Capítulo VI

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Não é possível que os humanos não consigam enxergar isso. – Disse Alice sorrindo, os olhos fixos no topo do maior prédio da Tottenham Court Road, onde um gigantesco trem preto e prateado parecia ser feito de fumaça, que dançava suavemente pela brisa gélida do ar de Londres.

- Aparentemente – Knight chegou atrás dela. Carregava uma mochila arredondada atrás das costas – os humanos sabem tanto quanto você.

Alice abaixou os olhos, vencida.

- Não ligue para ele. – Vincent chegou logo depois que Knight saíra. – Então, vamos entrar?

O trem era magnífico, na opinião de Alice. Sua frente era cheia de arabescos prateados, que refletiam a luz fraca do sol que ainda se acanhava atrás das nuvens. A garota entrou antes de Vincent, que lhe fora cavalheiro e abrira passagem. O cheiro de baunilha e carpete novo dominaram as narinas da garota. Ela corou ao sentir a mão direita de Vincent contra a sua cintura.

- A nossa cabine é no último vagão. – Ele sussurrou para ela, empurrando-a gentilmente para que continuasse a andar.

O trem era dividido em seis vagões, com três cabines em cada, divididos por uma porta de vidro e uma cortina de fumaça preta. Tudo parecia tão irreal para a garota.

Eles andaram até o último vagão e entraram na terceira cabine, ficando completamente na parte de trás do trem. Vincent abriu a bolsa-carteiro que usava e retirou pilhas e pilhas de livros empoeirados, colocando-os na frente da garota, que teve os olhos tomados por uma infinidade de cores pasteis das capas.

- Eles são lindos. – Ela deixou escapar, envergonhando-se disso.

- São mesmo. Mas são tão lindos quanto são difíceis de ler. – Ele abriu o primeiro, que tinha uma capa azul-marinho onde estava escrito em prata: As criaturas do submundo. – Infelizmente você já deve conhecer este. -Vincent apontou o dedo para a imagem de uma criatura horrenda e asquerosa, com dentes afiados e asas longas saindo das costas.

- Uma receptora?

- Sim.

- A senhorita Vanderwald era isso? – Alice quase engasgou ao perguntar.

No livro, havia uma pequena descrição sobre o que eram as receptoras, e Alice não perdeu tempo. Com letras pequenas e discretas, o livro dizia:

As receptoras são criaturas indiferentes, cruéis e que se importam apenas com seu bem-estar próprio. Se algum dia, por azar, você for caçado por uma delas, saiba que as receptoras são usadas por bruxas e que não há como fugir.

Uma vez que uma bruxa tenha ordenado que você seja capturado por uma receptora, saiba que  você terá de lutar.

Tais criaturas tem dentes tão afiados quanto uma navalha e garras que podem cortar a pele de forma imperceptível. Se você tiver astúcia e agilidade o suficiente para escapar de seu voo da morte, saiba que o único jeito de matá-la será cravando algo em seu coração.

Antes que Alice continuasse sua leitura, Vincent a chamou, mostrando um segundo livro, este com uma capa avermelhada e rasgada.

- Este livro mostra os lugares do submundo. Nada que se esconde nas sombras não está neste livro, exceto o...

- Refúgio. – Antecipou-se Alice.

- Exato. Foi Alistair quem escreveu este livro. – Ele o entregou à garota. – Pode ser útil para você, eu não sei.

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora