A vida nova

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Lauren POV
Então Veronica havia realmente mudado e Camila não era exatamente a mesma pessoa que eu tinha em mente. Talvez Lucy realmente sempre esteve certa. Eu a havia contado sobre a minha viagem e sobre tudo o que aconteceu depois. Ela havia entendido tudo. Se Camila não recuou ou nem passou a possibilidade de ela querer parar, então talvez ela realmente não se importasse em fazer aquilo.
Eu não imaginei ser a Veronica a beijando na boate, mas foi inevitável não reconhecer Camila, mesmo que ela estivesse de costas e tendo pouca iluminação sobre si.
E Veronica nem ao menos se desculpou ou algo do tipo. É claro que ela sabia que a Camila que eu falei sobre no telefone era a mesma a que ela estava beijando. Ela sabia, certo?
Lauren, tire isso da cabeça. Não deveria incomodar tanto agora que tudo parecia se encaixar. Eu só devia tirar isso da mente e seguir minha vida normal. Era a coisa mais óbvia a se fazer.
Tinha três dias antes de iniciar meu emprego. E só agora, depois de mudar o foco das coisas em minha mente de tirar Camila e Veronica se beijando em uma boate para em três dias eu começo meu primeiro emprego depois de formada, então eu poderia realmente dizer que estava começando a ficar nervosamente desesperada por imaginar o tamanho da responsabilidade que teria a seguir.
Lembro quando entrei na Universidade e como pensei o mesmo, mas como depois de uma semana, eu estava quase me sentindo do ensino médio novamente. Então nos últimos semestres, eu mal tinha tempo de lavar o próprio cabelo, porque aparentemente todo o meu tempo livre havia sido ocupado pelos trabalhos de conclusão do curso. Agora sobre o emprego, senti que teria uma responsabilidade enorme sobre mim, não iria embora depois de uma semana. Eu teria que mostrar todo o meu conhecimento. Aqui vamos nós.
Lucy e Taylor me acompanharam as compras no final de semana. Parecia que eu não tinha roupas adequadas para trabalhar em uma empresa grande. Segundo o meu pai, eu me vestia como uma adolescente e quase todas as minhas roupas eram jeans, jaquetas, casacos, coturnos, botas e em uma grande quantidade, elas eram de cor preta.
- Lauren, você não pode usar isso em um escritório. – Lucy falou assim que deixei o provador.
- Não seria mais fácil se eu tivesse nascido homem e apenas comprasse algumas blusas e calças sociais? Todo o meu problema seria resolvido. - Realmente, eu estava experimentando uma roupa que em nada poderia ser usado em um escritório.
- Você ganharia muitas meias e gravatas de presente de Natal. – Taylor comentou fazendo apenas ela e Lucy rirem.
Okay, vamos procurar outras roupas. No fim da tarde, nós estávamos voltando pra casa com 5 sacolas cheias de roupas sociais. Teria que me acostumar a andar por aí usando isso e não minhas botas, jeans rasgados e jaquetas.
...
- Lauren, a Veronica passou aqui mais cedo. Ela te esperou por algum tempo no seu quarto, mas vocês demoraram mais do que ela esperava e ela disse que voltaria depois. – Mamãe falou e eu revirei os olhos ao ouvir o nome da Vero. – Aconteceu alguma coisa?
- Elas brigaram. – Taylor falou logo atrás de mim.
- Não aconteceu nada. Vamos subir, Lucy. Preciso de ajuda para arrumar um espaço no armário para essas roupas. – Não esperei Lucy responder. Eu estava praticamente a arrastando escada a cima e ela sorriu rápido para a minha mãe em forma de cumprimento.
O quarto estava normal, mas notei as fotos remexidas no mural na parede perto da estante de livros. Lucy foi a primeira a alcançar o mural e pegou a foto solta sobre a mesa de estudos.
- Ela escreveu algo pra você no verso da foto de vocês. – Lucy comentou logo largando a foto sobre mesa. Eu quase joguei todas as sacolas de roupas sobre a cama e corri pra ver o que havia escrito na foto.
“Costumávamos ter nosso para sempre. Espero não ter estragado isso.” A letra era visivelmente da Vero e a foto que ela havia escolhido era do nosso tempo da escola durante uma apresentação musical, onde apenas eu e ela ocupávamos o lugar central da foto.
- Não vai me contar mesmo o porque de uma hora pra outra a Vero virou a pior pessoa do mundo? – Lucy sentou na cama e eu a olhei com um sorriso triste. - Okay, Lauren. Não vou insistir de novo. Você vai acabar abrindo a boca de novo.
- O que? – Ela estava insinuando que eu havia contado tudo pro Shawn e que...?
- Ei, calma. Não foi nesse sentido. Dá pra ver na sua cara que você relacionou o que eu disse sobre o que aconteceu em Vancouver. Eu estava falando sobre você sempre me contar o que está perturbando sua cabeça. Nós somos melhores amigas, Lo. Te conheço desde sempre, então é melhor organizar os fatos na cabeça e começar a por pra fora. Sabe que vai te fazer bem. – Como eu poderia ter pensado por um segundo que ela poderia estar insinuando algo? Realmente senti falta de ter Lucy por perto pra conversar sobre o que eu tinha em mente durante os anos da Universidade e ouvir isso agora, era como voltar no tempo e lembrar de quando sentávamos juntas na grama da escola e eu desabafava o que quer que estivesse na minha cabeça.
Eu não queria comentar nada com a Lucy, primeiro porque ela e Vero tinham tido uma história longa e pelo que eu me lembre, ela estavam quase namorando quando eu mudei pra Seattle. Segundo porque eu não queria ter que ficar relembrando a cena da noite passada na minha mente. Por que diabos eu tinha que ficar tão incomodada com isso e porque infernos Camila ter beijado outra garota era o fato que mais me incomodava?

Camila POV
Já era noite novamente e eu continuava com a mesma pergunta que havia ocupado minha mente durante o dia inteiro. Como minha vida havia se transformado em uma bagunça em tão pouco tempo?
Ter aceitado ajuda da Lauren dias atrás, talvez fosse a pior coisa que eu já havia feito na vida. Eu estava tão bem. Tudo se encaixando e seguindo no rumo certo, até que ela aparece e em segundos vira minha vida de cabeça pra baixo.
Eu estava começando a aceitar todas as ofensas que haviam me feito nas últimas semanas e me perguntado se eu realmente era tudo aquilo. Pessoas que me conheciam muito bem, passaram a ter uma imagem negativa de mim, pessoas que conheci durante os últimos dias, também passaram a ter essa imagem ruim de uma Camila que nunca deveria ter começado a existir. Por Deus, eu não sou assim. Sou?
Meu quarto estava escuro. Eu deixei a luminária do quarto ligada, mas ela estava tão fraca, que talvez fosse apagar a qualquer hora. Parecia muito com o que eu estava sentindo. Só queria poder apagar logo.
- Camila. Eei!! Eu sei que você está aí. Posso ver seus pés com essas meias horríveis de banana. Olha aqui. Rápidao. – Vero falou da janela do seu quarto e meus olhos fecharam com força rapidamente tentando não voltar para a noite anterior. - Camilaaaaa!
- Você pode parar de gritar meu nome da sua janela? Meus pais vão ouvir. – Eu falei alto, mas não mudei minha posição. A minha janela aberta ajudava pra que eu não tivesse que gritar pra ela ouvir. O vento quase gelado entrando enquanto balançava as cortinas.
- Eu paro de gritar se você levantar e vir aqui na janela. Você está bem? – Perguntou e eu fiquei em silêncio por alguns segundos.
- Não gosto dessa pergunta. – Eu não levantaria da cama pra lhe responder essa pergunta.
- Por que não?
- Porque é retórica. Não faz diferença se eu disser sim ou não. Você nem ao menos se importa. – A respondi e foi a vez dela passar alguns minutos em silêncio.
- Isso tudo é sobre a Lauren? – Sua voz se fez presente novamente e ouvir o nome dela fez com que minha cabeça pegasse fogo. Eu não precisava ouvir esse nome com tanta frequência. - Camilaaa!!
- Pare de gritar meu nome, inferno. – Eu levantei da cama o mais rápido que pude e em segundos nossos olhos estavam fixos uns nos outros. – O que você quer? Eu estava tentando relaxar.
- O que você vai fazer amanhã? – Ela sorriu e eu revirei os olhos.
- Vou fazer tudo que me faça ficar longe de você. – Dei um sorriso forçado e ela gargalhou.
- A garota mais difícil que já encontrei na vida!! – Vero gritou e respirei fundo esperando que ninguém tivesse ouvido. – Vamos comer algo fora amanhã.
- Não posso.
- Claro que pode e você vai.
- Eu estou cuidando da Sofia enquanto ela está de férias. Meus pais vão trabalhar o dia todo. – Voltei a me sentar na cama e encarei a parede clara do quarto.
- Então eu vou comer com vocês. Não quero ficar sozinha. – Ela fez com que a voz saísse arrastada quase como se implorasse pra vir.
- Tivesse pensado nisso antes de me beijar ontem. – Joguei o corpo pra trás e bati contra o colchão. Agora meus olhos vagavam pelo teto.
- Vai dizer que não gostou? Você que me empurrou até a parede lá dentro e me beijou de novo. – Agora ela estava sendo confiante demais.
- Você estava pedindo por aquilo. – Respirei fundo novamente.
- A Lauren foi a primeira garota que você beijou?
- Podemos não falar sobre isso?
- Ela me contou que você tinha um namorado. Sheyne. ..
- Shawn. – Eu ri e fechei os olhos enquanto tentava não achar aquilo engraçado.
- Shawn. Isso. Então vocês ficaram na festa e ele descobriu depois. – Eu queria levantar e olhar a expressão em seu rosto agora. Ou queria ter um espelho na minha frente e ver a minha própria expressão. – Ela foi a primeira, certo?
- Qual o seu interesse sobre esse assunto?
- Você beija bem. Se estiver tentando descobrir se é lesbica ou bi, eu estarei no quarto de frente ao seu esperando que me chame para testar algumas coisas.
- Vá a merda. Eu nem ao menos te conheço.
- Você tem uma língua afiada, Camila. Aposto que pode fazer ótimas...
- Você pode calar a boca um instante? Vá varrer o corredor. Procurar algum copo sujo pra lavar pela casa. Limpar o cocô cachorro. – Mais uma vez eu estava de pé a encarando.
- Eu não tenho cachorro, Mila. – Ela riu.
- Então limpe o cocô do meu. É bem melhor do que ficar expondo minha vida pela janela do quarto. – E com isso, eu fechei a janela e as cortinas, antes podendo a ouvir gargalhar do outro lado.
Estava respirando forte quando me joguei na cama mais uma vez. Fechei os olhos e concluí a frase “Aposto que pode fazer ótimas coisas também.” A única coisa na minha mente foi como a língua de outra pessoa percorreu caminhos tão bem explorados no meu corpo noites atrás. Camila, respire e tire essa garota da mente. Ela havia tocado meu corpo como ninguém antes.

Eu balancei a cabeça e peguei os fones de ouvido do lado da cama. Coloquei a música no volume mais alto e mergulhei na minha própria mente. Não quis pensar em nada, mas foi impossível não querer voltar a noite da festa, apenas porque eu queria sentir novamente tudo o que ela me fez sentir e me fazer esquecer o mundo apenas mais uma vez.

Her - CamrenOnde histórias criam vida. Descubra agora