Capítulo 56

1.7K 268 12
                                    

Isabella: eu pensei na gente sair e caminhar um pouco mas se você quiser a gente pode ficar por aqui mesmo, o que acha?

Nicolas: acho que seria bom sair

Isabella: você conseguiu descansar da viagem?_o questionei assim que descemos do carro e demos as mãos

Nicolas: sim, inclusive dormi muito e quase perdi a hora

Isabella: você conversou com a sua mãe sobre o que estávamos falando naquela hora?_ele direcionou o olhar em minha direção e consentiu

Nicolas: ela ficou bem triste

Isabella: imagino que sim, sua mãe é uma mulher de coração grande meu amor, assim como você

Nos sentamos de frente ao mar em bancos de concreto, ele se aproximou mais de mim me acolhendo, encostei a cabeça em seu ombro e ele beijou me beijou. Por minutos não dissemos nenhum palavra.

Isabella: no que está pensando?_questionei curiosa

Nicolas: não é nada, princesa

Isabella: entendi_digo e ficamos em silêncio. Eu não estou me sentindo muito bem_revelei. Meu corpo não para de doer desde cedo, mas está suportável... agora, na maioria das vezes os remédios não têm dado conta

Nicolas: você está com dor e me fez te tirar de casa assim? Isabella!_chamou reprovativo

Isabella: eu queria estar aqui agora, com você, queria muito

Nicolas: tudo bem, você ao menos está numa posição confortável?_questionou preocupado e cuidadoso

Isabella: eu estou no seu colo, mesmo que esteja com dor seria impossível não me sentir confortável_ele sorriu e me beijou

Nicolas: quando quiser ir embora basta falar, tá?

Isabella: está bem

Minutos mais tarde, antes de ir, fomos mais perto da água, desejei molhar os pés e assim fiz. Encarei o entardecer com milhões de pensamentos soltos a me atormentar a cada segundo, suspirei olhando as nuvens claras banhadas por raios de uma cor alaranjada, alguns tons de lilás e rosa, tanta perfeição... Mas a tamanha beleza por mais que tivesse o poder de transmitir paz não foi suficiente para espantar os demônios da minha cabeça. Ver tudo aquilo me entristeceu ainda mais por pensar que talvez aquela seria minha última vez vendo um pôr de sol encantador na praia.

Isabella: Amanhã vou começar o novo tratamento, tenho a impressão de que não vou ter outra oportunidade de estar aqui..._digo desanimada, baixo quase que como um sussurro. Talvez seja só paranoia da minha cabeça, mas enfim, eu sentia que precisava disso, sabe?_Nicolas assentiu e não teve mais palavras, apenas engoliu o seco e continuou a caminhar ao meu lado cabisbaixo e pensativo. Desde o dia em que descobri o câncer eu tenho tentado controlar tudo em mim, mas nunca consegui de fato estabilizar as coisas. Viver isso é como tentar pilotar um avião em queda livre o qual não faço ideia de como fazer voar novamente, não há instruções e eu estou sozinha ali dentro dividida entre manter a calma e continuar tentando uma grande sorte ou apenas aceitar a situação e dizer as últimas palavras.

Parei mais uma vez, olhei de um lado ao outro, toquei nas águas, admirei mais uma vez, como se realmente fosse a última vez que estava fazendo aquilo...

Isabella: quero voltar aqui por incontáveis vezes, assistir mais vezes o sol deitar-se sobre o mar e desaparecer em seguida, quero trazer nossos filhos pequenos pra correr descalços sobre a areia molhada, brincar com eles e algumas vezes apenas vê-los se divertir de longe, quero mergulhar entre as ondas, sentir o gosto salgado da água em meus lábios_a aquela altura eu já não sabia se estava chorando pela dor ou pelos sentimentos que estavam tomando conta de mim, bem provável que pelos dois

Nicolas: ei, vem cá_passou a mão pelo meu rosto molhado me olhando triste. Nós vamos voltar aqui por incontáveis vezes sim, tenhamos fé nisso. Agora não chore mais, por favor, prefiro ver qualquer outra coisa menos você desta forma. Suas dores também doem em mim, venha me abrace e esqueça tudo que tem lhe feito mal_nos juntamos em um abraço carinhoso e apertado. Encerrei o choro e fechei os olhos tentando me concentrar apenas às sensações que o abraço dele era capaz de me proporcionar. Melhorou?_questionou minutos depois

Isabella: sim, melhorei_ o olhei com tanto carinho. Obrigada pelo seu amor, obrigada por fazer eu me sentir tão amada e acolhida, principalmente em momentos como este_ele sorriu e beijou minhas mãos

E ainda há gente por aí achando que o amor está nas palavras bonitas e enfeitadas, nos buquês de flores, presentes caros, nas declarações diante de uma multidão... Sem querer invalidar ou diminuir tais atitudes, mas o amor vai muito além de tudo isso. O amor também mora nos gestos simples, e acima de tudo, principalmente, no cuidado ao tratar as feridas do outro como se fossem suas.

Queria que o amor fosse capaz de curar, assim teria certeza que nenhuma enfermidade jamais resistiria diante do nosso amor.

No caminho para casa não parei de olhá-lo enquanto dirigia, amando cada detalhe daquele homem incrível, me sentindo mais uma vez abençoada por tê-lo e até me perguntando como estaria sendo as coisas se não o tivesse comigo, quem sabe não teria resistido até aqui e teria partido sem ter experimentado o melhor da vida, o amor.

Chegamos em casa ao anoitecer, tomei um banho rápido e coloquei um pijama, Nicolas me aguardava na sala conversando com meus pais, antes de ir encontrá-los tomei uma medicação para aliviar as dores que estava sentindo. Pouco a pouco uma exaustão absurda se apossava de mim, isso fez com que quase não participasse da conversa, me agarrei a uma almofada e apenas os observei.

Sem dúvidas, hoje foi um dia mais difícil que todos os outros, mas acho que eu tenho resistido bem, na maioria das vezes em dias como este eu sinto vontade de desistir de tudo, como se desistir fosse por um fim nas coisas, mas mesmo exausta de tudo, o máximo que consigo é me aquietar em um canto e torcer por melhoras, no final das contas isso é a coisa mais real, o desejo de uma melhora que talvez possa não vir.

Marcele: você está bem querida?

Isabella: sim, não se preocupe

Esperei até que o jantar ficasse pronto para só então depois deitar para dormir, por mais que não tivesse feito esforço algum meu corpo clamava para descansar. Nicolas jantou conosco, fomos para o quarto onde eu deitei e ele sentou na cadeira ao lado da cama. Continuamos a leitura do livro "O Preço De Um Milagre", seus trechos eram bastante tocantes, mas pra ser sincera não consegui prestar atenção nas palavras, parecia que até minha mente estava cansada também, quem sabe ler outro dia seria mais proveitoso.

Isabella: eu gosto muito desse livro, as palavras dele me trazem esperança. Mas acho que agora não é um bom momento para leitura, eu estou me sentindo exausta tanto fisicamente quanto mentalmente, por mais que eu queira não consigo me atentar ao que diz_ele guardou o livro e sentou com as costas na cabeceira, bem ao meu lado.

Nicolas: descansa_me acariciou

Isabella: amor_chamei, minha voz saía mansa e lenta, eu estava embriagada pelos comprimidos que havia tomado, e ficaria ainda mais depois de tomar o comprimido que me ajudaria a dormir melhor

Nicolas: oi linda

Isabella: estava pensando... Não quero mais me questionar, não quero mais tentar entender, não quero pensar em razões ou motivos inexistentes, chega de me torturar ainda mais, quero apenas deixar que as coisas aconteçam como têm que acontecer

Nicolas: muito bem, esse é o certo meu amor

Quando Vem De Deus É Diferente [ Amor, Fé & Superação ]Onde histórias criam vida. Descubra agora