Capítulo XXXVI

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Não. Aquilo não era uma armadilha. Alice soubera disso assim que vira Ariana sorrir, suas rugas contornando os lábios ressecados conforme a fila do Conselho se alinhava a alguns metros deles. Lucy estava ali, seu cabelo platinado sendo jogado pelo vento para a esquerda conforme ela parava, a cintura detalhadamente esculpida por um corpete preto, fechado com um laço na frente de seus seios voluptuosos, os olhos ardentes focados em Alice. A fúria dominou cada célula do corpo da loira assim que a imagem de Endy surgiu em sua mente, a agulha negra perfurando seu peito. O coração de Alice se acelerou.

- O que faremos? – Max indagou enquanto segurava Riri com mais força contra seu peito, colocando-se atrás de Steffan. Eles eram muitos. Mais de vinte, possivelmente.

- Alice... – A voz de Cícero começou, falava de forma tão calma como se já tivesse vencido aquela luta. – Por que nossa irmã, Ariana, está sendo mantida em cativeiro?

Alice endireitou-se. Ombros para trás.

- Deixe-nos passar, Cícero.

-E por que faríamos isso, tola garota? – Indagou Oswald. – Você nos julga como estúpidos, mas sabe ainda menos do que nós.

- Sei que sequestraram crianças humanas! – Retrucou ela. As unhas cravaram em sua pele. Ela sentiu a movimentação de Max e Steffan, ambos numa posição defensiva.

- Elas são um risco para todo o mundo paralelo. – Brielle justificou. – Eles estão aqui apenas para mero estudo. Nenhum mal será feito a eles.

- De fato nenhum mal será feito. – Vincent caminhou até o lado de Alice, seus ombros quase se tocando, os batimentos de seus corações quase na mesma sintonia. – Estas crianças não irão com vocês.

- É uma pena que pense assim. – Hector fingiu tristeza, mas um musculo de seu rosto se contraiu estranhamente, quase como um sorriso distorcido. A fila de homens e mulheres se abriu, deixando que uma nova figura tomasse forma. O coração de Alice apertou-se enquanto as pernas começavam a caminhar. Vincent a segurou pelo pulso. Knight estava ali. Rosto enrijecido. Roupas pretas. Olhos sem brilho.

- Não há necessidade de uma luta, Hector! – Apelou Celeste.

- É mais do que óbvio que há! Vocês sequestraram crianças, as quais não faríamos mal algum! Vocês seguem esta garota – ele apontou para Alice – como se ela fosse a lei suprema, mas se esquecem de que fomos nós, apenas nós, que conseguimos manter a ordem.

- Chamam de ordem aquilo que impõem? – Vincent sentiu a garganta seca assim que começou a falar. – Vocês apenas impõem o medo.

- Medo? Nós deixamos as ruas seguras!

Era mais do que evidente que eles nunca os ouviriam. Não queria ouvir. Alice respirou profundamente, seus cílios se agitando enquanto sua consciência tornava-se limpa.

- Vocês nos atacaram a pouco. – Alice começou.

- Como é? – Brielle indagou.

- Nos atraíram para cá com bombas. Eu ouvi um zunido. Vocês as acionaram. – Ela rangeu os dentes. – Vocês mataram uma das crianças.

Brielle levou uma das mãos sob seus lábios, contendo uma expressão de horror.

- É uma acusação seria a que está fazendo, garota. – Hector a advertiu.

- Vocês mataram a Endy. – Agora, Alice olhou diretamente para Lucy. – Sua vadia imunda.

A bruxa riu e posicionou-se para o ataque, braços para trás e pernas dobradas, prontos para um salto. Ariana maneou a cabeça negativamente de modo quase imperceptível, porém Lucy o assimilou, retomando sua posição inicial.

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora