Capítulo XXXII

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Tudo cheira a morte e terra seca. O que um dia fora o Refúgio, hoje se transformara num amontoado de destroços e cinzas que se espalhavam com o bater de um vento de aparência artificial.

- Achem o punhal. – Alice ordenou a Vincent, Lena e Celeste. – Não temos de ficar aqui por muito tempo...

- Não quer que eu vá com você? – Ele se ofereceu.

- Não. Separados cobriremos uma área maior.

A garota guiou o caminho até o meio do antes tão verdejante campo, o qual agora tinha sua superfície chamuscada e endurecida.

Alice decidiu caminhar até o Chalé que Knight a levará na primeira noite que passara ali. Ela cerrou os punhos. As palmas das mãos estavam suadas. Alice parou, esperando ver a velha que era responsável pela proteção de todo o arsenal. Alice apenas se deparou com uma pilha de ossos, corroído pelas brasas que arderam ali. A velha morrera sem deixar um único grito escapar.

O estomago da garota se embrulhou enquanto ela contornava os ossos, alcançando a porta de madeira intacta, empurrando-a com o peso do corpo. A visão do interior fez seu peito encolher. Não havia nada ali. Tudo o que uma vez fora guardada naquelas prateleiras havia sido tomado pelo Conselho. Ou então por Alistair. Ela não saberia dizer, afinal os dois trabalharam juntos. Ela sentiu uma pontada em seu coração, o que a fez respirar de forma mais rápida.

Alice se virou, o vento artificial apanhando seus cabelos e jogando-os para trás. Quase nada restara daquele lugar. Talvez duas semanas atrás tivessem atacado aquele lugar e, novamente, Alice não fizera nada. Suas entranhas gritaram. Ela sentou-se na grama dura, a pilha de ossos ao seu lado enquanto uma camada fina de cinzas pousava sobre seus fios loiros.

Ninguém está à sua volta, e é isso o que faz Alice permitir-se chorar, as lágrimas esfriando as bochechas avermelhadas. Depois de alguns minutos, ela fungou e secou as lágrimas enquanto se levantava, caminhando para o centro do Refúgio.

Ela mantem seus olhos focados no que ela se lembrava ser a casa principal, na qual eles tiveram o tão prazeroso jantar. A construção agora tinha suas janelas arrebentadas e pilhas de concreto circuncidando sua entrada.

- Encontraram alguma coisa? – Ela indaga a Celeste e a Lena. Elas respondem que não, dizendo que Vincent talvez possa ter encontrado algo. – Vincent? – Ela chama por ele, mas não há resposta. – Vincent! – Ela grita, temendo o pior.

- Estou aqui. – Ele responde, as pernas cambaleando enquanto se une a elas. – Encontrei... – Seus olhos estão vermelhos e as pupilas se contraíam. – Eu encontrei o pinhal e...

- Quem você viu? – Alice sabia que ele havia visto um corpo.

- Viola. – Ele olha para Lena, que mantem a pose, os ombros impostos para trás. – Sinto muito.

A mulher de pele escura colocou as mãos na cintura e baixou a cabeça, respirando profundamente.

- Eu sabia que alguém poderia encontrá-la. – O solhos ficaram marejados. – Por isso fiz aquela cruz e escrevi seu nome...ela merecia algo melhor, mas foi tudo o que pude fazer. – Lena tentou afastar as lágrimas da entonação de sua voz. – Mas está tudo bem... você encontrou o punhal.

Ele assentiu, erguendo a arma para todos apenas para, em seguida, pendurá-la em seu cinto.

- Eu só... – Lena olhou para cima. O céu estava apático. – Podem ir indo. Só vou visita-la.

- Vou com você. – Alice se ofereceu.

- É algo que preciso fazer sozinha, Alice.

A loira olhou para ela. Não estava com pena, mas sim com uma compreensão inacreditável. Pela primeira vez, Alice estava entendendo-a.

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora