Eu não tinha como tirar o carro do estacionamento porque estava fechado, então Daniel me levou para casa de moto. Ele chegou a sugerir que eu podia ficar, mas parecia extremamente desconfortável quando disse isso. Por milagre, Rafa estava acordada e sentada no sofá com o notebook no colo, quando entrei em casa.
Eu desabei no sofá, exigi que fechasse o notebook e vomitei tudo o que havia acontecido desde que saí do bar - exceto pelo clima estranho durante o jantar.
- Ai, Meu Deus. - Ela respirou fundo. - Calma, é muita coisa de uma vez. Tentaram atacar você? Por culpa do Bruno?!
- Não exatamente...
- Como "não"? Se ele deixasse de ser tão egoísta, você teria visto eles se aproximando. Poderia ter corrido, poderia ter ligado para a Polícia! E ele nem quis te ouvir, nossa, que babaca. - Bufou. - A Nat vai ficar louca quando souber.
- Muito louca, muito mesmo.
- E aquele cara bêbado que você carregou para cá não tem nem uma semana te salvou como um herói. Nossa, que avanço! Talvez ele mereça uns pontinhos de moral. - Colocou a mão no queixo, pensativa. Eu ri e depois suspirei. Uau, eu estava exausta.
- E o seu carro? Você vai voltar lá para pegar?
- Não, eu deixei as chaves com ele. Ele vai trazer.
- Você confia bastante nele.
- Parece que ele mereceu isso, né?
Pensei que eu podia pedir a Bruno. Em outra ocasião eu faria isso, mas, bem, ele apenas não queria conversar.
- Nanda... Meu instinto diz que esse cara é problema.
- Desde quando você ouve seu instinto?
- Bom argumento, mas é que os fatos também dizem que ele é problema. Então simplesmente não dá pra defender.
- O Samuel me falou que-
- Eu sei, ele está de luto.
- Ele te contou? - Ela balançou a cabeça, mostrando que sim. - Mas eu tive de brigar com ele pra me contar e ele te contou numa boa?
- Quase isso. Naquela festa frustrada, eu falei que ele parecia ser problema e nós conversamos sobre ele.
- Você e o Samuel?
- Sim, ué.
- E você não me contou?
- Supera isso, Nanda. - Ela suspirou como se estivesse cansada. - Nós somos amigos, ué.
- Desde quando?
- Desde... sei lá, Nanda. - Ela abriu o notebook de novo, fugindo de mim.
- Hm.
- Oi?
- Nada.
- Fernanda.
- Nada, Rafa. Vocês ficaram amigos, sei lá... Tão rápido.
- É bom ter amigos, não é?
- Sim, mas por que você tá na defensiva?
- Não tô na defensiva! - Ela berrou e eu acabei rindo.
- É, percebi. - Ri mais e ela jogou a almofada em que estava apoiada em mim.
***
Quase uma semana depois, eu pude ver de perto a amizade de Rafa com Samuel - que para ela era só "Sam". Ele foi o primeiro a chegar, um pouco adianto, às 18h54, no apartamento. Dediquei toda minha noite de folga do bar a um jantar entre amigos. Quase meia hora depois, Nat e Lívia chegaram e ajudaram a arrumar a mesa.
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Para: Clarice
RomanceAssim que botou os olhos nela, repensou sua descrença no amor. Ouviu um compilado de músicas melosas em sua cabeça e todas elas começavam a fazer sentido. Existia, então, esse tal de amor. E tinha olhos azuis clarinhos. Foi só uma faísca, quando enc...