Capítulo XXIII

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Ela estava morta. Endy estava morta. A visão da agulha negra rasgando sua pele, passando por seu corpo até respirar o ar do outro lado, empalando-a, era aterradora, fazendo Alice chorar enquanto corria. Não apenas de tristeza, mas também por medo. Medo do que poderia acontecer em seguida. Medo do que eles iriam fazer.

Poetry se agarrava em sua roupa, os olhos fechados e a cabeça baixa enquanto eles corriam por entre as casas estreitas. Knight os guiava, costas largas tampando o perigo que poderia estar à frente.

Se eles mataram Endy... matariam Vincent também?

Knight parou, fazendo com que ela esbarrasse em suas costas, fazendo Poetry se queixar de um choque mecânico inesperado.

- O que é isto? – A garota indagou enquanto observava uma trilha talhada na transição do cimento e asfalto até uma grama fofa e macia.

- Talvez seja uma rota de fuga.

- Não deveríamos ir...

- Não temos escolha, Alice. – Ele se virou e a olhou dentro de seus olhos. – Por enquanto, somos apenas nós dois.

A garota franziu o cenho e, de súbito, quase como se um relâmpago a atingisse, ela se lembrou.

- Max!

...

A casa estava cercada. Havia guardas por todos os lados, prontos para atacarem para matar. Ariana já deveria saber para onde eles iriam. Agradeça ao Alistair, Alice pensou enquanto se agachava, Poetry ainda agarrado em seu ombro.

- Não posso lutar, Knight. – Ela disse e, com o olhar, traçou uma linha reta até o garoto. – Não daria para protege-lo e lutar... sem Endy... – Lágrimas brotaram em seus olhos.

- Hey, nós vamos conseguir. – Knight olhou por cima do ombro. – Acho que posso entrar e tirá-los de lá.

- Não...

- Eu vou voltar.

Ela dilatou as narinas e suas sobrancelhas arquearam.

- Knight, por favor...

- Alice – Ele a segurou pelos braços. Poetry virou o rosto para ele, os olhos tomados por olheiras e o nariz avermelhado. – Seja forte.

De repente, Knight se levantou e correu para a casa que havia na frente deles, jogando suas costas contra a madeira da construção, ouvindo-a ranger. Ele se ajoelhou e apanhou uma pedra, arremessando-a contra uma lata de lixo que estava se sentindo solitária, sem nenhum animal que mijasse em seu formato torto e esburacado.

Alice contraiu o músculo de suas pernas ao ver um guarda se aproximar dele. Ela queria lutar. Precisava lutar. O homem estava com uma arma nas mãos. Provavelmente não tinha nenhum dom extraordinário. Ele franziu o cenho ao ver a lata e, antes que pudesse reagir, Knight agarrou seu pescoço por trás, quebrando-o, ouvindo seus ossos estalarem.

Poetry se encolheu nos braços de Alice. Ela acariciou sua cabeça, lembrando-se de uma tarde quente em que caminhava pela Tottenham Court Road e via uma garotinha de pele clara, tão clara quantos as nuvens, sendo agraciada pelo contato da mão de sua mãe em seus cabelos.

Ao ouvir os ossos de um segundo homem se partirem, Alice abriu os olhos. Knight estava na mesma casa, escalando-a com seus braços firmes. O que ele era?

O homem alcançou o teto de madeira, o cabelo preto voando com o vento forte que cortava o dia. Ele olhou para ela e mandou-a ficar em silencio. Ela maneou a cabeça. O que estava tentando fazer?

De repente, ele pulou do telhado, jogando-se contra os homens. Não demorou para que a confusão se alastrasse. Todos focaram-se em Knight, as armas disparando seus tiros esbranquiçados na direção dele, que desviava com maestria, usando os próprios guardas como escudos.

Ele gritou, um tiro atingiu suas costas, criando um rombo em sua blusa branco. Alice colocou a mão sob sua boca para conter seu grito, mas ainda assim o som agudo que saíra de sua garganta fora alto o suficiente para que um guarda saísse de sua formação, caminhando na direção deles.

Alice se levantou e correu com passos mansos, colocando Poetry no chão, mandando-o ficar parado, dizendo-o para não se preocupar, que tudo daria certo.

- Atenção... – O homem disse em voz alta. Falava com a central do Conselho? – Reportem à Ariana... uma criança humana foi encontrada... acredito que os fugitivos, Alice Lovett e o First Knight, estejam envolvidos.

First Knight?

Alice estava acima do homem, seus pés tomando cuidado para não escorregarem da pequena faixada em que se sustentavam, os sapatos pretos delicados fazendo a madeira ranger de forma quase inaudível.

O que era um First Knight?

Enquanto Alice se perdia em pensamentos, o homem se aproximava de Poetry, os cabelos raspados e um terno azul cobrindo seu corpo, as mãos segurando a arma. Estava nervoso. O suor escorria pela sua nuca gorda.

- O que quer que eu faça caso os encontre?

Alice sentiu a mão relaxar.

- Reativá-lo?

Knight realmente tinha alguma relação com o Conselho? Seus olhos marejados fitaram a casa da frente, seu reflexo num vidro embaçado. Ela arregalou os olhos ao ouvir o grito de Poetry:

- Alice! – A voz fina e em desenvolvimento chamou, pela primeira vez, a garota, em meio ao desespero.

Ela saltou, fazendo um arco no ar, as pernas dobrando ao pousarem sobre o homem, as mãos batendo a cabeça dele contra a grama e, em seguida, torcendo seu pescoço.

- Venha, Poetry! – Ela chamou pelo garoto, mas este permaneceu inalcançável no momento em que um raio amarelado passou a poucos centímetros de seu rosto. Ela sentiu o calor da faixa amarela, sua energia vibrante e cruel.

A garota rolou para o lado.

- Se esconda, Poetry!

O garoto parecia paralisado. Alice gritou, sendo arremessada para trás ao tentar desviar de um segundo raio.

Knight apareceu em seu campo de visão. Lutava a alguns metros. Se ela conseguisse derrubar ao menos dois dos guardas que a atacavam, talvez eles pudessem conseguir salvar Poetry, Max e Steffan, isso se os dois últimos ainda estivessem na casa.

Alice apanhou uma tampa de alumínio. Deveria pertencer àquela lata de lixo solitária. Ela cobriu seu rosto, correndo rapidamente na direção do guarda, sentindo o aumento da temperatura do metal, sentindo-o expandir e começando a queimar sua pele. Com um berro, ela acertou-lhe o rosto, fazendo seu nariz sangrar. Alice largou a tampa, pulando sobre ele, derrubando-o no chão.

- Alice! – Knight chamou, arremessando uma arma para ela. A garota a apanhou, mirando no rosto do guarda.

- Não vai adiantar, garota... – Ele disse por entre o sangue que manchava-lhe o rosto. – Vocês estão acabados.

Com a raiva fluindo até seus dedos, ela puxou o gatilho.

Knight derrubou um home alto e de cabelos compridos, esmagando seu rosto com um soco que fez seu nariz afundar. Ele apontou para a esquerda, lembrando Alice que Poetry ainda estava lá.

- Não se preocupe, garotinho. – Um segurança retirava algemas da parte de trás de seu casaco azulado. Será que apenas os guardas que tinham poderes usavam casacos?

Alice apontou a arma para eles, atirando de forma certeira, abrindo um buraco no peito do homem de casaco depois de três tiros bem direcionados.

- Merda! – Ela praguejou e se jogou para o lado, desviando do alcance d euma arma.

De repente, tudo ficou calmo. Knight acabara com o último soldado, apanhando Poetry pela sua pequenina mão direita e andando até a garota. Alice apanhou o menino, segurando-o contra seu corpo, dizendo-o que estava tudo bem, agora. Mas ela sabia que não era verdade.

Enquanto Knight caminhava na sua frente, para entrar na casa, milhares de pensamentos surgiram na mente de Alice, mas o que a atormentou de forma quase insuportável foi: Como eu posso matá-lo? 

Voodoo Doll - O DespertarOnde histórias criam vida. Descubra agora