15. Doorbell

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Anteriormente em Tough Love:

Tenho mesmo de afastar-me dela. Ela é demasiado ingénua e curiosa e isso pode trazer-lhe problemas. Para além disso tenho muitas raparigas disponíveis, mais fáceis e menos inteligentes, perfeitas para mim. Ao menos essas são capazes de entender o que faço e não julgam, pelo contrário, ficam ainda mais excitadas.

 O meu mundo não serve para ela, na minha realidade não existe espaço para miúdas ingénuas e indefesas. Olho uma última vez para o seu rosto e, por uma razão desconhecida, tento focar-me em todos os pormenores. Esta será a última vez que a terei por perto.

***

*28/09*

 “Tens o visto?” Oiço a sua voz ao longe e mal percebo o significado das suas palavras. Mantenho a minha atenção focada nas gotas de água que escorrem do lado de fora da janela. O céu está escuro e eu sinto-me sozinha, há muito tempo que não sentia este vazio e, mesmo que estivesse acompanhada por mil pessoas, sentiria sempre o mesmo. Faltava-me alguém ou algo em especial, emoções extremas, ódio, amor, algo que me faça acordar do transe. Falta-me dar sentido à palavra viver e sair do modo de sobrevivência.

 “Não.” A minha voz saiu como um sussurro juntamente com um suspiro. Suou de tal modo inaudível que tive de repetir, clareando a garganta. “Não, não o tenho visto.” A frase não estava completa mas não tinha forças para tal. – Não, não o tenho visto. Nem quero ver.- Quem é a pessoa que assalta o teu carro sem razão aparente, discute contigo, ofende-te e traz-te a casa, dizendo que nunca mais quer ver-te à sua frente? Não a sério, quem é a pessoa que consegue entender? Eu não. É impossível acompanhar as suas mudanças e, sinceramente, nem quero. Chega!

 “É por isso que estás assim?” Sinto a sua mão tocar-me no ombro e junto mais os joelhos ao peito, abrindo espaço, no pequeno sofá ao pé da janela, para ela se sentar.

 “Assim como?” Nota-se assim tanto que estou deprimida? E porque raio estaria deprimida por ele?! Não, nada disso. Estou deprimida porque estou, porque quero estar e porque posso estar. A sua ausência deixa-me, pelo contrário, bastante satisfeita. Não discuto com ninguém e não mato a cabeça a pensar em respostas boas para dar. Não sinto mais aquela chama de ódio, nem a raiva consumidora da alma. Portanto, não estou deprimida por ele pois não? Não Candice, não estás.

 “Estás um pouco em baixo.” Viro o rosto da janela e encaro o seu rosto que carrega uma expressão de preocupação. A sua mão, que nunca deixou de estar pousada no meu ombro, aperta-o gentilmente, um sinal de que ela vai estar aqui para ouvir tudo sem julgar e que vai apoiar-me. Um sinal de conforto e reconforto. E, como se o aperto no ombro não chegasse para garantir que eu iria fala, ela acrescenta: “Sabes que estou aqui para o que precisares.”

 Sim, eu sei, mas como hei-de explicar-te algo que eu própria não entendo. Sei que se disser que me sinto sozinha vais levar a mal. Não no mau sentido, mas porque tais palavras vão fazer-te sentir excluída e dispensável, algo que nunca serás! Se, por outro lado, disser que preciso de sentir emoções fortes, vais achar que sou louca e vais dizer-me para arranjar um namorado rapidamente. Não que os teus conselhos alguma vez me tenham falhado, mas desta vez, só desta vez, preciso de manter isto para mim. Preciso de interiorizar o que sinto, até lá será o meu pequeno segredo, a minha reviravolta interior.

 Ter conversas comigo mesma, mentalmente, é bom. Tenho de experimentar mais vezes.

 “Não, estou só triste por estar a chover. Sabes que adoro sol.” Assim que as palavras saíram da minha boca, tive vontade de bater em mim mesma. Que boa desculpa, bom trabalho Candice, és muito boa nisto. Será que não consigo fazer nada certo? A única coisa que pode salvar-me de um interrogatório da Kim é mudar de assunto. Abandonar o “eu” e passar ao “tu”. “Então e o Zayn?” Rezei para que estava fosse a pergunta milionário. Vá Kim, morde o isco.

Tough LoveOnde histórias criam vida. Descubra agora