Capítulo 13

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Acordo com o sol batendo no meu rosto. Me levanto e vou ao banheiro. Minha mãe esta na cozinha e está toda de preto, com um vestido que quase nunca vejo ela usar.

Não tenho fome, vou logo tomar um banho e colocar a minha roupa. Não sei o que usar e nem ligo de estar bem vestida.

Pensei em usar um vestido mas não tenho muitos e os que tenho não são muito "adequados".

- Mãe, o que devo usar? - pergunto.

- Preto. - ela diz.

- Eu sei mas o quê preto? - insisto.

- Vestido, saia, qualquer coisa. Pode colocar calça mas não acho uma boa ideia. - ela finalmente responde o que quero.

Lembro de uma saia de renda que tenho. Ela não é muito curta, acho que é um comprimento bom. Pego uma blusa preta de seda. Acho que vai ficar bom. Preferia ir de all star ou um coturno são mais confortáveis mas eu vou de saia e não vai ficar bom. Pego no meu salto alto mas acho muito pra um enterro.

Pego uma sapatilha emprestada da minha mãe. Acho que ela não vai se importar.

Fomos de táxi e minha mãe estava muito quieta, o que não é normal vindo dela.

- Mãe. - chamo.

- Oi. - ela finalmente diz.

- Tenho saudades. - digo.

- Eu também. - ela faz uma pausa. - Não tive nem tempo de dizer que o amava. - uma lágrima escorre em seu rosto.

Dou um abraço nela, como a tempo não dava. Fico observando de longe o caixão com o corpo do meu pai ali.

Fecho os olhos, chorando. Abro os olhos e vejo um garotinho sentado no caixão.

- Sai. Não pode ficar ai. - digo baixinho, quase rindo.

Ele balança a cabeça que não.

- É melhor tirar o menino dali. - alerto a um parente distante do meu lado.

- Que menino? - ele pergunta com olhos inchados de chorar.

Olho no caixão e ele continua ali, me olhando e rindo como se tivesse cara de palhaça.

Ele tem o rosto tão familiar. Deve ser alguém da família. Espera, olhos azuis e cabelo preto e o sorriso é o mesmo.

- Drake? - penso alto.

O rosto do garotinho muda de sorridente para triste e não sei por que. Ele aponta com o dedo atrás de mim e fico com medo de olhar.

- Lembra da Melanie? - minha mãe aparece atrás de mim.

- Claro. Quanto tempo. - dou um abraço nela.

Melanie é uma prima distante. A gente costumava brincar quando eramos pequenas, quando eramos felizes.

- Ta gostando de Seattle? - ela pergunta.

- Mais ou menos. - afirmo.

- Por que? - ela pausa. - Nem precisa responder. É por causa do seu pai,né.

- É. - minto.

Também por causa do meu pai, mas também por outras coisas, que ela não precisa saber, apesar da minha mãe provavelmente ter contado.

- Você podia aparecer mais. Tenho saudades suas. - ela diz.

- Sério? - nossa ela sente saudades minhas. - Pensei que nem lembraria de mim.

- Como ia esquecer de você. - ela olha pro meu braço. - Que mancha roxa é essa? - ela pergunta.

- Não foi nada. - minto.

O rosto dela muda de figura. .

- Eu sei como é triste perder o pai, mas você não pode se torturar. - ela diz.

- Não. Eu não fiz isso. Na verdade nem sei como fazer isso. - afirmo.

- Se você diz. - Ela olha pra mim.

- Gostei do all star. - digo.

Ela está de vestido e all star? Bem que eu queria. Se soubesse que ela também ia vir assim, teria coragem.

- Eu fiquei com medo de parecer ridícula com vestido e all star. Você não acha? - ela pergunta.

- Eu prefiro assim. Bem, faz mais o meu estilo. - digo sorrindo.

Ficamos ali conversando e até esqueço do garotinho no caixão. Olho e ele não ta mais lá, ainda bem.

- Sua mãe ta tão estranha. - ela comenta.

- Pensei que fosse coisa da minha cabeça. - digo.

- Será que é por causa do seu pai? - ela pergunta.

- Não. Ela tava assim antes. Está fria,né? - comento.

- Sim. Ela era tão faladeira. Até demais. - rimos.

- Estou começando a ficar preocupada.

Dei meu número pra Melanie e ela prometeu me ligar. Quem sabe marcar um dia pra se encontrar e recuperar o tempo perdido.

Fiquei pensando no que ela falou da minha mãe. Achei que era coisa minha, mas se ela também percebeu.

O Apartamento 202/ #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora