quando eu contei ao Sam, ele chorou comigo.

- Você devia ir atrás dela.

- Eu liguei, mas ela não atendeu. Mandei mensagem de texto, mas ela também não respondeu. A Rafa tem razão, Sam. Ela merece mais do que isso.

- E, por acaso, ela é um estepe pra você? Ela substitui a Clarice? Hein, Daniel?

- Não.

- Então a Rafaela não tem razão. Ela é cheia de achar que tem razão sempre, mas não tem. A Nanda nunca foi sua muleta e, se ela se sentiu assim, quem tem que dizer é a própria Nanda! Isso não é da conta da Rafaela. - Andava de um lado pro outro, na sala da própria casa.

- Você tá com raiva dela por causa disso ou por outra coisa?

- Ela é tão... prepotente! Sempre acha que sabe de tudo, não dá nem chance de ouvir outra possibilidade que exclua sua razão! - Tive a impressão de que ele não estava mais me ouvindo.

- Meu Deus, você tá tão apaixonado! - Ri um pouco.

- Não fode, Dani.

- Você já parou para pensar que vai se casar depois de amanhã e a mulher que você ama não vai estar no altar?

- Sabe, a Rafa tinha razão quando disse uma coisa.

- O quê?

- Vai pro inferno.


A igreja estava bem decorada, o buffet chegou na hora e tudo saía perfeito. Tinha um assessor muito chato que me colocava de um lado pro outro e cismou em arrumar minha gravata. Fui colocado no altar porque ele não tinha mais ideia de onde me manter, então fugi para o quarto onde os noivos podiam se arrumar. Lívia ainda não estava perto de chegar, então eu podia ficar um pouco com Sam. Acabei interrompendo um momento mãe e filho e quis sair, mas Marcia me puxou para dentro.

- Pode entrar, Dani. Eu só estava conversando com o seu amigo cabeça dura. - Nos colocou lado a lado e começou a arrumar minha gravata afrouxada por puro estilo. - Já disse para ele que está tudo bem cancelar tudo se não tiver certeza. Sei que Lívia vai entender. - Ela pensou por um instante. - Talvez não, mas o importante é ter certeza, meu filho.

Ela tinha a pele ainda mais morena que a dele, os olhos mel e cachos definidos que saltitavam ao seu redor enquanto andava. Agora, saltitavam modelando o rosto, mas quando a conheci, lá pelos meus dezessete, chegavam até a cintura.

- Tá tudo bem, mãe. A senhora tá me falando isso desde que acordei.

- Instinto, meu amor, instinto! Acho que você vai se sentir melhor com o Dani. Bom, estou lá onde aqueles malucos de terno me colocaram, tá? Qualquer coisa, pode me chamar que eu boto essa decoração toda a baixo e a gente sai daqui. - Deixou uma marca de batom e cada um e saiu.

Sam riu um pouco, olhando a mãe sair, depois olhou para mim e abriu os braços, exibindo o terno.

- Você sabe que ela tem razão, né?

- Hoje não, Dani, na moral. - Virou para o espelho da parede e ficou se observando.

- Cadê o noivo? - Um dos assessores nos achou e revirei os olhos dramaticamente para que ele percebesse. Sam o encarou. - Hm, bom... A fotógrafa chegou, o senhor vai querer fazer o making off?

- Não, obrigado.

O assessor saiu de mansinho enquanto eu sentia o estômago gelado de medo. Revirando e saltitando, mas gelado. A fotógrafa. Minha garota estava lá e não tinha como fugir dessa vez.

- Sam, olha aqui. - Segurei-o pelos ombros. - Ela chegou, a Rafa chegou. Corre, Sam! É com ela que você quer ficar e, mesmo que não queira casar com ela, nós dois sabemos que você não tem mais certeza sobre a Lívia. Vai casar e passar uns anos vivendo com alguém que você não quer, até tomar coragem pra se divorciar? Nós não temos tempo. - Sam tremeu e me abraçou.

Tínhamos os olhos cheios e as mãos trêmulas, como os irmãos que sempre fomos. Ele colocou as mãos no meu rosto, me fazendo olhar para ele:

- Nanda. - Falou com a voz trêmula.

Ele saiu correndo do quarto e eu fui atrás, numa velocidade menor. Não dava para ver nenhuma das duas na igreja, então ele voou para fora.

Bruno, ex-namorado da Nanda, estava lá, ele era convidado da Lívia. Sam o agarrou pelos braços e perguntou pela Rafa. Bruno apontou para a rua e Sam abriu a porta do próprio carro, pronto para ir atrás dela.

Ele não precisou entrar no carro, Rafa estava ali, na calçada, olhando para ele igualmente perdida, metida num vestido lilás fraquinho, nada a ver com a Rafa que eu conhecia. Ele a segurou pela mão e começou a falar, mas eu já não podia ouvir. Nanda se afastou devagarinho pra ninguém perceber. Ficou parada no primeiro degrau da igreja. Era minha vez, agora.

Segurei sua mão e ela me olhou sobressalta, não esperava, não tinha me visto ainda.

- Nanda, eu... - Suspirei. - Sinto muito pelo que aconteceu. Eu preciso dar um jeito nesses problemas, mas, Nanda... Eu amo você. Eu quero ficar com você. Por favor, perdoa.

Ela lentamente tirou a mão da minha, com uma espécie de receio e dava para ver em seus olhos castanhos que doía para ela também.

- Você nunca foi meu. Eu não posso mais ser sua. - Sua voz era cortante e parecia me roubar o ar. Ela olhou para baixo, para as sandálias.

Passei mais um segundo olhando para ela. A mulher mais linda daquela festa, que escondia lágrimas nos cantos dos olhos pequenos. Eu não podia ficar ali nem mais um segundo.

Entrei no carro de Samuel, que estava com a porta aberta e a chave no contato. E acelerei.

Para: ClariceOnde histórias criam vida. Descubra agora