- Pai. - digo com os olhos arregalados, sem acreditar.
Não meu pai Jeff, mas meu pai Drake está ali do meu lado. Lardo a faca de imediato e me afasto um pouco, ainda surpresa com a visita surreal.
Devo estar ficando louca, é impossível que seja ele mesmo ali. Afinal, ele está morto!
- Acho tão bonito você me chamar de pai. - ele diz.
Fecho os olhos murmurando pra mim mesmo que isso não é real, mas quando abro os olhos ele ainda está lá.
- Mesmo depois de ir a igreja e conversar com o padre você ainda teve coragem de tentar fazer isso de novo? - ele diz sentando na cama.
- Como você sabe? - pergunto assustada.
- Por que estou sempre do seu lado, você não percebe mas eu estou. - ele diz.
Ainda estou em pé, nem um pouco a vontade com a situação.
- Sabe, eu nunca fui de ir a igreja, mas... - ele diz mas eu o interrompo.
- Você era satanista. - cuspo.
- Isso não vem ao caso - ele diz - Eu fico muito feliz em saber que procurou a igreja. - ele diz.
- Claro, estou com medo. - digo.
Agora já estou mais a vontade e me sento ao seu lado na cama.
- Por que isso ta acontecendo com a gente? - pergunto.
- Eu confesso que a 16 anos atrás, achei que ao morrer tudo estava resolvido. Mas, aquele demônio que se dizia meu pai, descobriu que você é minha filha. - Drake diz alterando o tom de voz.
- Ele quer me matar? - pergunto.
- Exato. Eu tentei te ajudar mas, não tem como, a não ser que o espírito dele morra. - Ele explica.
- Se eu me matasse não seria mais fácil? - pergunto.
- Não pense uma coisa dessas. - ele diz.
- Pai. É tão estranho te chamar assim. - comento.
- Eu sei, é estranho chamar um cara de 18 anos de pai, pelo menos não tem raiva de mim. - ele diz.
- A um tempo atrás eu tinha. - confesso. - Eu queria saber como você ficaria se estivesse vivo, sabe, com seus 34 anos.
- Eu queria tanto te abraçar. - ele diz e eu faço, mas quando envolvo em seus braços, seu corpo some, da mesma forma que surgiu, do nada.
Dou um suspiro frustante e volto a me deito na cama. Não durmo a noite toda depois do que aconteceu.
Ainda não caiu a ficha e eu me sinto como se eu fosse louca. Eu vi o meu pai, conversei com ele, como pode isso?
O sol já bate no meu rosto quando me levanto e me arrumo pra ir pra escola. Desço as escadas e dou de cara com meu Jeff.
- Oi. - digo sem animação.
- Com quem estava conversando ontem? - ele perguntou.
- O quê? - pergunto me fazendo de burra.
- Não finja que não sabe, eu ouvi. Eu olhei na porta e olhava pra cama como se realmente tivesse alguém ali, depois sentou na cama e continuou falando. - Jeff explica.
- Se eu te contar você não vai acreditar então melhor deixar quieto. - digo.
- Diga agora. - ele insiste.
- Com meu pai. O Drake. - digo.
- Está louca? - ele pergunta.
- Sim. - digo saio de casa indo pra escola.
Eu sabia que ele não ia acreditar e por isso eu não ia falar, mas insistiu e eu não tinha nada pra inventar.
Chego na escola e encontro Kate.
- Hey. - digo e ela logo percebe minha presença.
- Eai, eu te mandei uma mensagem ontem, por que não respondeu? - ela perguntou.
- Tava ocupada. - invento uma desculpa.
- Eu pensei que tivesse acontecido alguma coisa, não faz mais isso. - ela diz.
- Cadê o Dylan? - pergunto inocentemente.
- Hmmmmmm. - ela diz e eu não entendo.
- Não é nada do que você ta pensando. - digo.
- Não? Eu nem pensei nada, era pra mim pensar alguma coisa? - ela brinca.
- Não, eu sei o que você tava pensando. - digo.
- Vocês são tão perfeitos juntos. - ela comenta.
- Quem são perfeitos? - Dylan aparece.
- Você e a Carly. - Kate diz.
- Não liga pro que ela diz, ela ta doida. - digo e Dylan a ignora.
Depois de assistir a aula, fomos pro intervalo e sentamos em uma das mesas do refeitório.
- Me explique por quê você não veio ontem! - Kate exige.
- Eu fui... Na igreja. - digo eles ficam boquiabertos.
- Mentira? - Kate zoa.
- Acredite se quiser. - digo.
- E você foi fazer o que la? - Dylan pergunta.
- Bem, eu fui conversar com o padre, ele disse que não há nada a se fazer mas me deu isso - digo tirando o terço do meu bolso. - e me disse pra não desistir e blá blá blá.
- Você contou a ele o que tentou fazer? - Kate pergunta.
- Sim, aliás... Eu tentei de novo e vocês não sabem o que aconteceu. - digo fazendo mistério.
- Depois de tudo que aconteceu não duvido nada que o tal do Drake tenha aparecido pra você. - Dylan comenta com um certo desdém.
- Fala sério? Como você sabe? - pergunto.
- Ta de k.o! Eu acertei? - Dylan se anima.
- Nós conversamos e ele me explicou tudo e eu tentei abraçar ele, mas ele sumiu no mesmo momento. Eu na hora até pensei que fosse um sonho, mas o Jeff me perguntou com quem eu tava falando ontem a noite e eu expliquei e ele não acreditou. Será que estou louca? - digo rápido e solto o ar que nem sabia que segurava.
- Eu acredito em você. - Dylan diz.
- Eu também. - Kate comenta.
- E se sua família não acredita em você ou te acha doida, nós podemos ser sua família. - Dylan discursa.
Dou um abraço neles, um abraço bem apertado. Eu confio neles mais do que tudo.
- Ai, eu amo tanto vocês. - digo e recebo um olhar malicioso de Kate, mas logo te envio um dedo do meio.
Depois de assistir todas as aulas, pego meu caminho pra casa e em frente da escola está um carro conhecido. O vidro se abaixa revelando Jeff. Que ótimo!
- Veio me pegar na escola, ta com medo que eu me jogue na frente do carro? - pergunto irônica.
- Mais ou menos isso... - ele responde.
- Não precisa, meu pai me convenceu a não fazer isso. - digo sorrindo.
- Sério? Que bom. - um sorriso brota no rosto dele. Nem sabe ele que foi o Drake que mudou minha cabeça.
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O Apartamento 202/ #Wattys2016
TerrorBia e sua família muda para um apartamento comum, mas coisas estranhas começam a acontecer depois que Bia começa uma amizade com seu vizinho do apartamento 202.