XI.

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Maria Cristina não se lembrava da ultima vez que tinha usado um vestido de luto.

Eles eram mais pesados, mais quentes ─ graças ao pano escuro ─ e mais difíceis de vestir. Normalmente eram também usados com grandes e pesados casacos, pretos, representando a morte, e isso originava a obrigatoriedade em suar espartilhos. Na maioria das vezes, ela nem ao menos se sentia desconfortável graças ao corpo magro, mas naquele dia, quando as nuvens resolveram surgir e ninguém andava pelos corredores fazendo muito barulho, ela respirou fundo e prendeu o ar enquanto a criada amarrava a peça de roupa.

─ Tudo bem, alteza? ─ a princesa tinha reparado na aparência da mulher, ela era mais velha em relação as outras, assim como mais ágil por ser mais experiente no assunto.

A garota balançou a cabeça, tentando fazer com que a mulher acreditasse que estava tudo bem.

─ Você é forte. ─ ela comentou, abotoando a parte de trás do vestido, fazendo com que ela passasse a mão rapidamente pela longa saia. Suzana usava um vestido parecido na noite anterior, ela conseguia se lembrar. Mas a renda do vestido da garota tinha um certo brilho, diferente daquele que ela usava e tinha certeza de que todos os outros usariam. ─ Vai querer usar sua coroa? Podemos fazer um penteado...

─ Está tudo bem. ─ Maria Cristina afirmou, olhando para ela, tentando manter o olhar cauteloso e piedoso. ─ Acho que não é necessário tamanha seriedade, todos aqui dentro tem a sua coroa, não é mesmo? ─ a mulher concordou, abaixando a cabeça, fazendo uma demorada reverência. A princesa sorriu, agradecida. ─ Agradeço pela ajuda, madame. Mas acho que alguém deve precisar mais dela.

─ Como quiser. ─ ela respondeu, mostrando um sorriso meigo, fechando a porta atrás de si.

A garota se aproximou da janela, andando lentamente. Levaram apenas algumas horas até que guardas levassem o corpo de Kris, o cremassem na cidade mais próxima, o trouxessem de volta. Maria Cristina não fazia questão de saber como a embaixada americana tinha chegado ao castelo, tão rápido daquela maneira. Mas ela já conseguia ver os carros escuros estacionados no jardim.

O casaco escuro e pesado estava pendurado no encosto de uma das cadeiras do quarto. A garota o colocou sobre os ombros e respirou fundo. Sabia que sua parte naquele momento de dor era somente uma maneira de mostrar seriedade e piedade aos pais da garota. Ela sabia que quem sofreria mais com isso eram as pessoas que estavam responsáveis por proteger a vida de Kris, não ela.


─ Já lhes disse, Suzana tem de ficar em repouso absoluto, por dois dias. ─ Luke comentou, com a mão em frente ao rosto, sentado na cadeira onde Suzana costumava se sentar. Ele nunca tinha visto tantas pessoas dentro da biblioteca do terceiro andar, como tinha naquele momento.

─ Minha irmã entrou em repouso absoluto, pelo resto da vida. Quero explicações, vocês me devem explicações. ─ o garoto encarou o olhar escuro daquele que seria o mais novo rei dos Estados Unidos. Peter era o adolescente mais descontrolado que Luke já tinha visto em toda a sua vida.

─ Por favor, você é um adolescente, não faz nem ideia de como lidar com a própria puberdade, quem me dirá lidar com a responsabilidade da vida da própria irmã quem me dirá com um país inteiro! Quando eu digo que Suzana arriscou a própria vida para salvá-la, não estou mentindo.

Luke bateu as mãos sobre a mesa, com força. Fazendo com que o garoto de cabelos castanhos como os da irmã desse dois passos para trás, assustado. Ele sabia muito bem o temperamento de Peter, segundo na herança da coroa americana. Era o mesmo que o da irmã. Mimado e inconsciente. Depois dos erros criava alguma instituição de caridade, fazendo com que o país voltasse a amá-lo. Ele tinha dezesseis anos mas Luke sabia muito bem de que ele não estava lamentando a morte da irmã, mas sim a responsabilidade que teria de assumir no lugar dela.

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