Capítulo 58

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Após a refeição fomos em direção a ala em que Isa estava internada, um dos médicos logo nos chamou, entramos numa sala e lá estavam outros médicos e enfermeiros que estavam cuidando do caso. O clima estava pesado, não seria uma conversa agradável.

- Aceitam um chá ou café?_perguntou uma senhora

Lorenzo: acabamos de tomar café, obrigada

Dr. Sebastian: fizemos de tudo que estava ao nosso alcance, mas não foi possível manter uma estabilidade no quadro ou uma melhora significativa. A Isabella está muito debilitada, não tem condições de prosseguir com qualquer que seja o tratamento_disse direto

- agora é o momento de parar e dar a ela um pouco de conforto nos dias restantes_completou o outro médico, todos ficamos em silêncio.

Dr. Sebastian: a pressão dela está oscilando muito, a dificuldade pra respirar só tem aumentado, seu coração está fraco, nessas condições o pior pode acontecer a qualquer hora. Ela não vai melhorar, sinto muito, esse é o momento pra se despedir, faremos de tudo para que ela não sinta nenhuma dor_eu não poderia ouvir coisa pior, meu mundo estava diante de um tsunami indomável esperando apenas pela derradeira gota d'água

- Como ela está impossibilitada de falar por si e diante da possibilidade de uma parada cardíaca precisamos saber de vocês se temos a autorização de reanimá-la ou não reanimá-la.

Lorenzo: claro que queremos que a reanimem

Marcele: mas que tipo de pergunta é essa? claro que devem reanimá-la!_disse alterada e emocionada. Querem saber de uma coisa?_ela levantou-se Vocês foram um bando de inúteis, não nos ajudaram em nada, deixaram minha filha, minha única filha chegar nesse estado e agora nos pede autorização para não ressuscitá-la? inúteis, todos neste hospital_ela chorava e falava em alta voz, jogando tudo da mesa no chão numa atitude histérica e violenta, mas no fundo não pude julgá-la, pois estava experimentando parte do motivo de seu desespero

Lorenzo: Marcele pare com isso, pare!_tentou contê-la segurando seus braços e ela sentou novamente em lágrimas, Lorenzo a abraçou e os dois choraram muito

- pegue um calmante para ela, por favor_pediu o médico a uma das enfermeiras na sala

Lorenzo: me desculpem, está sendo muito difícil para nós, principalmente para ela_disse pouco tempo depois de ele e ela acalmarem seus ânimos

Dr. Sebastian: não precisa se desculpar, eu entendo_disse e silenciou-se por breves segundos, se aproximou de Marcele e agachou segurando sua mão. Eu também tive uma filha, ela também teve câncer, ela foi o motivo de eu me tornar quem eu sou hoje, tudo para impedir que outros pais também sofressem a mesma dor que eu sofri com minha esposa, eu sinto muito mesmo por não poder ajudá-los mais do que já fiz_revelou e nos surpreendeu, dona Marcele levantou e o abraçou pedindo desculpas

Dr. Sebastian: não se preocupe

Me retirei da sala sem que me notassem e fui em direção ao banheiro masculino em passos apressados, só quando cheguei lá me permiti desabar em choro também. Poucas vezes eu chorei assim como criança, chorar era somente o que queria, apenas chorar, sem questionamentos, sem impedimentos, somente chorar até que não me restasse mais uma única gota de lágrima.

Quando me recompus quase uma hora depois, fui ao quarto em que ela estava. Sentei ao lado da cama, segurei sua mão e beijei levemente em um gesto carinhoso. Queria ao menos vê-la acordada, ouvir sua linda voz, isso já seria suficiente pra aquecer meu coração.

- meu amor, minha princesa_ disse ao acariciá-la no rosto, ela estava tão pálida

Por longos minutos fiquei ali em sua presença a observando como um cão fiel, na esperança de que ela abrisse os olhos para mim, mas ela não acordava, não mexia, só me apertava mais o peito. A beijei mais uma vez e saí, Marcele e Lorenzo estavam sentados em cadeiras do lado de fora do quarto.

Quando Vem De Deus É Diferente [ Amor, Fé & Superação ]Onde histórias criam vida. Descubra agora