Em um acordo tácito com a melancolia, virou-se à esquina, rumo ao café, esbanjava uma fronte murcha e seca, como a uma uva passa, que passa, passa, mas continua a mesma, Bom dia, senhor, o que deseja?, perguntou a garçonete, na defensiva, pois, inconscientemente, protegia sua bolha das energias duvidosas que exalavam do cliente, posto que, nossos instintos, nos conhecem melhor a que nós mesmos, inclusive, imagine só, caso nossa querida garçonete pensasse no ato a que cometia, quero dizer, o de se defender das energias benignas, se quer saberia ou indagaria sobre a bolha, muito menos das energias, assim, sem defesas, seria atacada, ou melhor, afetada por cargas densas e cinzas que desencadearia uma manhã de trabalho penosa e trágica, alimentaria o ódio ao chefe assediador e aos clientes exigentes e arrogantes, por final, um dia que se resumiria em mal-humores causados por revoltas internas ao trabalho não desejado de garçonete, para ela, Mais uma empreguete, dizia, porém, como comentava, fora salva, pelo instinto, do misterioso homem murcho exalador de energias negativas, Desejo um café preto, sem açúcar, e uma água com gás, a respondeu, com a empolgação de um morto vivo, sendo um vivo morto, É pra já, senhor!,
Gostaria de mais alguma coisa?, Sim, já que pergunta, da sua companhia, desconcertada, suspirou, encheu o pulmão, coçou o nariz, contraiu as sobrancelhas, Desculpe, não posso ajudá-lo, anotei seu café, porém, para não ser importunada novamente, encaminharei outra pessoa para atende-lo, daqui, eu, narrador, rio, não o rio maior que o lago e menor que o mar, mas o rio que nos relaxa, nos descontrai, se quiser, descontrói, nos faz saborear o presente, nos instiga a amar o instante, para ai, paradoxalmente, o negarmos logo em seguida por tanto, tanto, tanto o querermos eternamente, tudo isto enquanto ele flui, flui, e vem e vai, sem se importar com os problemas que aquele que pensa por nós cria e descria, sem se importar com Cronos, insaciável, comendo seus filhos, mas, na verdade, pera lá, ao escrever isto e analisar minha fabulosa descrição, penso, existo, e para falar a verdade, ambos os rios fazem-nos sentir assim, afinal, pelo a menos a mim, e quanto a você?,
Desculpe, talvez tenha me interpretado mal, não quis importuna-la, muito menos desconcerta-la, ou, não sei, causa-la desconforto, ontem, bem, voce me perguntara de um jeito tão dócil e gentil se gostaria de algo que, me precipitei na resposta, mas garanto que não foi uma cantada, não sou um molestador ou algo do gênero, apenas preciso de companhia, alguém pra conversar, e, bem, já que havia perguntado, formulei de imediato que, Olha, senhor, quem ta com a razão não estica chiclete, sei muito bem reconhecer segundas intenções ou pensa que é o primeiro pervertido que atendo?, dei-me licença!, Não, ei, espere, ei! É sério! Juro, não teve segundas intenções nenhuma, fora apenas um... pedido desesperador, sinto muito por tê-la incomodado, ela para por um segundo, e movida pelo instinto, novamente, Haja instinto naquela mulher!, sentou-se a mesa junto a ele, se tivesse que explicar a alguém o porquê, não saberia, sentou porque sentou, fez porque devia de ser feito,
Ta, tudo bem, acredito em voce, agora, me explique, voltou aqui hoje só para se desculpar a uma garçonete de cafeteria de uma cantada que não fora cantada?, pergunta, muito bem colocadamente, a atenciosa mulher, Sim e não, na verdade sou escritor, quero dizer, narrafortunas, mas faço por falta de opção, e claro, uma mania doentia e viciante de narrar minha própria vida, ela, com ares de espanto, torce o pescoço sem tirar os olhos dele, Mas o que eu tenho a ver com isso?, Tudo, ele ri, prossegue dizendo, Ontem nosso dialogo terminou de uma forma nada agradável, voce simplesmente virou as costas e se foi, um trágico fim para uma narração, e como ia lhe dizendo, tornei-me um narrafortuna, por falta de opção, tudo começara quando fui um apreciador de literatura, nada escrevia, nada expelia, absorvia a tudo que lia, e aquilo ficava aprisionado aqui dentro, no peito, sabe?!, por fim, migrei de campo, pois apreciar dores já não me estava fazendo bem, dai veio o verso, virei versador, porém, versar dores tambem não fora uma boa solução, até ontem era um narrador, narrava dores, mas ao chegar em casa, ler e sentir a tristeza do fato narrado por mim, resolvi migrar para um novo campo e narrar fortunas, por isso vim aqui resolver o problema da cena que narrei ontem, tenho de arranjar um final feliz, vim procura-la para isso!, ela o responde,
.#Bípede Nu, de JotapeSL
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M-48 Contos
Cerita PendekNova fase do Projeto Montag!! O nosso Projeto conta com um livro de poesias, que contém 83 poesias dos fundadores do projeto, e um livro de Bastidores, que contém entrevistas com os mesmos, contando suas inspirações, e histórias de vida. Agora damos...