Capítulo Vinte Um - Palavras que provocam cicatrizes

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( Terça-feira, 1º de Agosto )

KATE BLANK:

Minha resposta deveria ter sido dada ontem. E então não tive escolha. Ethan tem sido fofo comigo, me aturando, mas mesmo assim eu tinha que tomar alguma decisão. Não que eu não ame ele, mas não posso ficar e ter que assumir coisas que não tenho a mínima vontade. Os próximos meses provavelmente serão de despedida e de instruções da titia Morgan.

Abraço o meu travesseiro enquanto escuto algumas músicas. Sinto uma lágrima descer sem permissão, e limpo-a rapidamente, antes que ela libere o caminho para as demais.

A foto de Ethan aparece no visor do celular. Respiro fundo e pigarreio, na esperança de normalizar minha voz embargada.

- Oi! - Diz alegre. Engulo em seco.

- Oi.

- Ei... hãm... Mike e Natasha vão ir à uma balada hoje à noite. Então, eles convidaram a gente pra ir também. O que acha?!

Quando estava prestes a soltar o 'não' paro quando formato as palavras. Não posso voltar a ser aquela chata que namorava Noah Williams.

- Pode ser...

- Ótimo, te pego às 20:00 hrs.

- Te espero. - Dou um sorriso forçado e quando desligo a ligação, respiro fundo e me tomo por raiva de mim mesma, jogando o celular em cima da cama com tudo.

Quando termino de me maquiar, coloco o vestido preto e apesar de todas as críticas que a maioria das mulheres que tem 1,70 enfrentam, eu coloco um salto alto.

Quando desço as escadas de casa, me deparo com meu pai, vidrado na janela, encarando a luz da lua, enquanto prova a delícia do chá de camomila de Zilda, misturada com um trago de cigarro. O cheiro de fumaça, por incrível que pareça, dá um ar de elegância.

Ele escuta o barulho do salto alto sobre o piso, e então vira para trás, para dar de cara comigo. Ele balança a cabeça, desaprovando. Mas eu não ligo. Finjo que não vi e abro a porta da frente.

- Aonde vai, Kate? - A voz da minha mãe, rígida e fria me faz fechar os olhos com força. Me viro, disposta a ver o gosto de receio que criei com ambos, com o passar do tempo ausente.

- Vou ir para a balada. - Digo, depois resolvo fazer algo que já não fazia há um bom tempo, e que tenho que me aprimorar. - Vou dançar muuuuitooo! Bebeeeeer vodka aos horrores, e agradeçam ao meu namorado Ethan, se ele não beber só para me trazer em casa no final da noite. Ah! E só mais uma coisa: pelo tempo que passou, e por ter crescido assim, só os mais íntimos devem me chamar de Kate. Pra vocês é Blank. Kate Blank. Até eu mudar e trocar de vez esse sobrenome. - Vejo os abrir a boca para dizer algo, me repreenderem, mas ao mesmo tempo viro as costas.

- Não te demos permissão para sair! - Manfred diz, mantendo a compostura.

- Tenho dezoito. Não preciso de permissão. - Ergo minhas sobrancelhas os-desafiando.

- Se der mais um passo nós... - Começa, dou um sorriso amargo, cínico e cruel quando sinto que estão entrando em desespero.

- Vão em frente. Me mandem embora de casa, que eu vou. Me tranquem no meu quarto, que eu fujo. Me façam obedecer, que eu discuto. Afinal, vocês costumavam dizer que eu tinha as palavras na ponta da língua. Parece que ainda as tenho! Só que estão mais eficazes e prontas para atacar formando novas cicatrizes.

Minha mãe parece surpresa, ao mesmo tempo que posso sentir o seu pensando. "Onde foi que eu errei?!". Queria ter coragem para dizer à ela que em tudo. Que desde a primeira viagem, o primeiro natal sem eles, as primeiras fotos à distância, as promessas de que estaria no próximo natal, a desilusão dessas promessas, a falta nas reuniões da escola, a quase depressão, a presença apenas de Zilda, minha dificuldade de expressar que gosto muito de alguém, traumas de não conseguir dizer a palavra mais poderosa do mundo, a minha necessidade de manda-los se ferrar, tudo... Quero jogar na cara dela, o quanto doeu pra mim. E por mais que eu queira vê-la passar pelo mesmo, sinto que essa não sou eu. Que essa não é a garota que costumava ser forte e não demonstrar mágoa alguma. Que não sou de me vingar de forma tão baixa.

E como sempre, Ethan sabe quando preciso dele. Escuto sua buzina, e sei que é melhor segui-la. Desço os últimos degraus rasos da "Mansão Blank", e assim que abro a porta do carro e adentro o mesmo, Ethan utiliza aquele mesmo radar e detector de tristezas e coisas que te abalam.

- O que aconteceu?

- Nada demais. Só cuspi algumas palavras...

Ele respira pesado e bufa em seguida.

- E o que foi exatamente que você disse?

- Que sou maior de idade, que vou beber hoje à noite e que não vou obedecer à tudo o que eles dizem. - Ele fica surpreso.

- Você me surpreende demais, Lady! Só me diga que não sou o responsável de fazer esse sua rebeldia toda...

- Talvez seja. - Continuo firme nas minhas palavras.

- Assim você faz eu me sentir culpado.

- Você é culpado. - Ele me encara, sem nenhum tipo de tristeza ou culpa. - Culpado de me fazer enxergar algumas coisas. Culpado de me fazer entender que o problema é com eles, não comigo. Culpado de me fazer gostar tanto de você. - Ele volta a olhar para a estrada e engole em seco.

- Por um momento eu pensei que você diria que... - Ele se cala, magoado. Abaixo a cabeça. Isso não é culpa dele. É minha.

- Me desculpa, você sabe que não consigo dizer, Ethan!

- Tente! Pelo menos tente, Kate!

- E-Eu... - Balanço a cabeça quando abro a boca e as sílabas não conseguem serem formadas. - Eu não consigo! Não consigo Ethan! - Me desespero, e quase começo a chorar.

Ethan lança um olhar de compreensão e culpa. Para o carro no acostamento, só para me abraçar e dizer que ele não irá se importar mais com isso.

- Agora eu sei que tentou. - Me dá um sorriso e beija a minha testa.

E ele me deixa segura e mais calma. E é nesses momentos que eu esqueço de me afastar dele, e faço exatamente o contrário, me apego ainda mais.

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Oii! Capítulo atrasado mesmo...
o próximo só sai se tiver pelo menos 3 estrelinhas (vocês não estão votando, e estou preocupada)...

Beijos, Fra...

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