Prometi a mim mesma que hoje eu iria pra escola. Eu ando faltando muito e isso pode me afetar de alguma maneira. Não tenho vontade de ir a escola, não tenho vontade de sair de casa, não tenho vontade de fazer nada a não ser ficar no meu quarto. Mas sei que a vida não é assim e apesar de tudo eu tenho minhas responsabilidades.
As imagens do pesadelo ainda rodeiam a minha mente de uma forma que não consigo esquecer. Foi certamente o pesadelo mais real que tive, parecia que eu realmente estava vivendo aquilo.
Me arrumo pra ir pra escola, e vou sozinha de ônibus.Chego e encontro meu grupo e logo me junto a eles.
- Sumida! - Kate grita me abraçando.
- Eu nem faltei tanto. - digo em minha defesa.
- E aí, você tá bem? - Dylan pergunta.
- Você ainda pergunta? - digo.
Conto a eles toda a história, desde a depressão da minha mãe, a revelação do meu verdadeiro pai até o pesadelo de ontem. Eles me ouvem atentos e quando termino eles dão um suspiro.
- Eu não estou aguentando mais, isso é tortura. Eu já pensei até em me matar. - murmuro.
- Se matar? Você ta louca? - Kate diz.
- Acho que estou louca sim. - confesso.
- Carly, você tem que parar pra pensar que tem pessoas que te amam mais que tudo nessa vida, sua mãe está com depressão e você quer se matar? Você tem família, amigos pra você poder se abrir e nós estamos tentando te ajudar da melhor maneira possível. - Dylan discursa.
- Carly, você não pode se entregar dessa maneira, não pode desistir. - Kate diz.
- Eu sei. Mas vocês não sabem o quanto eu to sofrendo, eu... - me derramo em lágrimas.
- Não fica assim, nós estamos com você pro que der e vier, vai ficar tudo bem!! - Dylan diz e eu não sei se ele está sendo apenas gentil.
Apenas concordo com a cabeça e seguimos até a sala de aula. Entramos e assistimos as aulas normalmente e quando o sinal toca, prefiro ficar na sala, enquanto Dylan e Kate foram comprar o lanche na cantina.
Estou mexendo em meu celular, quando ouço o ranger da porta e logo olho a porta que agora está quase totalmente fechada.
Fazendo um pequeno barulho, ela fecha completamente. Levanto da minha carteira, que fica no fundo da sala, e vou em direção a porta.
A primeira coisa que faço é tentar abrir a porta, que está agora trancada, o que é praticamente um possível, já que a porta não tem tranca.
Bato na porta e grito socorro, mas parecem não me ouvir. Me viro de volta ao meu lugar e me surpreendo ao ver a minha carteira flutuar, literalmente.
Aquilo pra mim é coisa de outro mundo e eu estou muito assustada. Em um piscar de olhos a carteira vem em minha direção rapidamente e eu me abaixo fechando os olhos pra me proteger e não ver o que vai acontecer. Um barulho alto indica que a carteira bateu na parede e caiu no chão aos pedaços, me salvando por pouco.
- Ai meu Deus! - digo levando a mão a boca.
A porta se abre, revelando Kate e Dylan. Seus olhos me dizem que eles estão assustados.
- Carly, o que aconteceu aqui? - Dylan pergunta.
- Eu não sei. - digo completamente apavorada.
Pego minha mochila, arrumo minhas coisas e saio da sala. Vejo Dylan e Kate me seguirem.
- Carly, espera! - Kate grita.
Sem responder nada, apenas paro esperando que ela diga logo o quer.
- Está indo aonde? - ela pergunta curiosa.
- Pra casa. - digo.
- Não faça nada que vai se arrepender depois. - Kate aconselha.
Apenas concordo com a cabeça e vou seguindo o meu caminho até a portaria da escola. Não foi muito difícil passar pelo porteiro, invento uma dor de cabeça e ele me libera. Corro pra casa e logo chego.
Entro em casa, vou direto pro meu quarto e vasculho minhas gavetas. No fundo de uma delas, acho uma lâmina e sigo meu caminho até o banheiro.
Inicio um corte em um dos meus pulsos, na vertical mas logo tomo um susto ao ouvir a voz da minha mãe.
- O que você pensa que ta fazendo? - minha mãe pergunta, já no banheiro.
Logo atrás entra o meu o Jeff, desesperado.
- Vim o mais rápido que pude. - ele diz. - Que merda você está fazendo?
Olho o sangue no meu braço, que pinga na pia. O que eu acabei de fazer? Sinto uma pequena ardência no local, mas parece que meu corpo está anestesiado.
- Quem que o seu amigo Dylan me ligou, falando que você queria fazer isso. - meu pai diz.
Claro, o Dylan ligou pro meu pai. Mas como ele sabia que eu ia fazer isso?
- Me desculpa. - digo de cabeça baixa.
- Filha, não é assim que as coisas funcionam. - meu pai me consola.
- É uma idiota por fazer isso. Sabe disso não é? - minha mãe me diz e sai do banheiro.Meu pai me leva de volta pro meu quarto e faz um curativo em meu pulso.
Eu queria ter morrido, queria estar morta pra não sofrer mais. Eu sinto que já estou no inferno e que não há nada pior do que isso.
- Por que não deixou eu morrer? - pergunto ao meu pai, que passa um algodão em meu pulso pra limpar o sangue.
- Que tipo de pergunta é essa, Carly? Não estou te reconhecendo. - o Jeff diz.
- Também não estou me reconhecendo. - confesso.
- Por que você quis fazer isso? - ele pergunta.
- Pra evitar sofrer mais, quero morrer pra ir pro céu... Ou pro inferno, só não quero continuar aqui sofrendo dessa forma. - digo.
- Eu também estou sofrendo, sua mãe está sofrendo! Você não é a única, para de pensar como se você fosse a única. - meu pai grita.
- Se me der licença, vou ter mais um dos meus piores pesadelos. - digo me deitando na cama e me cobrindo com o lençol.
- Mais você nem almoçou. - meu pai diz.
- E nem quero. - digo já fechando os olhos.
Só percebo que meu o Jeff saiu do quarto, pois sinto o peso sobre a minha cama diminuir.
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O Apartamento 202/ #Wattys2016
TerrorBia e sua família muda para um apartamento comum, mas coisas estranhas começam a acontecer depois que Bia começa uma amizade com seu vizinho do apartamento 202.