10 - A primeira tentativa.
Uma semana depois...
— Jake? — chamou Kate abrindo a porta do quarto de Josh. Desde o enterro, o homem vivia no quarto do irmão. — Você precisa comer algo...
— Não estou com fome. — disse com a voz rouca. — Estou bem Kate, só preciso de um tempo.
Kate sentou-se na cama ao lado do homem que segurava uma foto do irmão.
— Você não está bem... Sei como se sente.
— Sinto muito pelo seu irmão... — disse Jake — Ele nunca deu nenhuma notícia ?
Kate demorou um pouco para responder, sempre que falavam em James sua mente vagava por um passado distante. Lembrou do diário que não lia desde o acontecido com Josh.
— Não, nunca. — respirou pesadamente. — Não sei o que é pior, saber que alguém que você ama estar morto ou não saber onde esse alguém estar, se está bem ou não, morto ou não...
Jake a olhava com pesar. Havia perdido o irmão, mas teve um enterro para se despedir. Não sabia como seria caso nunca soubesse da verdade, apenas em pensar seu coração apertava.
— Nunca pensou em procura-lo?
— Sim... mas por onde eu começaria? Não tenho familiares próximos, meus pais sempre me mantiveram longe de todos.
— Como tudo aconteceu? — perguntou com cautela.
— Não gosto de falar sobre isso, sempre que lembro me sinto mal, me sinto culpada.
— Não foi culpa sua... — disse a abraçando.
— Como sabe? Nem te disse o que houve. — falou dando-lhe um meio sorriso.
— Não importa, lembro dos seus choros diários por causa do seus pais. Sei que não foi sua culpa.
Kate apertou sua mão firmemente.
— Obrigada por estar aqui... Quer dizer, não aqui na sua casa, mas comigo.
— Não sei o que teria feito se você não estivesse do meu lado, talvez eu tivesse cometido suicídio no mesmo dia. — Kate sentiu arrepios ao ouvir tal palavra, sua tentativa falha ainda voltava a atormenta-la. — Kate? — disse Jake trazendo a mulher de volta. — Tudo bem?
— Sabe quando você foi a primeira vez a minha porta? — o homem balançou a cabeça como resposta. — Uns dias atrás eu havia tentado... Eu estava desesperada e pra ser sincera eu ainda estou.
Jake assimilou aquelas palavras.
— Por anos tive medo que fizesse isso, era o que mais me atormentava toda noite. Eu nunca me perdoaria. — apertou mais ainda as mãos da mulher já deixando uma marca vermelha. — Mas por quê estava tão desesperada?
— Por tudo! Tudo me da medo. Todas as lembranças, as vezes me perco em mim mesma. Quando me olho no espelho vejo o reflexo de algo que não sou, como se eu fosse meu pior inimigo, entende? Existe uma guerra interna comigo mesma. — as lágrimas ameaçavam cair. — Eu tenho um transtorno. — disse finalmente criando coragem.
Jake não conseguiu esconder a surpresa, abriu um pouco a boca mostrando que não esperava ouvir aquilo ali e agora.
— Então por isso o doutor Clark?
— Ei! Como sabe dele? — perguntou tão surpresa quanto o homem a sua frente.
— Eu vi o nome dele em seu celular. — falou sem graça. — Desculpa, eu estava preocupado e você não me dizia nada.
Kate via a expressão de medo nos olhos do homem, sentia raiva por ter feito isso, mais acima de tudo se sentiu especial em saber a tamanha preocupação.
— Tudo bem, obrigada por se preocupar.
— Qual seu tipo de transtorno?
E assim Kate contou tudo. O dia da tentativa, da descoberta sobre seu transtorno Bordeline, a voz da mulher, o telefonema. Tudo que havia acontecido. Depois de alguns minutos de conversa Jake parecia temeroso em dizer qualquer coisa. Não entendia muito bem de medicina, mas sabia que qualquer tipo de transtorno era terrível.
— Kate, eu não fazia ideia de que poderia ser algo tão grave. Você não reconheceu a voz da mulher? E o telefonema tem certeza de que foi a voz de um homem?
— Sim... é tudo tão, tão confuso. — disse pesadamente. — Só queria tirar férias de mim mesma.
Jake beijou a sua testa.
— Vou te ajudar no que for preciso, em primeiro lugar você precisa conversar seriamente com seu psiquiatra, ele pode saber de algo, não é? E seu irmão... Nesse diário deve a ver uma pista ou algo do tipo...
— Não quero ler de uma vez, é a única coisa que tenho dele. Quando eu acabar eu não terei mais nada.
Jake tentava pensar em como ajudaria a mulher. Não tinha um começo ou por onde começar. Se sentiu inútil perante a situação, queria poder fazer mais, bem mais.
— Não se preocupe, nós daremos um jeito.
Depois de minutos em silêncio e as duas mentes pensando, Jake chega a uma conclusão.
— O telefone! — disse estalando os dedos.
— O que tem o telefone? — Kate arqueou a sobrancelha sem entender.
— A voz que ligou veio de algum local, o telefone pode identificar, não é? Você precisa ligar para a central de telefonia e eles lhe avisarão da onde foi o telefonema. Essa será a nossa primeira tentativa.
— Jake, isso é fantástico! — disse Kate dando um sobressalto. — Como não pensei nisso antes?
— Você é lerda. — respondeu em um tom forçado fazendo a mulher o olhar com um semblante de advertência. — To brincando. — disse rindo.— Podemos fazer isso depois? Agora tenho que empacotar essas caixas. — apontou para o amontoado de roupas no chão e as caixas ao lado.
— Tudo bem... O que fara com essas roupas? — perguntou Kate desconfiada.
— Irei doar para a igreja, são as roupas do Josh... Não adianta guarda-las aqui, ele não vai voltar...
— Essa é uma atitude muito linda Jake.
Kate não pôde evitar um sorriso estampar seu rosto, era uma atitude linda e não podia negar. Pegou as roupas dobradas e ajudou o homem a guarda-las nas caixas. Tirou do quarto também relógios e perfumes importados que Josh colecionava, venderia e doariam o dinheiro para alguma instituição. Achou as camisinhas variadas na gaveta ao lado cama.
— O que faço com isso? — disse Kate segurando uma caixa repleta de camisinhas.
Jake não pôde evitar rir, as lembranças boas e a mente poluída do irmão sempre estaria presente em sua vida. Nunca se esqueceria do sorriso cafajeste que o mesmo dava para cada mulher bonita que via ou da sua voz que apesar da idade era grossa como a de um homem mais velho. Nunca esqueceria dos olhos azuis que havia herdado do pai e o brilho que sempre habitava em seu rosto. Jake percebeu que Josh havia vivido o que muitos tem medo de viver, ele foi ele mesmo e nem sempre se tem coragem disso.
— Pode jogar fore E depois vamos comer algo, estou morrendo de fome.
Kate deu um sorriso de canto a canto, não podia evitar, Jake ainda mexia com ela e tinha a sensação de estar protegida ao lado dele, era seu amigo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desesperada
Детектив / ТриллерKate Sulivan é uma jovem de 22 anos que teve sua vida virada dos pés a cabeça após o assasinato do seus pais e o suposto sumiço do irmão mais velho, o que resultou em viver sozinha na casa á qual tudo aconteceu. Kate acaba desenvolvendo uma consequ...