Alice mantinha a cabeça baixa, apoiada sob os braços fracos. Ela olhou para cima, os olhos um tanto embaçados. Alistair estava chamando por ela.
Com as pernas menos doloridas, ela se levantou, caminhando até ele, segurando sua mão. O homem estava em frangalhos, o suor brilhando em todo o seu corpo como se gelo estivesse derretendo sobre ele. Seu corpo tremia, isso era evidente principalmente em seus lábios rachados. O sangue havia parado de escorrer, mas algo ainda estava errado.
- Alice... – ele começou a dizer, a voz quase inaudível – eu não sei...eu não sei se vou conseguir te salvar, Alice...
Ela disse para ele ficar em silencio.
- Você precisa me deixar aqui, Alice.
- Você sabe que não farei isso.
- Mas deveria...
O clima estava mais quente do que na noite passada. Alice usava a mesma regata, agora cheirando a suor.
- Eu não vou te deixar aqui.
- Você precisa fugir...
Alice fechou os olhos por um instante e riu de forma rápida e sutil.
- Eu já sei o que tenho de fazer. – Ela finalizou.
...
O caminho para a floresta dos condenados estava calmo, sutil e quase convidativo. As árvores ressecadas mantinham-se surpreendentemente fortes, encarando a todos aqueles que passavam por seu arredor.
Alice respirou fundo, os ombros tensos e endurecidos. O que ela estava fazendo? Era simplesmente loucura!
A floresta a acolhera com galhos finos que pareciam pequenas mãozinhas, cutucando-a vez ou outra, arranhando seus braços desprotegidos. Não havia sinal de nenhum terroso por perto, mas Alice mantinha-se atenta. Já passava das oito da manhã, e isso a fazia se perguntar se ela realmente deveria estar ali, talvez a mulher nem ao menos estivesse lá...
Para sair da casa, Alice correra pela parte dos fundos, tomando cuidado para desviar de qualquer galho que pudesse se quebrar e chamar a atenção dos transmorfos. Ela seguira por uma longa trilha até chegar aos Campos, onde não havia casas queimadas, não havia mais gritaria. Como isso era possível?
Ela caminhara por entre as casas, analisando-as. Algumas tinham luzes acesas, sutis, que iluminavam o rosto dela de forma fraca. Não havia cinzas no chão, nem pedaços de madeira destroçados. O Conselho teria sido tão rápido assim?
Depois de passar pelos Campos, Alice chegara na floresta, e agora tinha o coração quase saltando pela sua boca, sua respiração úmida e pesada.
- Kiera? – Alice chamou pela bruxa assim que chegara ao círculo envolto à pilha de madeira alta que, possivelmente, seria utilizada para uma fogueira.
Não houvera resposta.
- Kiera, precisamos conversar... – Ela foi interrompida por um barulho abafado, de passos tentando amaçar a terra dura.
- O que faz aqui, menina? – Kiera aparecera, usava um tecido azulado envolto ao seu rosto cheio de rugas. Seu cajado de madeira sempre sendo segurado por mãos surpreendentemente firmes, tão firmes quanto os troncos das árvores.
- Preciso falar com você...
- Vá embora.
- Não.
- Não gostou do que viu em seu futuro? Não venha me aborrecer com isso...
- Não estou aqui para discutir sobre aquilo. – Alice não tinha coragem de dizer em voz alta que vira Vincent sendo morto.
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Voodoo Doll - O Despertar
AdventureO que você faria se pudesse caçar as trevas que existem em seu próprio ser? Alice Lovett sabia que não deveria existir, afinal, existia apenas porque alguém não a desejara. Os humanos chamam o procedimento da origem de Alice de aborto, mas ha duas...