Capítulo 8 - Boas e más notícias

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Meu corpo parece pesado e dopado, parece que está de noite ou no meio da madrugada. Somente uma fraca luz de um abajur ao meu lado, ilumina mal o quarto. Nossa, onde eu estou?
Levando uma de minhas maos ao meu olho, percebo alguns tipos de fios que estavam colados em meu peito, um outro estava em minha veia. Onde estou? Alguns aparelhos estavam ao meu redor. Pisco varias vezes, observando-o atentamente. Um deles via meus batimentos cardíacos. Médico? Estou em algum tipo de hospital?
Meu corpo se desperta em um alarme, ao sentir algo esbarra em minha perna. Não consegui ver direito o que era, mas a luz da lua que passava pela janela do quarto ajudava um pouco.  Ele estava deitado de mal jeito na cama, sentado em sua cadeira e inclinado com seus braços cruzados em minha cama. Cadu! Ele estava aqui ao meu lado esse tempo todo? Há quanto tempo estou aqui? Creio que um dia não foi.
Mexo-me bem pouco, sentindo uma puta dor latejar em minha barriga, merda! Isso dói. Percebo que meu gemido, fraco e doloroso o acorda. Seus cabelos rebeldes, lisos e um pouco grandes, os olhos cheios de sono, e sujos. Parece que ele estava chorando esse tempo todo. Sua barba cresceu um pouco, semanas sem fazer. Ouço um pequeno soluço, e um sorriso branco, iluminado, aparece em seus lábios.

— O que foi? — indago, confuso, vendo que ele estava se detendo a fazer algo.

Cerro os meus olhos para ele, forçando meu corpo um pouco, o que espanta ele.

— Guto, não! — Ele se apressa, alarmado, a se achegar perto de mim e me por para deitar novamente.

— Então me diga, o que está acontecendo? — Por sorte, consigo segurar sua mão, o puxo para mim. — Você acabou de evitar um simples desejo de me tocar, e esse não é a pessoa que me fez se apaixonar loucamente.

"Uma paixão insana, só pra constar." meu consciente estava sentado em sua poltrona, com suas pernas cruzadas, sorrindo para nós dois. Isso me dá um certo medo.

— Apaixonado? — eu o vejo degustar essa palavra com tanta felicidade.

Ele parece tão cansado, fraco, que é fácil puxar ele e o fazer deitar ao meu lado, entre meus braços e minhas mãos pequenas que o acaricia. E o vejo se desfazer, dormir novamente, passando seu enorme braço ao redor de minha cintura, abraçando e ali mesmo, nos aquecendo com o calor um do outro.

— Repita de novo... — ele fala, sonolento.

 Rio baixinho, levando meus lábios até a fronte de sua testa e o beijo, terno e suave.

— Apaixonado loucamente por você Cadu... — repito, com tanta doçura em minha voz.

Ele se mexe, apertando minha cintura um pouco mais, me fazendo grunhir de dor. Ele não se importa. Esse idiota até gostou de ouvir. Aff! Não consigo ficar irritado com ele. Posso sentir sua respiração profunda e dócil acariciando minha pele. Isso me deixa feliz, só de tê-lo me ajudando perseguindo, pra onde eu vá ele estará me protegendo. Porque ele é meu perseguidor...

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 Está frio novamente, por que? Levo minhas mãos até minhas pernas, tentando sentir algo... Cadu? Meu corpo se ergue alarmado, o cômodo onde encontrava-me era banco, os aparelhos apitando em um certo compasso, atrás de meu ouvido. "Hum, então ontem a noite..."  minha consciência está olhando para mim e sei que nós dois estamos confusos. Meu rosto avermelha totalmente, em um tom escarlate das lembranças que atingem minha mente. Estava abraçando o Cadu. sei que não posso me encolher por causa de meu ferimento, mas eu só quero ficar assim. Abraço os meus joelhos, sentindo a dor em minha barriga. Onde estará o Cadu? Viro meu rosto devagar, observando os raios de sol passar pelo vidro da janela. Noto que algo brilhar em cima da mesinha ao meu lado. Arqueio minhas sobrancelhas, e com certa dificuldade alcanço algum tipo de prancheta pequena ali. Ah, são prescrições médicas. Não entendo muito, mas cada um aqui pelo que meus amigos de medicina me disseram são anti-inflamatório e analgésicos pra dor. Mas, gente! Isso já era de se esperar. Fui baleado, mas nenhum órgão meu está danificado. Bom, pelo menos uma boa notícia. Ponho a prancheta em meu colo, e vou erguendo minha camisa branca, observando uma gaze tampando o ferimento. Acho que tiveram que dar pontos. Melhor eu nem mexer.
 Ouço ranger da porta, o que me assusta e tira-me de meus pensamentos. Rapidamente ponho a prancheta embaixo de minhas cobertas e finjo que estou ajeitando minha camisa, escondendo-a direito. Meus olhos se focam em um rapaz novo, expressão séria, de traços grossos em seu rosto, de músculos definidos por de baixo de seu jaleco. Deve ser um médico de plantão, e pelo que vi em minha prancheta, deve falar comigo como estou, se irá me dar alta, quanto tempo estou e o que vou tomar agora.

— Opa! Como vai, senhor Augusto? — ele me olha com aqueles olhos cor-de-mel, aproximando-se de mim ficando ao lado de minha cama, olhando para os estáveis compassos das maquinas do meu batimento cardíaco.

 Senhor é seu pai, filho da puta! Detesto quando me chamam de senhor! Só me chame assim depois dos 30 anos.

— Estou melhor. Acordei não faz muito tempo — digo, sorrindo pra ele olhando-o, percebendo algo diferente em seu jaleco. Onde está o seu crachá de identificação.

 O alarme do meu corpo desperta, e me ajeito, sorrindo para ele como se não estivesse nada de errado. E tenho quase certeza que o imbecil cai.

— Bem, por sorte foi somente um arranhão que você levou na barriga. A perda de sangue deve ter sido por ser um corte de  bala profundo, — ouço ele, observando-o cauteloso ao ver ser relógio de pulso. — está na hora de tomar seu remédio.

 Meus olhos o observam pegar um pequeno frasco marrom com uma tampa prateada e uma seringa em seu bolso. Desde quando médicos podem fazer isso? Tirar remédios do bolso. "Synanceia verrucosa". Essa porra é algum tipo de remédio? Não está escrito na prancheta. Cianeto, eu já ouvi falar dele em algum lugar. Mas onde? Onde?

— Algo errado garoto? — meus olhos não podem esconder o medo que sentia dele.

Ah! Lembrei! Synanceia verrucosa é um peixe. Peixe pedra. Mas ali só contem um líquido.
 Meus olhos batem em um sorriso macabro, vendo os olhos deles fixado na ponta da agulha da seringa que jogava pequenos jatos do veneno do peixe.

— Eu tenho boas e más notícias para você. — ele vira-se para mim, e antes que possa escapar ele segura meu pulso e o vira. — A má notícia é que você irá morrer. Mas a boa,  é

 O estrondo da porta se abrindo o interrompe. Meus olhos cheios de lágrimas avistam o Carlos, com a mesma roupa de ontem. Sua expressão de cansado toma para uma raiva súbita. E antes que ele possa injetar o a seringa com o veneno em mim, e o empurro com os meus pés. o jogando contra uma mesa. O seu grunhado desperta as curiosidades dos que estão ao lado de fora, e eu  para o lado da cama, soltando os fios que estavam presos em mim e vou saindo observando os passos largos do Cadu irem em direção ao médico farsante. Suas mãos grandes que tanto amo quando me acariciam, pega-o pelo colarinho e o outro cerrado em um punho ergue-se. Antes de testemunhar alguma coisa, fecho os meus olhos só ouvindo os urros de dor por alguns segundos. Não aguento mais, me ergo, vendo aquele farsante desmaiado sendo socado várias vezes no rosto. Antes que possa dar mais alguns, eu o detenho, abraçando ele pela frente, com toda minha força. Sei que sou fraco comparado a ele. Mas acho que ele consegue ouvir meus soluços e sentir minhas lágrimas gotejando, e molhando sua camisa. Fecho os meus olhos ouvindo sua respiração rápida, se acalmar aos poucos.

— Guto... Guto...— ele soluça, envolvendo-me em seus braços fortes e calorosos com desespero. Como se quase tivesse perdido algo precioso para ele. Eu tenho quase certeza que sou.

—  Eu estou bem Cadu, estou bem. — eu digo, mergulhando em seu choro silencioso e suas lágrimas molhando minha roupa. — E você? 

— Estou melhor agora segurando você em meus braços, meu moleque. — meu coração dispara só de ouvir aquele sussurro dele.

 Um sorriso desabrocha em meus lábios, não sei a quanto tempo estou ali, mas alguns policiais entram em meu quarto do hospital, com passos apressados, isolando o local. Minha mente está tentando digerir que fui quase morto em menos de... A quanto tempo estou aqui mesmo? Nem perguntei ao Carlos. Bem... ele ainda está cansado, tentando de algum modo ainda ficar acordado, tomando conta de mim, e responder algumas perguntas que os dois policiais estavam fazendo.

— Não se preocupem. Desses dois cuido eu.

Meus olhos foram direto na voz  que partia da porta.

— Bruno? — indago, incrédulo.

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