Lá fora

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Sobressaltado, ele despertou de seu cochilo. O livro caíra-lhe das mãos e
escorregara para o chão, onde estava, desmarcado. Ele ergueu o corpanzil e recostou-
se na parede atrás de si. Passou a mão na nuca. Dormira de mal jeito. Ia precisar de
sol, pra relaxar o músculo.
Olhou em torno. Estava na hora de recomeçar o dia. Havia muito o que pensar.
Ficou de pé. Abaixou-se e pegou o livro. Fitou a lombada, mais uma vez:
"Ladrão de Casaca", de Maurice Leblanc - a história de Arsène Lupin, o mestre dos
ladrões, rei das fugas espetaculares. Quisera ser como ele. Haveria de ser uma vida
bastante interessante, repleta de aventuras. O Joaquim fora um bom amigo,
conseguindo aquele livro para ele.
Pôs o livro sobre a mesa, a mesma mesa onde ficava a botija d'água. Sua única
mobília.
Foi ao canto destinado a ser mictório. Aquilo ali já estava cheirando mal.
Precisava chamar o Joaquim para dar uma limpeza. Abriu a torneira da pia, lavou as
mãos e o rosto. Quando levantou a cabeça, pingando água, o pescoço doeu. Já devia
ter se acostumado a dormir no chão.
Em passos lentos, caminhou até a janela. Agarrou as grades e olhou pro pátio.
Lá fora, o sol brilhava.
Ouviu um ruído metálico e se virou. Joaquim, o carcereiro, lhe trazia a refeição.
Estava inaugurado um novo dia.

#O pior dos venenos, de Flafon

M-48 ContosOnde histórias criam vida. Descubra agora