Sento em minha cama e coloco o tabuleiro em minha frente.
- Pai? Você está ai? - pergunto.
O tabuleiro forma a palavra: Não
Okay, se não foi ele que respondeu então quem foi?
- Então quem está ai? - resolvo perguntar.
"Não vai querer saber" ele diz.
- Vou sim, - digo. - quem está aí?
"Me chame de vovô ou demônio" entendo após juntar todas as letras.
Ai Meu Deus! Eu não devia ter feito isso. Não devia mesmo. Não tinha me passado pela minha cabeça o que o Padre Gordon disse: "Quando você chama um espírito todos os outros podem ouvir".
Ouço uma batida na porta e dou um pulo de susto. Escondo o tabuleiro em baixo da cama e vou atender a porta.
- Oi pai. - digo ao abrir a porta.
- Por que trancou a porta? - ele pergunta.
- Por nada, não posso ter um pouco de privacidade? - pergunto tentando disfarçar.
- Bem, é que depois do que você tentou fazer... - meu pai não completa a frase.
- Fica tranquilo, se você prefere assim, eu não tranco a porta. - digo.
Assim que meu pai sai de minha vista eu torno a trancar a porta e voltar ao meu jogo.
- Então, demônio! Sabia que eu não tenho medo de você? - pergunto mesmo sabendo que a verdade é outra. Tenho muito medo dele, muito mesmo.
"Se eu fosse você teria..." Ele responde.
- Ai que medo! - digo de deboche. - O que você vai fazer? Me matar?
O tabuleiro desta vez não se mexe e eu olho em volta do quarto.
- Vamos lá, Cadê você? - pergunto.
De repente o três livros que tenho em minha estante, inclusive uma Bíblia, caem no chão sem nenhuma explicação.
- Merda! - murmuro assustada.
Levanto e coloco os livros de volta na estante e me sento novamente na cama.
Olho pro Ouija em minha frente que tem o cursor parado no "Sim".
Logo me vem na cabeça a pergunta que tinha feito um pouco antes: O que você vai fazer? Me matar?
Nesse momento provavelmente não tenho sequer uma gota de sangue em meu rosto.
Em um piscar de olhos, o tabuleiro voa na janela e estilhaça o vidro.
Me mantenho encolhida na cama e dou um grito com o barulho e a quantidade de vidro caído no chão.
- Me deixa em paz!!! - grito.
Meu pai bate na porta e me chama com um tom de voz desesperado.
Levanto correndo pra abrir a porta mas a mesma não quer abrir. Olho pra janela e vejo uma coisa insana, algo que nunca nem se quer pensei que fosse possível acontecer.
Aproximadamente 10 pedaços de vidros, estavam virados flutuando com a sua ponta afiada apontada pra mim.
Meu coração se acelera e meu grito sai alto e estridente fazendo meu pai bater com mais força ainda na porta. A cena é rápida e ate um pouco dispersa, mas consigo ver os pedaços de vidro voando em minha direção.
Finalmente consigo abrir a porta e a logo em seguida a fecho, evitando ferir alguém ou até eu mesma.
Ainda com a porta fechada, consigo ouvir o impacto dos cacos de vidro contra a porta.
Depois do momento de desespero, dou um suspiro de alívio e vejo a minha vista escurecer cada vez mais.
...
Uma luz muito forte e incomoda impede meus olhos de se abrirem totalmente. Por um minuto chego a pensar se morri, mas logo minha vista clareia e posso ver Jeff sentado em uma poltrona, me olhando atentamente.
O lugar pra mim é desconhecido, as paredes são brancas e a poltrona e a cama que estou deitada são azuis, assim como o lençol que me cobre.
Olho em meu braço que está preso a uma pequena mangueira por onde o soro passa. Logo percebi que estou no hospital.
Assim que Jeff percebe que estou consciente, levanta da poltrona e vem em minha direção.
- O que eu tenho? - pergunto.
- Nada. - ele diz dando um pequeno sorriso. - Apenas desmaiou e eu achei melhor trazer você pra cá. Mas, você está apenas de repouso. - ele diz e meu corpo relaxa.
- Que bom! - digo. - A quanto tempo estou desacordada? - pergunto.
- Algumas horas. - ele diz.
Pequenos flashes do que aconteceu antes do meu desmaio rodeiam minha cabeça. As vezes eu queria só ter o poder de esquecer as coisas.
Sei que se eu contar o que vi naquele quarto, ninguém vai acreditar e isso é muito triste. Eu sei que parece loucura, mas eu vi com meus próprios olhos, aqueles pedaços de vidro, mirados em minha direção prestes a me matar.
Depois de algumas horas no soro o médico finalmente me libera. Quando saio do hospital já é noite mas não sei ao certo que horas são.
Logo chego em casa e minha mãe e o Noah estão na sala a minha espera.
Apesar de garantir que estou bem, meu pai insiste em me ajudar a ir pro quarto.
O Jeff abre a porta e eu corro os olhos pelo lugar. Ele olha atrás da porta tendo a imagem dos cacos de vidro cravados nela.
O quarto está uma completa bagunça e ele vê o Ouija jogado no chão. Ele me dá um olhar meio interrogativo mas acho que ele percebe que não quero falar sobre o assunto.
- Pai, não quero ficar aqui. - digo me referindo ao meu quarto.
- Mas por que? - ele pergunta.
- Não me sinto mais segura... - suspiro.
- Se sente melhor na sala? - ele pergunta e sem saber o que responder, apenas concordo com a cabeça.
Descemos as escadas e deito no sofá, que é confortável o bastante pra poder dormir.
O Jeff me dá um beijo na testa e sobe pra dormir. Fico ali, sozinha, naquela sala escura, iluminada apenas pela televisão que está ligada.
Levanto e coloco um filme. Não quero um filme de terror, apesar de sempre ter sido minha preferência. Escolho um filme de comédia, pra descontrair um pouco.
Acabo dormindo com mais facilidade do que imaginei, e quando dei por mim, já era de manhã.
Olho no relógio e vejo que são 10:00h. Levanto, faço minha higiene e desço pra tomar o café da manhã.
Todos estão dormindo, exceto o meu pai. Me sento na bancada da cozinha preparando um copo de Nescau.
- Eu vi que você jogou o Ouija. - ele diz quebrando o silêncio.
- Desculpa. - digo abaixando a cabeça.
- Não quero que você volte a fazer isso ta me ouvindo?
Apenas concordo com a cabeça.
- Aliás, quando sua mãe e seu irmão acordarem vamos queima-lo. - Jeff diz.
- Não é meu, é da Kate e ela nem sabe que eu peguei. - digo.
- Também não é uma coisa boa de se ter em casa. Estamos fazendo um favor a ela.
Meu pai sai da cozinha me deixando sozinha. Recebo uma mensagem e vou ver quem é.
É do Dylan...
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Apartamento 202/ #Wattys2016
HororBia e sua família muda para um apartamento comum, mas coisas estranhas começam a acontecer depois que Bia começa uma amizade com seu vizinho do apartamento 202.