Capítulo 34

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Pego minha mochila e meu celular em cima da mesa.

- Vamos logo. - eu digo.

- O que aquele tabuleiro está fazendo ali em cima? Você tava jogando? - ela pergunta já sabendo a resposta.

- Depois a gente conversa. - digo puxando ela pra fora.

- Essa menina está te corrompendo. - ela diz apontando o dedo na cara da Kate.

- Você sabe que ela não tem nada a ver com isso. - digo.

- Claro, foi ela que te apresentou esse jogo do demônio. - ela diz.

- Que eu saiba você namorou o próprio. - digo.

- Você não sabe de nada. - ela diz.

- Vamos logo. A Kate não tem nada a ver com isso. - digo.

Vamos pro carro, em um silêncio massacrante.

Minha mãe não entende. Eu achava que ela entendia, mas acabo de perceber que ela não me entende.

Essas coisas que estão acontecendo comigo, está acabando comigo. Eu to assustada, não durmo direito à noite e venho tendo pesadelos.

Eu sinto uma sensação estranha, de que eu nunca estou sozinha, de que tem alguém me observando, sei lá.

Eu só queria saber por que isso ta acontecendo comigo, pensei que essa história da minha mãe, já estava morta e enterrada. Pelo visto eu estava errada.

- Você não aprende? - minha mãe pergunta.

Permaneço quieta, sem dizer nenhuma palavra.

- Está se comportando como uma criança. - ela diz.

- Eu? Estou me comportando como uma criança? - pergunto sarcástica.

- Você diz como se a culpa fosse toda minha. - ela reclama.

- Talvez seja. - digo.

- Não repita isso. - ela pede.

- Eu sinto que você não me contou tudo. - digo.

- Mas eu contei, contei até mais do que devia. - ela explica.

- Só que nada faz sentido pra mim. O que eu tenho a ver com isso? Por que essas coisas estão acontecendo comigo e não com você? - pergunto.

- Talvez seja por que você é minha filha. - ela diz.

- Sou sua filha, não do Drake. - digo. - Que eu saiba, ele é o culpado disso tudo.

- Não fale assim dele. - ela grita.

- Agora vai defender elezinho? - ironizo.

- Não estou defendendo. - ela nega.

- Já ta tarde, eu estou com sono, eu quero apenas deitar em minha cama. - digo.

- Vamos tentar esquecer isso. - ela pede.

- Não podemos esquecer isso e você sabe disso. - digo olhando em seus olhos.

- Podemos sim, e vamos. - ela diz.
- Você mais do que ninguém sabe, que o que está dizendo é mentira. Você sabe que essa coisa não vai nos deixar em paz. - lamento.

Finalmente chegamos em casa e antes de sair do carro dou uma última olhada pra ela.

- Só pensa nisso. - digo.

Entro em casa ignorando o olhar do meu pai. Meu irmão, ainda está no quarto e eu vou pro meu.

Tomo um banho, coloco meu pijama e vou dormir.

....

Acordo sem a ajuda do despertador e acho estranho. Hoje é segunda feira, dia de aula.

Levanto e a primeira coisa que faço é olhar no relógio. São 10:30h, eu perdi a hora.

Corro descendo as escadas e percebo que o Noah também não foi à aula hoje.

- Que bom que acordou. - meu pai diz.

- Não foi pro trabalho? - pergunto curiosa.

- Não. O padre Gordon vai vir aqui daqui a pouco e eu queria a família estivesse toda aqui. - ele diz.

- Padre?

- Sim, com essas coisas acontecendo com você eu quis chamar ele, e sua mãe concordou. - meu pai justifica.

Não digo nada, apenas o abraço grata pela iniciativa dele. Fico feliz de saber que ele se importou comigo dessa forma ao invés de me julgar como minha mãe fez.

Ele retribui o abraço e uma lágrima insiste em cair.

Finalmente recupero a voz e me sinto na obrigação de dizer alguma coisa.

- Obrigada! - digo.

Vou pra cozinha tomar meu café. Depois subo, tiro meu pijama e escovo meus dentes.

Desço e sento no sofá, esperando a visita do padre.

Depois de meia hora ele chega, meio atrasado.

- Olá, desculpe a demora. - ele diz.

- Sem problemas, padre Gordon. - meu pai diz.

- Vocês tem que aparecer mais na igreja. - o padre adverte.

- Não temos muito tempo. - minha mãe explica, o que é pura mentira.

- Sempre temos tempo pra Deus. - o padre diz deixando minha mãe sem graça.

- Então, por que me chamaram? - ele pergunta.

- Bem, pra abençoar a casa. Tem acontecido algumas coisas com a Carly. - meu pai tenta explicar.

O padre sai sai pela casa rezando e jogando água benta. Ele roda pela casa toda, sala, o quarto dos meus pais, do Noah e principalmente do meu, onde ele faz uma pausa.

- Por toda a casa, eu senti presença de dois espíritos. Um bom e um ruim, mas ambos tem sede de vingança e isso é muito ruim. - o padre explica e eu me arrepio.

- Padre, o que podemos fazer? - minha mãe pergunta preocupada.

- Acho que nada. Vocês deviam ter me chamado antes, aliás, acho que vocês usaram um canal, tipo uma ponte de ligação, que não tem mais volta. - o padre diz.
- Padre, minha filha andou jogando Ouija. - minha mãe confessa e o padre olha, perplexo.

- Então ta explicado. Isso muitas vezes pode até piorar as coisas. Não devia ter contatado nem esse, nem nenhum espírito. Quando você chama um, todos podem ouvir. - o padre explica.

- Padre Gordon, obrigado por vir. - meu pai diz.

- Sem problemas, qualquer coisa é só chamar. - o padre diz. - E apareçam mais na igreja. - ele completa.

O padre vai embora e minha mãe, claro já vem abrir a boca:

- Ta vendo o que os seus joguinhos com seus amigos fazem?

- Não vem com isso de novo. - digo.

- A culpa disso é sua. - minha mãe acusa.

- Não é minha, é sua, só sua! - grito apontando o dedo na cara dela.

Logo em seguida sinto meu rosto queimar em reflexo do tapa que ela me deu.

- Você está louca! - digo e vou pro meu quarto.

Meu pai e meu irmão ficam lá, olhando surpresos com a reação da minha mãe.

Me olho no espelho, vendo a marca vermelha que o tapa deixou e começo a chorar.

Como minha própria mãe pode me dar um tapa na cara?

O Apartamento 202/ #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora