Gato Malhado

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E todas as noites o gato malhado ia para cima do muro miar. A sua triste e quente canção dançava com o vento e corria por entre as árvores murmurando suavemente às folhas. Cada miar era dor, eram lágrimas de desespero e saudade que todas as noites eram derramadas sob a lua branca e os milhões de estrelas insensíveis. O velho gato malhado chamava por quem não vinha e cantava na esperança de voltar a ver, com os seus velhos e cegos olhos, quem toda a vida esperou.

O vento já conhecia todas as melodias, desde as mais tristes às mais alegres, mas nunca se aborrecia de esperar até à noite e escutar aquelas intermináveis melodias. Certo dia perguntou ao gato por quem ele chamava, por quem toda a vida esperou. O gato olhou-o tristemente durante muito tempo e respondeu-lhe com uma canção. O velho esperava por quem por ele esperou, esperava pelo fraco que se fez forte, esperava por aquele que nada tinha e nada queria. Esse outro, que o havia visitado muitos anos antes, havia partido para as terras de além e pacientemente o gato esperava o seu retorno. Esse outro era aquele cujo coração compreendia e cuja alma amava o velho gato malhado no seu todo.

O gato cantava-lhe todas as noites para lhe alegrar o espírito, para lhe alumiar o caminho de volta a casa, mas ele nunca voltou.

#Short Story, de Accord2

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