Eu precisava parar de perder tempo. Sujar minhas maos com sangue de vermes que não me levavam a nada.
A quanto tempo eu estava aqui? Talvez mais um mês... Vagando pelos corredores, comendo restos deixados pelos ratos, ou até os ratos, já não sentia o gosto da comida, minha pele estava pálida, eu estava a tanto tempo sem luz do sol que deveria parecer um zumbi. Meus cabelos estavam duros e secos como palha. Minhas mãos encardidas com o sangue. As moscas já não me incomodavam mais.
Depois que achei aquele homem da cela 789 eu acabei indo a lugar nenhum. Me perdi, em meio a tantos andares. Tantas portas e tantos corredores. Eu não conseguia mais sentir aquela presença... Me sentia sozinha, a não ser pelas voltas em minha barriga, que até me assustavam por vezes. Harry não estava mais comigo. Eu estava entrando cada vez mais profundamente nesse lugar, e eu o sentia se afastando de mim. A luz não existia mais ao meu redor. Eu sentia apenas as sombras. Quase em mãos sobre meus ombros.
Os pesadelos com Annabet estavam mais fortes, intensos. Ela parecia me seguir pra onde quer que eu fosse. A cada corredor que eu virava, eu quase podia vê-la.
Eu estava decididamente enlouquecendo. Haviam alucinações, eu ouvia a voz dela rindo de mim, me dizendo que voltaria, me enlouquecendo e provocando. Isso me deixava perturbada. As vozes na minha cabeça estavam todas de volta.
Elas só paravam nos sonhos. Nas vezes em que eu me escondia no melhor lugar que pudesse encontrar e dormia até acordar com um grito, ou apenas com um rato caminhando acima de mim.
Os corredores por onde passei nos últimos dias estavam desertos e eram como rampas. Eu estava claramente descendo, em uma infinidade de curvas e escadas.
No exato momento eu andava para dentro de outra sala fria, gavetas para cadáveres estavam fechadas nas paredes. O chão era manchado e encardido com sangue preto.
Meus passos quase não eram ouvidos em meio ao escuro e o som de insetos ao redor, meus olhos acostumados ao escuro quase que continuo ardiam ao olhar para as lâmpadas pendendo do teto, ascendendo de tempos em tempos.
Eu precisava parar por um momento.
Andei até uma mesa posta ao meio da longa sala e larguei meu machado ali, sentando ao lado dele e descansando a mão sobre minha pequena barriga.
Eu quase podia sentir o machado pedindo para matar alguém, algo como se desejasse pelo menos acertar o pequeno corpo de um rato. Fazia tempo que eu não encontrava nenhum filho da puta que eu pudesse matar, eu estaria entediada se não fosse pela terrível sensação às minhas costas.
Agora olhando para minha barriga eu sentia como se um rosto com um sorriso me olhasse por cima dos ombros. A mão negra com unhas longas descansando ao lado de meu corpo, os olhos maléficos estudando minha face. Não apenas uma, mas dezenas delas. Todas me olhando, rindo sozinhas, com vontade de cutucar meu ombro enquanto sussurravam maliciosas em meus ouvidos.
Se eu virasse meu rosto elas estariam bem atrás de mim, paradas encolhidas, sorrisos abertos e pontiagudos, grudadas em meu rosto prontas para sussurrar "Bu" como se eu fosse uma criança assustada em meu quarto.
Descansei uma de minhas maos atrás de meu corpo e respirei fundo. Ouvindo um barulho fino ao fazê-lo.
Ao sentar normalmente de novo, o barulho foi mais claro.
Um assovio.
Olhei imediatamente para a porta de onde vim, agarrando o machado, sem encontrar nada lá. E ao ouvir pela terceira vez eu me virei para o outro lado da sala.
Eu não sabia se eram meus olhos que me enganavam. Mas eu podia jurar ver o contorno de alguém com os braços fortes cruzados, negro como breu, um sorriso arrepiante e um par de chifres de bode, me olhando de uma estreita porta escura no final da sala, olhá-lo arrepiou cada pelo do meu corpo. Me fez tremer dos pés à cabeça.
Eu realmente torcia pra que fosse apenas uma ilusão. Quando pisquei ele não estava mais lá, apenas a pequena abertura na parede.
Hesitantemente eu coloquei meus pés no chão e respirei fundo. Minha lanterna estava fraca, mesmo eu não a tendo usado nas últimas semanas, as pilhas não aguentariam por muito tempo. Eu torcia para aguentarem até o final de onde quer que eu fosse entrar agora.
Aquela porta me parecia muito familiar. A placa na parede estava apagada, e de longe eu não conseguia lê-la, andando pra mais perto eu recebi a lembrança como um choque.
"Eu precisava encontrar a entrada. Estava correndo em meio às árvores, estava escuro e eu não via nada. Tinha fogo atrás de mim. Tinha algo me chamando a frente. Mais alguns passos e senti o chão despencar debaixo dos meus pés.
Caí em algum lugar molhado e frio, onde a água já batia em minhas canelas. Eu tinha uma lanterna na mão e foquei ela ao meu redor. Corredores que pra mim eram familiares de mais.
Em uma das paredes estava um mapa, mas eu não conseguia lê-lo. Vi uma placa na parede indicando onde eu estava."
-labirinto. - eu li, após andar, quase vivendo aquele sonho novamente.
Eu estava no caminho certo, afinal. Lembrava-me de quando pedi a Harry oque significava o nome labirinto uma vez... E eu quase podia ouvir a voz dele dizendo novamente as palavras pra mim.
"Houve uma época em que as doenças em Wickendale não eram tratadas. Eu lembro de ver os pacientes com peste, ou todas essas merdas contagiosas que ainda não tinham cura serem levados pros andares abaixo. Diziam que eles seriam atravessados. Uma vez um cara me disse que eles os sangravam como porcos, pendurados no teto com ganchos, deixando apenas o corpo vazio das vísceras. E depois levavam eles pelo labirinto. Achavam que com todas as voltas e a distância que o labirinto tinha, a infecção não se espalharia pra outro lugar. Putos idiotas..."
Sorri triste com a lembrança. Tudo estava em ordem naquele tempo. Que parecia ser a anos. Eu sentia tanta falta dele. Eu daria tudo, tudo para tê-lo de volta.
Respirei fundo acariciando minha barriga e olhei para o teto, confirmando minha dúvida. Estava cheio de ganchos.
Esse era o lugar.
Era pra dentro do labirinto que eu tinha que ir.
-eu estou quase, Alea. - eu disse com firmeza. Eu faria isso por ela e por mim, a ligação que eu sentia era mais forte do que nunca. A angústia que me assolava toda vez que pensava nela era esmagadora, e pensando na vida que tinha dentro de mim nesse momento, eu me sentia ainda mais ligada a ela.
Eu poderia dar a ela oque ela não teve. Poderia ajudá-la. Tira-la daquele sofrimento. Eu precisava ajudá-la para ajudar a mim mesma a dormir em paz. Nenhum demônio, nenhum louco, nem Annabet me impediria de fazer isso.
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RUN 2 - Harry Styles horror fanfic- EM PAUSA
أدب الهواةTRAILER https://www.youtube.com/watch?v=v04KyAs0O8Q "Morte outra vez" "Alea está pedindo ajuda" "Eles não querem que Alea saia" "Você faz perguntas demais Rose" "Me deixe sair" "Eles estão vindo" "Nós soltamos os da ala C, eles soltaram o resto" Se...