Capítulo III

163 39 16
                                    




As Voodoo Dolls estão sendo caçadas.

Essa frase rondava e assombrava os pensamentos de Alice conforme a garota tinha seu rosto limpo por um pano branco e molhado de água fria, que era delicadamente segurado por uma outra mulher, de rosto redondo e olhos grandes, com o cabelo na altura dos ombros, lisos e de um tom chocolate. Seus olhos azuis eram tão claros quanto as águas do mar grego.

- Foi o Knight que fez isso? – A mulher indagou, sua voz era tão delicada quanto porcelana fria.

Alice permaneceu em seu transe. O que ele quis dizer com As Voodoo Dolls estão sendo caçadas? Por quem? Depois que ele disse isso, a mulher de olhos grandes e doces apareceu, dizendo que Alistair havia dito para que ela ajudasse-a a se limpar.

- Sabe, Knight não é tão ruim quanto aparenta. – A mulher sorriu. – Ele só... ele não sabe lidar com as pessoas.

A mulher havia dito que seu nome era Endy e essa era a única coisa que Alice se lembrava sobre a mulher. O que a fez questionar: será que ela também pode entrar na minha cabeça e ler meus pensamentos?

- Você... – A voz hesitante de Alice chamou a atenção da mulher. – Você também...sabe, você também pode entrar na minha cabeça?

Endy sorriu e abaixou o pano com que limpava o rosto de Alice.

- Quem me dera. Seria muito mais fácil de entender as pessoas.

Alice riu.

- Não acredito nisso.

- Jura?

- Você conseguiria enxergar o pior das pessoas.

- Mas também poderia enxergar a luz dentro delas. – Endy finalizou, agora, contornando os lábios da garota, que arderam ao entrar em contato com o pano molhado.

- O que é esse lugar? – Alice indagou. Por algum motivo, se sentia amigável na presença de Endy.

- Não sei ao certo. Eu o chamaria de refúgio.

- Refúgio? Do que?

- Sabe, nem todos são bem vistos pelo Conselho.

- Você me parece perfeitamente normal. – Alice pensou por um instante. – Quero dizer... por que o Conselho teria algo contra você?

A garota respirou fundo, seus ombros relaxando.

- Eu costumava trabalhar no prédio do Conselho. Os Cinco ficavam sempre nos supervisionando, como se qualquer movimento que nós fizéssemos fosse causar-lhe problemas. Um dia, eu estava andando pelo setor de casos especiais, e acabei descobrindo coisas que não agradaram o Conselho...

Endy se lembrava perfeitamente de estar caminhando pelos corredores estreitos do prédio do Conselho, no quinto piso. Seus saltos-altos pretos estavam batendo contra o piso de linóleo e um vestido leve azul-marinho contornava sua cintura. Seus cabelos estavam presos num coque e ela caminha com os braços segurando um amontoado de fichas. A mulher parou na frente de uma porta onde estava escrito Casos Especiais e entrou.

O local era dividido em diversas prateleiras, todas abarrotadas de caixas cheias de pergaminhos até fotos de crimes ou pessoas suspeitas com alto potencial para violência. Endy caminhou até a quarta fileira de prateleiras e parou na frente de uma caixa amarronzada, um pouco gasta, mas que se mantinha firme, exercendo sua função perfeitamente bem.

- Você sabe que não deveríamos ter feito aquilo! – Endy ouviu a voz de uma mulher algumas fileiras à frente. Ela parou de mexer na caixa, ouvindo atentamente ao que ela dizia. – Isso foi um erro!

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora