Capítulo XXIX

72 21 22
                                    



Alice adormeceu em seus pesadelos, mas ao acordar, isso sim foi o que lhe causou maior medo. Ela ainda estava viva. A decepção que fluiu pelo seu corpo fez seus músculos relaxarem, mesmo ela não sabendo como viera parar sob um colchão velho e empoeirado, feito de molas e um tecido que cheirava a mofo.

De repente, Alice conseguiu vê-lo em sua frente. Knight. As mãos vindo na direção de seu pescoço enquanto Alistair ria logo atrás dele. A garota fechou os olhos com força, sentindo-os ficando doloridos. Ela os abriu, voltando em si, permanecendo deitada, um rastro de baba seca no lado direito de seus lábios.

O ambiente era mal iluminado, ou talvez as cores das luzes tivessem sido escolhidas propositalmente. Um tom de laranja e mel. Havia uma pequena mesa de centro com um copo de vidro preenchido por água, o suor escorrendo pelas beiradas indicava a fria temperatura em que o líquido se encontrava. Alice sentou-se, a cabeça reclamando do movimento, embrulhando seu estomago.

De forma extremamente lenta, Alice inspira da maneira mais profunda que seus pulmões permitiam. A dor em seu peito indicou que ela ainda estava viva. Infelizmente.

Ela se levantou, as pernas pedindo para que voltasse a se sentar, mas Alice queria descer as escadas que ficavam no canto esquerdo daquele cômodo delimitado por quatro paredes beges e um teto descascando. Havia vozes no andar de baixo. Vozes familiares que acabavam por martelar os ouvidos da garota. No início, conforme descia os primeiros degraus, as vozes não diziam nada claramente, eram apenas sons agudos que se misturavam na atmosfera vaga e quente.

Por quanto tempo ela havia perdido a consciência? Aonde ela estava? Seus pés alcançaram o final da escada, abrindo passagem para a sala de estar, brilhantemente decorada de branco e preto. Os olhos dela doeram com o choque claro de uma luz doentia. Ela ergueu a mão sob os olhos, evitando o contato direto com aquela claridade.

- Alice! – Vincent chamou por ela, mas não estava na sala. Ele correu até ela e apagou as luzes. – Perdoe-me, não esperava que acordasse tão cedo.

Colocando a mão nas costas suadas da garota, ele a guiou por um corredor estreito que levava até a cozinha, onde uma mesa redonda unia todas as pessoas ali presentes. Steffan e Max sentados juntos, o primeiro passando a mão sobre os ombros do segundo. Lena também estava ali, agora com uma aparência menos abatida. Ao olhar para a direita, um rosto diferente chamou sua atenção. Era uma mulher de cabelos escuros, tão enegrecidos quanto o óleo. Tinha olhos prateados, que pareciam refletir o próprio ar. Ela se levanto num salto. Seios pequenos e um quadril largo afastando-se da mesa e erguendo a mão para cumprimenta-la.

- É um prazer conhece-la, Alice.

A garota maneou a cabeça como se concordasse com o que a mulher havia dito.

- Onde está...

- Knight? – Indagou Steffan, tentando adivinhar o que ela queria perguntar.

- Poetry. – Ela finalizou.

- Alice... – Vincent a fez caminhar sob o piso frio de linóleo até que se aconchegasse numa cadeira estofada. – Preciso que respire com calma e mantenha a mente aberta.

A garota franziu o cenho e respirou profundamente, assim como ele dissera para ela fazer.

- Knight nos traiu. – Ele disse enquanto mexia, com a ponta dos dedos, no tecido de sua calça bege.

- Ele não...

- Alice, ouça, por favor... – Lena pediu.

- Ele não nos traiu. – Ela afirmou mesmo estando fraca, sibilando as palavras num sussurro. – Ele estava sendo controlado.

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora