17° capítulo

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17 - Amigas para sempre!

15 anos atrás...

O barulho da chuva se misturava com a bagunça em que as duas crianças faziam na sala. O cheiro forte de bolo de cenoura tornava o local ainda mais agradável.

— Mamãe, podemos brincar lá fora? — perguntou a pequena Kate em direção a bela mulher a sua frente.

— Não meu bem, está chovendo lá fora. Vocês poderão pegar um resfriado. — disse a mulher fitando os grandes olhos castanhos da menina.

Kate respirou fundo e voltou para o sofá onde sua amiga se encontrava.

— Ela não deixou — falou com tristeza na voz.

— Não tem problema. — disse sua pequena amiga segurando em suas mãos — Podemos brincar no seu quarto! — exclamou animadamente.

— Não acho uma boa ideia. O James está no quarto dele e faz uma bagunça e um baita barulho! — riu baixinho fazendo a amiga também rir.

— Então podemos assistir a um filme, que tal? — sugeriu a menina de olhos verdes em direção a Kate.

— Melhor não, a mamãe pode brigar... — reclamou Kate em um tom tristonho.

— Você é tão medrosa! — crispou a amiguinha balançando levemente a cabeça — você tem 8 anos, já é uma mocinha. — arrebitou o queixo para o alto e cruzou os braços. — A garota levantou do sofá pegando os pequenos braços de Kate com certa violência. — Olhe para mim Kate. — ordenou em um tom ríspido disfarçado em um pequeno sorriso. — Já tenho 10 anos e minha mãe me deixa fazer muita coisa.

virou-se de costas para Kate.

— Deixa? — perguntou a menina de olhos arregalados. — A minha mãe não me deixa fazer nada! — cruzou os braços. — Ela é tão chata!

— Por que não foge de casa? — sugeriu sua amiga com um largo sorriso no rosto. — Assim poderíamos brincar para sempre!

— Para sempre?! — Kate exclamou sorridente. — Melhores amigas para sempre? Promete?

— Claro que sim. — respondeu a pequena garota. — Para sempre.

Kate observou os olhos da sua amiga e pensou no que havia acabado de ouvir. Não gostava da implicância de seus pais, então por quê não fugir?

— Está bem! — falou um pouco alto demais e em seguida tapando a boca com as duas mãos.

— Quieta! Fala baixo! — crispou sua amiga. — Eles não podem saber! — Agora você sobe e arruma suas coisas na mochila. Não precisa muita coisa, tá? — disse olhando a pequena Kate nos olhos. — Agora vá, eu distraio a sua mãe enquanto você arruma suas coisas. — A pequena correu em direção as escadas— Ah, tome cuidado com o James, ele não pode te ver. — falou baixinho e obteve como resposta um aceno de cabeça.

Kate subiu levemente cada degrau que dava para o pequeno quarto em que dormia. Entrou no quarto fechando cuidadosamente a porta e pensou se realmente queria aquilo.

Ela não queria ficar longe de James, mas também não queria ficar com os pais chatos que tinha. Pegou uma pequena mochila rosa, com flores bordadas na alça e guardou desajeitadamente algumas roupas.

— Eu vou ter uma amiga para sempre! — disse segurando uma boneca de olhos azuis costurados e um sorriso torto no que parecia ser uma boca. — E claro que vou te levar comigo! — abraçou a boneca fortemente fazendo uma mecha de seu cabelo passear pelo rosto da boneca.

Olhou a chuva pela janela enquanto subia em um baú de brinquedos e torceu para que parece de chover logo.

Desceu rapidamente do baú ao ouvir um barulho de passos vindo em direção a porta. Guardou rapidamente a mochila e sentou-se na cama com ursos espalhados em cima.

— Kate? — uma voz masculina a chamou do outro lado da porta.

— James, pode entrar! — gritou a menina enquanto pulava de cima da cama.

O jovem James entrava no quarto com uma sobrancelha arqueada e um olhar travesso no rosto.

— O que estava fazendo mocinha? — perguntou, carregando a menina no colo.

— Não posso contar! — exclamou fazendo beicinho.

—  Ah, é? — James disse em um tom desafiador. — Então vou te dá um ataque de cócegas!

A menina se contorcia no colo do irmão dando gargalhadas altas.

— James, me larga! — reclamou, eu estou atrasada!

— Para que Kate? — perguntou um pouco mais sério

— Vou fugir de casa! — deixou escapar pondo a mão na boca. — Não conta a ela.

— A... — James ia dizendo, mas foi interrompido por uma figura um pouco maior que Kate.

— Oi James... — disse a menina sem graça. posso falar com a Kate rapidinho? — perguntou de uma forma doce.

— Não pode não, até me contar essa história de fugir de casa. — James cruzou os braços enquanto as duas meninas se encaravam

— Era só brincadeira nossa. — disse a menina envergonhada.

— Não era não! — exclamou Kate batendo o pé no chão enquanto cruzava os braços.

A garotinha de olhos verdes a fitava com desespero estampado nos olhos.

— Esquece! — disse a menina rispidamente. — Estou indo para casa!

Saiu da porta do quarto andando rapidamente enquanto a pequena Kate de vestido rosa corria em sua direção e deixando um James confuso para trás.

— Desculpa! — gritou descendo as escadas.

— Não confio em você. Era um segredo nosso! — gritou a menina.

— Eu sei, me desculpa... — pediu Kate baixinho. — Eu juro de dedinho não contar mais nada ak James. — cruzou os dedos em um sinal de uma cruz e o beijou.

— Não será necessário. — disse a menina empinando o nariz. — Não somos mais amigas.

Andou apressadamente até a porta de saída enquanto a pequena Kate corria a seu encontro.

— Espera, me desculpa! — implorou chorando.

— Não! Você é uma péssima amiga e será uma péssima pessoa e uma péssima mãe, ninguém vai querer andar com você porque ninguém gosta de você Kate! E além do mais eu só era sua amiga por pena. — disse a garota indiferente enquanto observava Kate aos prantos de cabeça baixa. — Cuidado para o James não te deixar também!

Revirou os olhos e bateu a porta que dava para a saída da casa. A pequena fitava o chão com lágrimas pingando ao seus pés. Enxugou as lágrimas com a palma da mão e subiu em direção ao seu quarto, vendo James sentado em sua cama lendo um gibi. Mesmo o irmão sendo 8 anos mais velhos agia como seu pai.

— Posso ficar sozinha? — perguntou baixinho enquanto James fechava o gibi.

— Não chore Kate. — o garoto correu em sua direção. — se ela te fez chorar, não era sua amiga. — levantou o pequeno queixo da pequena fazendo seus olhos castanhos se encontrarem com dele. — Estou aqui, nunca irei embora e te deixar, serei seu amigo para sempre! — tirou um pequeno sorriso dos lábios de Kate.

— Nunca, nunquinha vai me deixar sozinha? — perguntou
fazendo beicinho.

— Nunca maninha, mesmo que custe a minha vida eu nunca te deixarei.

James a abraçou com força enquanto a chuva acalentava o pequeno coração da menina e fazendo-a se sentir um pouquinho mais segura.



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