Assim que destranco a porta, me deparo com um nada a minha frente, olho de um lado e do outro, mas tanto a porta do quarto dos meus pais, quanto o de Noah fechado.
Dou meia volta, já com suor escorrendo da minha testa, por tamanho nervosismo.
Antes que eu possa ao menos encostar na porta, a mesma se fecha brutalmente, fazendo um barulho estrondoso.
Sou um pulo pra trás, seguido de um grito com o susto que levo. Sons de batidas na porta cada vez mais altos começam a invadir a minha mente.
Eu grito desesperada, já chorando, em pé de frente a porta.
Vejo uma sombra muito medonha e que vem se aproximando cada vez mais de mim, me fazendo encolher no canto do quarto. Abraço minhas pernas, abaixo a cabeça chorando e rezando para que tudo tenha sido um sonho.
Logo ouço o meu pai me gritar, com seu tom de voz preocupado. Ele abre a porta com uma cara assustada.
- Carly, o que houve? - meu pai pergunta e vejo atrás dele o Noah.
Não tenho voz e nem forças pra explicar o que acabou de acontecer em meu quarto.
Meu pai vem em minha direção e se ajoelha ao meu lado, me acolhendo em seu abraço de pai.
- Estou cansada! - confesso entre soluços.
- Oh, filha. - é o que ele diz.
Meu pai me tira do chão e me leva até a cama e me promete só sair do quarto quando tiver certeza que eu voltei a dormir, e eu fico muito agradecida por isso.
No outro dia, acordo cansada, como se nem tivesse dormido direito. Vou ao banheiro e me olho no espelho, dando de cara com meu corpo cheio de hematomas. Tem os braços, cochas e até no pescoço.
Por toda a minha vida, esse com certeza está sendo o pior momento. Essas coisas acontecendo, minha mãe com depressão...
Eu já pensei em diversas coisas pra dar um fim nisso. Já pensei nas piores alternativas, já tive as piores ideias, mas sempre penso em minha família e desisto.
- Filha! - meu pai me chama, me despertando dos pensamentos.
- Já vou. - grito do banheiro.
Depois de alguns minutos saio do banheiro e encontro meu pai.
- Pai, eu não quero ir pra escola. - digo sincera.
- Mas você tem que ir. - meu pai tenta me convencer. - Você não pode ficar trancada nesse quarto.
- Só hoje! - peço.
- Só hoje. - ele concorda. - Aliás, Lucy vai vir aqui hoje.
Um pequeno sorriso brota no meu rosto ao receber a notícia.
Eu gosto muito da tia Lucy, ela é minha madrinha e irmã de consideração da minha mãe.
Desço pra tomar meu café da manhã mas não vejo a minha mãe, nem o Noah. O Noah eu sei que foi pra escola, mas cadê a minha mãe.
Lembro de olhar no quarto e quando vou ver ela está lá.
- Mãe, por que não desce? A tia Lucy vai vir. - digo.
- Não quero sair do quarto. - ela diz.
- Vamos, mãe. - peço.
- Não quero. - ela aumenta o tom de voz me fazendo dar um pequeno pulo.
- Ok. - digo e ouço a campainha tocar. - Já volto. - digo a minha mãe.
Corro descendo as escadas e abro a porta, já abraçando Lucy. Ela logo retribui o abraço e me dá um beijo na testa.
- Não sabe o quanto estou feliz em saber que está bem. - ela diz.
- Não estou. - confesso e percebo seus olhos lacrimejarem.
- E cadê a Bia? - ela pergunta.
- Ta no quarto, não quer sair por nada. - digo triste.
- Eu sinto tanto, eu sei que ela precisa de mim, eu sempre estive do lado dela, desde que ela se mudou pra Seattle, quando o pai dela morreu e até quando engravidou do Dra... Jeff. - minha tia diz e parece que ela disse algo de errado. Ela ia falar Drake, mas logo se corrigiu.
- Vamos subir. - digo subindo as escadas.
Assim que entro no quarto da minha mãe junto a Lucy, os olhos da minha mãe parecem brilhar ao ver a amiga.
- Bia! - tia Lucy diz sorrindo.
- Como é bom te ver. - minha mãe diz a abraçando.
Quero continuar ali, no quarto apreciando a amizade das duas, mas sei que elas tem muito o que conversar.
Vou até a sala e deito no sofá, olhando pro teto sem nada pra fazer.
Ouço o telefone tocar e fico meio insegura de atender depois do que aconteceu ontem. Com a cara e a coragem atendo.
- Alô. - digo com a voz embargada.
- Carly sua vaca, faltou a escola por que? - antes que eu responda, Kate completa - E por que você não atende o seu celular? - ela grita.
- Eu joguei meu celular na parede. - confesso.
- Por que menina? - Kate pergunta.
- Longa história. - digo.
- E por que você faltou a escola?
- Eu não quero ir pra escola, não quero sair de casa e minha mãe está com depressão. - explico.
- Poxa Carly, que tenso! - ela diz.
- Nem me fale, e eu estou me sentindo muito culpada. - confesso.
- Por que? - Kate pergunta.
- Por que nós discutimos e ficamos sem nos falar. - explico. - Mas vai ficar tudo bem... Na medida do possível.
- Ta bom, Kate. Agora eu tenho que ir, vê se vai pra escola amanhã! - Kate diz.
- Pode deixar! - digo e desligo.
Me viro pro lado e levo um susto ao encontrar a tia Lucy se aproximando.
- Ai tia, que susto. - digo levando a mão ao peito.
- Desculpa querida. - ela diz dando uma risadinha.
- Então... Quer alguma coisa, um suco, café? - pergunto.
- Não se preocupe, quero apenas falar com você. - ela diz.
- Sobre o que? - pergunto curiosa.
- Sobre sua mãe, mas sobre você também. - ela diz.- Estou curiosa. - confesso.
- Vou direto ao assunto. Sua mãe mentiu pra você, ela disse que te contou toda a história, mas ela omitiu alguns detalhes. - minha tia explica.
- Que detalhes?
- Bem, você é filha do Drake! - ela diz e eu congelo.
Não sei o que dizer depois dessa revelação. Como ela pode esconder isso de mim? Eu mereço saber quem é meu pai de verdade. Eu não sei o que sinto diante disso, meu pai verdadeiro é o Drake, que foi morto pela minha vó.
Quando percebo, meu rosto está molhado de lágrimas e estou soluçando.
- Por que ela escondeu isso de mim? - pergunto.
- Ela achava que ia te proteger assim. E ela te via tendo uma relação tão boa com o Jeff.
Jeff... Será que ele sabe disso? Ele pode achar que eu sou filha dele, que triste ele descobrir agora que não sou filha dele.
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O Apartamento 202/ #Wattys2016
HororBia e sua família muda para um apartamento comum, mas coisas estranhas começam a acontecer depois que Bia começa uma amizade com seu vizinho do apartamento 202.