O homenzinho verde, de pé no último degrau da escada, avistava sonhadoramente a
paisagem da bonita cidadezinha do Planalto Central.
Pôs os pés no topo da montanha. A escadinha, atrás de si, encolheu-se, e não mereceu
sequer mais um olhar do homenzinho verde. O aparelho, silenciosamente, decolou e sumiu-se.
Ele foi descendo, vagarosa e cautelosamente, passando por entre as plantas baixinhas
do mato, a montanha. Ao longe, a cidadezinha descansava. Vários telhadinhos vermelhos
salpicavam a cor da terra, e um riacho subnutrido passeava sinuoso, acompanhando as ruas e
atravessando as vielas. As pessoas ainda dormiam na madrugada, e o procurar de alguns gatos
na penumbra fazia todo o movimento vivo do lugar.
O homenzinho verde ia paciente. Seus olhinhos vermelhos pulavam de alegria de um
lado para o outro, vendo tudo, engolindo a pouca luz que a manhã oferecia.
Uma florzinha amarela, no meio do caminho, chamou sua atenção e o fez parar. O
homenzinho verde abaixou-se para observá-la melhor. Era tão mimosa, tão graciosa! Sim, não
haveria planeta mais lindo que aquele, em todo o Universo! Foi neste globo de fogo recoberto
por uma fina camada mineral que o Criador depositou todas as suas últimas energias,
colocando de tudo um pouco. E os seres que ali viviam, pobres humanóides, de nada sabiam.
Carinhosamente, soltou a florzinha de sua raiz e levou-a consigo. O homenzinho verde
era um sentimental. Com todo esmero, prendeu-a no uniforme e admirou o contraste que
fazia um botão amarelo em meio a vários botõezinhos prateados.
Na entrada da cidadezinha, uma ponte de madeira sobre o riacho convidava-o a
chegar. Na metade da travessia, parou mais uma vez para ver a beleza da água que corria sem
saber pra onde e, no entanto, sem medo de correr. As pedrinhas do fundo do leito brilhavam
radiantes, como se estivessem sorrindo através da água límpida para o homenzinho verde.
Do outro lado da pontezinha, o início da avenida principal. Casebres margeavam a rua,
de ambos os lados.
Uma das janelas estava aberta, e no peitoril um homem apoiava os cotovelos, olhando
a luz das estrelas, já mortiça pela anunciação da vinda do Sol.
O homenzinho verde não se surpreendeu com a presença do humanóide, e continuou
andando em frente, como se nada tivesse visto. E não percebeu quando a janela fechou-se
assustadamente, escondendo um ser com medo do fim da madrugada.
Diante, uma pracinha marcava o centro da cidadezinha. O homenzinho verde dirigiu-se
para lá.
Um bêbado, sobressaltado, acordou e levantou-se do banco da pracinha. Afastou-se e,
de trás de uma árvore, pôs-se a estudar com o olhar embaçado, divertidamente, o
homenzinho verde que se aproximava, com uma bonita flor amarela sobre o coração.
O banco da pracinha esperava. O homenzinho verde chegou perto e estacou.
Lentamente, correu a vista por toda a volta, como se seus olhos fossem minúsculos faróis
vermelhos perscrutando a região.
Satisfeito, estendeu seu corpo sobre a madeira gelada do banco, descansadamente,
enquanto, lá fora, o resto do Universo podia estar explodindo.
Feliz, o homenzinho verde relaxou todos os seus músculos, deitado no centro da
pracinha de uma cidadezinha do Planalto Central, e suspirou:
— Voltei.#O pior dos venenos, de Flafon
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M-48 Contos
Short StoryNova fase do Projeto Montag!! O nosso Projeto conta com um livro de poesias, que contém 83 poesias dos fundadores do projeto, e um livro de Bastidores, que contém entrevistas com os mesmos, contando suas inspirações, e histórias de vida. Agora damos...