22° capítulo

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22 - Sabe, eu acho que me lembro de você.

Kate se encontrava sentada em uma cadeira de balanço olhando as estrelas.

— Que merda em? — a voz de Derick ecoava em frente a ela. 

Usava uma calça jeans e um camisa de mangas, os olhos azuis cor de piscina  e um estereótipo não muito adequando. Um rosto corado pelo sol de todos os dias e um corpo consideravelmente normal.

— Essa é uma palavra que define a minha vida. — Kate cruzou as pernas na cadeira.  — Quantos anos você tem?  — perguntou olhando Derick se debruçar no pequeno muro da varanda.

— 23 anos de pura beleza e saúde.  — disse ironicamente arrancando um sorriso de Kate.  — Você é uma garota legal Kate, achei que fosse metidinha a menina da cidade grande.  — virou-se para ela.

— Estou bem longe de ser mimada. — deu um sorriso falso. — Eu sempre fui bem anti-social para ser sincera. Acho que sempre tive medo das pessoas.

 — Te entendo... — disse Derick pensativo. — Cresci nessa fazenda, cercado de vaca e cavalos, nunca tive amigos, a não ser que uma vaca conte. — Kate riu.

 — Vacas são melhores que pessoas, afinal.

 — Qualquer animal é melhor que qualquer pessoa.  — proferiu Derick deixando por um momento o silêncio tomar conta do lugar.  — O cara sumido é seu namorado?

 — Não... — respondeu sem graça. — Já foi um dia, tempos de menina.

 — Pelo visto ainda gosta dele.  — Derick a olhou de relance  — Sem querer me intrometer, nem nada.

 — Hm... Eu não sei mais o que sinto por nada e nem ninguém. Acho que ultimamente a minha vida tomou um rumo tão surreal que para mim é normal as pessoas entrarem e saírem dela. Talvez ele apenas tenha ido embora...

Derick pensou sobre o que tinha acabado de ouvir.

— Está com raiva da mamãe? — perguntou se arrependendo de proferir a sua mãe como '' mamãe. ''

— Não como eu achei que ficaria. — respondeu olhando para o nada a sua frente.  — Minha vida é confusa, talvez eu deva tentar deixar de entender.

— Você não se lembra de mim, não é?  — Kate o olhou confusa.  — Nos vimos poucas vezes mesmo, eu era um ano  mais velho que você. Você era uma graça corada. — sorrio

 — Desculpe... não lembro... — ficou levemente corada. 

 — Tudo bem, você era muito nova, não tem porquê se lembrar. 

O silêncio havia tomado conta novamente. Ambos olhavam o céu estrelado, um barulho de grilo era o único som audível no local.

 — Você trabalha com algo?  — perguntou Kate fazendo Derick olhar em sua direção. — Sim, costomizo velas.  — sorrio 

velas... velas... velas...

Kate sentiu uma pontada na cabeça.

— O que costuma fazer com velas? — perguntou meio distante.

— Sabe, eu faço desenhos, formas. Sou um artista de velas, cera.  — balançou a cabeça sorrindo. — Não é um trabalho muito comum, mas é o que gosto de fazer, mas fazer o que? Alguns tem sorte com gostos normais, outros nascem com talento diferentes. — sorrio nervosamente.

— Posso ver seus trabalhos?  

— Sério? — perguntou arqueando o lábio em um sorriso torto. — Claro! 

Kate andou devagar até a pequena casa um pouco mais distante da casa principal

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Kate andou devagar até a pequena casa um pouco mais distante da casa principal. Sentindo a grama seca em seus pés.

 — Fica muito longe? — perguntou acompanhando o homem a sua frente.

 — É Ali. — apontou para um pequeno casebre a sua frente.

Adentraram o local que cheirava a vela queimada e Kate sentiu um arrepio percorrer suas espinhas. Olhou algumas figuras em forma de cera estampando uma estante velha.

 — Uau...— pronunciou baixinho. — É incrível Derick!

— Obrigada. — lhe deu um largo sorriso. — Não trago quase ninguém aqui além dos familiares.  — Quando eu era mais novo me chamavam de estranho e anormal.

— A sociedade é bem complicada.  — o olhou com certo brilho nos olhos.  — Eu achei incrível, de verdade. — sorrio — Nunca se machucou?

 — Ah, sim. várias vezes. — virou o pé mostrando uma marca de queimadura acima do joelho.—Kate observou a queimadura no pé do homem. — Eu tenho outra, mas isso não vem ao caso. — tentou mudar de assunto.

— Eu posso ver? — perguntou Kate deixando o homem confuso. — Claro que não. Que idiota. Desculpe - me. — abaixou a cabeça envergonhada.

— Não, não é isso. — Derick segurou em sua mão e ambos se olharam nos olhos. — Eu só não esperava...

Derick se afastou um pouco e observou Kate abraçar os próprios braços.
Tirou devagar a camisa em que vestia mostrando todo o seu peito e seus braços. Kate involuntariamente pôs a mão na boca indicando a surpresa que se encontrava. O abdômen do homem totalmente deformado por queimaduras. Um largo raio escuro passeava do seu umbigo até suas costas. 

— Derick... Não precisava me mostrar... — disse totalmente vermelha.

— Tudo bem. — respondeu vestindo a blusa novamente  — Não me envergonho disso. — deu de ombros. — Aceita tomar um café?— Kate não se mexia e apenas continuava parada olhando o homem e cravando as unhas no braço. — Não faz isso. — Derick se aproximou soltando as mãos do  ombro da jovem.  — Eu estou bem, isso não dói, nem nada. Deu um tapa na própria barriga fazendo Kate relaxar mais um pouco.

— Eu sinto muito Derick. — disse lentamente.

— Um homem não deve se envergonhar de suas cicatrizes. Se tenho cicatrizes eu tenho histórias e se tenho histórias, tive os meus motivos.

Kate pensou sobre aquilo.

— Bom, tudo bem.

—Então, aceita tomar um café?  — perguntou Derick com um sorriso dançando nos lábios.

— Sim, claro que sim. — saíram do casebre e Kate deu uma última olhada no lugar,  a sensação estranha permanecia com ela. — Sabe,  eu acho que me lembro de você. 



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