UNCONDITIONALLY

30. Silêncio

Silêncio.

A luz do sol adentra e ilumina as paredes de madeira da casa pelo espaço de vidro do teto. O embrenhado de lençóis ainda úmidos colavam em nossos corpos e a essência de sua pele contra a minha corrompia o silencio puro, maculando-o com nossos suspiros rústicos e rudes da noite passada que ainda pairavam sobre nós dois.

Enquanto meus dedos se embrenham em meio aos fios embaraçados do cabelo de Harry, eu suspiro feliz olhando as nuvens passearem calmas. Meus olhos pesam pela noite desfalcada de uma boa parte de sono, minhas coxas doloridas assim como minhas costas.

Mas eu não me importo.

Lenta e sorrateiramente um sorriso grandioso reveste meus lábios em felicidade, as lembranças da noite anterior ocupando inteiramente meus pensamentos e ao fechar meus olhos, sou carregado para a madrugada. Tenho a sensação de de que se eu respirar fundo consigo sentir o cheiro do vinho, sentir cheiro forte e cortante da brisa salgada que o mar carrega em seu véu de ondas. 

Sinto a gostosa sensação de formigamento em minha pele ao lembrar do toque leve de Harry sobre ela, passeando calmamente sobre minha clavícula decorando cada vão.

Nos amamos pela primeira vez como um casal realmente casado, como duas pessoas famintas uma pela outra, pelos toques tênues e respiração rouca em meio a melodia das ondas e da tempestade.

Amei Harry nessa noite que se passou, e não só de alma, amei de corpo. Amei mais uma vez de uma forma inusitada qual nunca cogitei vivenciar. Amei em meio a tormenta e lençóis úmidos nos embrulhando. O amei com barulho após três anos de silêncio.

Eu amei Harry.

Perdido em mim mesmo em meio aos pensamentos e lembranças, quase não noto meu marido se apoiar sobre seus cotovelos para domar e tomar meus lábios para si. Meu corpo ao mesmo tempo que relaxa, incendeia com o simples toque e eu sorrio mais do que feliz.

- Temos mesmo que ir embora? - Harry murmura manhoso e rouco cortando o silencio.

Sorrio assistindo-o se deitar novamente nos travesseiros. Seus olhos verdes estão perdidos em algum lugar do meu rosto e eu sinto um sorriso suave iluminar meu rosto.

– Temos. – Respondi por fim, virando-me de lado para encarar seu rosto bonito, meus dedos quase que imediatamente coçam para se engalfinhar-se em seus cabelos, e sem conseguir e nem querer me conter, eu o faço. – Temos uma vida em N.Y, e querendo ou não, temos que voltar para ela. Você tem o seu trabalho na Styles Group e eu preciso começar meu estágio.

Ele sorriu lentamente para mim enquanto balança a cabeça em um gesto simples de entendimento e se aproximou, passando uma de seus braços por minha cintura, nossas peles desnudas se sobrecarregam com o toque e mais uma vez sinto meu corpo se incendiar de novo.

– Você tem razão, eu apenas não quero encarar as câmeras novamente.

– Eu também não, ainda mais agora. – Sussurrei dedilhando seu couro cabeludo.

Meus pensamentos vagam gradualmente mais uma vez, perdendo-se na possibilidade de que, assim que sairmos de Oahu, tudo voltar a ser como antes. Abomino a ideia de ter de amar Harry em silêncio mais uma vez.

– Hey... – Senti seus dedos deslizarem por minha bochecha, acordando-me de meus pensamentos. – Isso não vai acontecer.

– Isso o quê? – Pergunto confuso.

- Sei o que está pensando, cogita a hipótese de voltarmos a estaca zero, mas te garanto que não será como antes. 

Limitei-me a ficar em silêncio enquanto encarava sua face por poucos minutos.