Aprendiz Espiritual

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O que diferencia um ser racional de um ser irracional é uma alta taxa metabólica dedicada ao sistema nervoso central para o processamento de informações, isso se deve ao fato de ele possuir uma entidade a mais que os outros animais. Esse “algo a mais” é o que você pode chamar de espírito, a centelha da constituição de Deus, diferentemente de outras entidades que possuem apenas “Alma”, que é um elemento puramente emocional. Esse espírito, que se situa em maior parte na porção superior do indivíduo, é o responsável por fazê-lo criativo,
curioso e racional. O que lhe assemelha, essencialmente, a o que eles chamam de deuses, e os diferencia de seres como os anjos que são de pura alma. Por isso Deus disse, junto aos outros eternos, “façamos o homem à nossa imagem e semelhança”
O que os seres racionais chamam de deuses são seres como eu, um eterno. Um ser que vive para sempre. Que já existia antes do seu universo nascer e que o verá sucumbir. Mas não sou tão poderoso como o criador do seu universo. Sou apenas um observador e como bom observador sou também um bom contador de histórias. Por isso estou aqui para lhe contar uma história que aconteceu no seu mundo e no seu universo.
Normalmente alguns seres após a morte podem retornar a viver. É o que vocês chamam de reencarnação. Alguns seres apenas vivem uma vez, outros vivem várias, depende do julgamento do Eterno Todo Poderoso após cada vida. Não estou aqui para discutir o que acontece do outro lado, mas sim um acontecimento ímpar que aconteceu deste lado. Estou aqui para falar sobre um ser diferente de todos os outros que já nasceram. Na verdade todos os seres são diferentes, todos eles requerem poções diferentes de alma, espírito e matéria. E, assim como as substâncias da matéria são complexas, as substâncias do espírito e da alma também são. Isso faz com que cada ser que nasce seja único, mas esse a que me refiro... Nunca houve igual e nunca haverá.
Ele nunca ficou nesse plano no qual estou. Ele não é deus, anjo, observador, ceifador, demônio nem nada já visto por mim. No momento de sua criação ele já foi para o plano material, nasceu e a cada vida ele se tornava mais poderoso. Ele adquiria experiência, aprendia, ganhava “luz” e retornava mais forte a ponto de não conseguir ficar no mundo espiritual e ter que retornar a viver de novo para ter uma matéria que o aprisione.
Ele foi o primeiro humano a desenvolver a razão, foi o responsável pelo primeiro “por que estou fazendo isso?” o primeiro “quem sou?” e o primeiro “o que faço aqui?”.
Cada vida, Ele crescia mais em espírito e se tornava mais rico em sabedoria mesmo sem lembrar-se de suas outras vidas passadas, ele sempre permanecia firme em suas convicções de bondade e sabedoria. Havia algo que sempre o perseguia desde a sua primeira existência racional: As perguntas. Ele sempre perguntava muito sobre tudo. Ele foi o primeiro a fazer uma pergunta a Sócrates, ele perguntou a Isaac Newton o porquê das coisas cairem para baixo, perguntou a Nikola Tesla “o que há nos trovões que possuem tanto poder?”, perguntou a Esopo porque os animais não falam, perguntou a La Fontaine “por que o mundo é assim?”, perguntou a Martinho Lutero “será mesmo que a igreja está sempre certa?” e, dentre muitos outros, perguntou a Adolf Hitler “por que o mundo é injusto?”.
Em muitas vidas ele passou despercebido por todos como quando ele foi um lavrador do sul da França do fim do primeiro milênio que morreu sem nunca compartilhar sua sabedoria com ninguém, mas em outras foi discípulo e quase mentor de muitos pensadores da história.
Ele foi um lenhador que chegou com os primeiros colonos à “Nova Inglaterra” e se sacrificou dando a vida por um agricultor amigo seu que possuía um filho chamava Abraham Lincoln.
Foi o primeiro plebeu que se apaixonou por uma nobre senhora e enviou-lhe uma carta de amor e, sem receber resposta, pegou uma viola e cantou uma de suas poesias à janela de sua amada.
Em uma vida,  Deus resolveu lhe dar um teste. O fez nascer mudo e entre os mais pobres da cidade de Cirene, que também fazia parte do império romano desde 74 a. C. região onde hoje fica a Líbia. Simão era seu nome. Perdeu seus pais cedo para a lepra,  por terem morrido deste mal,  ele também era considerado impuro e as pessoas se afastavam dele e olhavam-lhe com expressão de nojo. Possuía apenas um camelo que herdara de seu pai e com ele decidiu sair daquela cidade. Vagueou por anos, mas aonde chegava era mal tratado e logo teve que vender seu camelo para conseguir comida. Mesmo assim ele não se enfurecia com nada. Permanecia calmo e sereno como se esperasse por algo em seu silêncio. Os anos passaram, ele passou necessidades e fome, adoeceu e passou meses nas ruas a mendigar, mas seu semblante não era de pena e por isso recebia poucas esmolas. Até que um dia nas proximidades de Jerusalém, ele viu uma grande multidão gritando. Aproximou-se e fez um gesto de pergunta com as mãos e um respondeu “É um que se diz Rei de todos os Judeus.” E outro “vai ser crucificado por essa blasfêmia. Morra!”. Ele viu um homem magro de cabelos longos que carregava uma cruz enorme com outros dois homens. Os outros dois haviam caído e eram carregados pelos guardas romanos, mas o homem de cabelos longos continuava e quando Simão olhou em seus olhos esperando um semblante de cansaço e tristeza em seu lugar viu um olhar sereno de quem ia para um lugar feliz. O homem caiu e rapidamente Simão correu e segurou sua pesada cruz, ele carregou sua cruz até o monte do calvário e enquanto caminhava sentia uma alegria imensa em seu coração nunca antes sentida em todas as suas vidas. Ao chegar ao local da cruz ele a colocou no chão e olhando nos olhos do homem disse “tódá rabá” que quer dizer obrigado.
Em uma outra vida ele foi além de todos os limites de um ser mortal. Por volta de VI milênio, contado a partir do nascimento de Cristo, ele nasceu como um monge que tinha acesso a muitos documentos, papiros e livros antigos. A humanidade havia se destruído e renascia novamente após uma guerra com outros seres racionais que viviam no que antes era a Ásia. Os monges que o criaram logo perceberam que ele possuía muita luz e sabedoria. Ele passava seus dias estudando e meditando. Aprendeu sobre as ciências, as artes e a filosofia tendo acesso à mais antiga biblioteca aberta do mundo que possuía exemplares quase deteriorados de livros importantes para a humanidade de todos os tempos.
Adquiriu todo o conhecimento que lhe foi possível em uma vida de 100 anos. Até que um dia ele morreu meditando, mas ao invés de voltar para perto de Deus ele começou a vaguear pela rede do espaço-tempo e percebeu as suas vidas passadas e futuras. Seu primeiro pensamento foi ir para a frente ver como seria o mundo no futuro. Foi numa vida de mil anos no futuro e viu que a humanidade progredia como um único império em harmonia, ficou feliz por finalmente ver que a humanidade havia parado de guerrear por terras e dinheiro. Viveu e morreu sem interferir no que faria nessa vida. E com a sabedoria adquirida avançou mais algumas vidas e foi em sua vida de 100 mil anos d. C. e viu que a humanidade colonizou o sistema Solar, retirando água e combustível de outros planetas e usando o sol como incinerador de lixo. Avançou mais para Um milhão de anos no futuro e nascera como um mineiro de urânio num outro sistema solar. A humanidade não havia mudado quase nada, mas o antigo sol havia tido seu colapso adiado devido à  quantidade de detritos jogados nele o que fizera a humanidade ter que habitar outros sistemas estrelares.
Decidiu avançar o máximo que pudesse e viu uma pequena luz no  meio de uma grande escuridão que o jogou de volta na teia do espaço-tempo até a sua vida de monge do VI milênio. Vivendo novamente e morrendo após 100 anos, mas desta vez ele decidiu, após sua morte e com todo o conhecimento que havia adquirido, voltar. Reviveu cada uma de suas vidas passadas. Foi novamente tudo que havia sido, nasceu, sentiu, comeu, correu, caiu, sonhou, voou, andou adoeceu e morreu, mas desta vez ele mantinha todo o conhecimento das outras vidas e não interferia em cada passagem porque sabia que qualquer passo em falso o faria não chegar à realidade em que ele pode viajar no tempo a partir de seu espírito. Mesmo assim a cada vida surgiam mais e mais perguntas.
Ele foi passado por cada vida, regredindo em cada existência e mantendo seus conhecimentos até que ele nasceu como o primeiro hominídeo racional e depois tudo foi se tornando estranho. Era apenas nascer, alimentar-se, reproduzir-se e morrer. Havia pouco para aprender. Até que tudo ficou escuro e ele viu novamente a luz de quando foi ao imite do futuro. Mas desta vez a luz não o jogou. Ela parecia o sugar para ela. Era uma grande expansão a partir de um único ponto que continuaria até o fim do universo. Ele se deixou estragar pela luz e o que viu em seguida não é fácil de se explicar a um ser vivo racional, mortal ou mesmo imortal. Ele viu Deus, sabia que era ele, tinha certeza disso. Mas ele na verdade não “via” mais, ele não ouvia, ele não tinha tato, olfato ou paladar... Ele apenas sentia tudo e todos ao seu redor. Ao tentar abrir a boca para começar a série de perguntas Deus fez um simples movimento e todas as suas perguntas foram sanadas. Ele ficou sem palavras e Deus falou só para ele de um jeito que eu entendia:
“ Filho. Que bom tê-lo comigo. Eu vi tudo o que fez e sempre estive contigo. Foi por minhas mãos que aqueles átomos de nitrogênio viraram amônia e depois bases nitrogenadas. Quando vi a primeira síntese proteica feita por aquela ribozima... Era tu que estava ali. A primeira forma de vida, aquela pequena célula tão simples, era tu. A cada vida foi aprendendo mais e se tornando melhor. Isso me deixou muito feliz. Agora eu preciso de ti. Uma guerra está para começar e preciso que me ajude, Miguel.”

#Aprendiz Espiritual, de OtavioMSilva

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