M-48 Contos

Pais e Filhos - Capítulo 4

Página 12 

E então o perdi. Demorei para voltar a ter coragem de escrever para você... Tomaram você de mim da forma mais covarde, só peço que não me odeie, só desejo que cuidem de você meu amor. Nem sei como é seu rosto, não tive o direito de guardar essa lembrança comigo, me privaram dissotambém. 

Eu voltei para a minha casa, mas me sinto vazia, meus pensamentos rodeiam entorno de você e eu juro que tentei te buscar, mas fingiram que eu não era ninguém... E apenas uma dor de uma mãe não era suficiente. Se eu não poderia te ter de volta, eu pelo menos lutaria pelo seu futuro. Então fiz o que eu achava certo, lutaria pela sua liberdade. Fui para as ruas. 

O caos estava ali, na minha frente, algo inimaginável... O ódio era repugnante, a dor era vívida, o medo andava de mãos dadas comigo e eu queria acreditar que era só o vento lá fora.  

Ano de 1964, auge do golpe militar, estátuas e cofres, paredes pintadas e ninguém sabe o que aconteceu, nada fácil de entender, apenas que acontecia na nossa frente e não se podia fazer nada,simplesmente assistir sem se defender. Calados, oprimidos, com medo.  

Estou tão sozinha, tão perdida em meio ao aquilo. Fiquei em choque, parada, olhando as pessoas correrem de um lado para o outro tentando se livrarem de balas perdidas e de militares com chicotes, enquanto dominavam cada centímetro daquela cidade que um dia fora livre e agora só era apenas um campo de guerra moderno. Não restou mais nada... Isso foi a gota D'água, bem vindos ao futuro do caos, do medo, da mentira, da discórdia entre Pais e Filhos.  

E assim, finalizo minha conduta, mesmo eu não sabendo como é seu rosto hoje, acredito que guardei um pouco de você em mim. Eu tentei, juro que tentei e talvez essa seja a última página que eu possa escrever, mas não se preocupe,  fiz o que deveria ser feito, lutei por você, só peço que um dia me perdoe. 

Assinado, Mônica. 

#Pais e Filhos, de vicalberic