Capítulo Sessenta e Oito - Ilhabela (Parte XXIII) ~ O Começo do Fim

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KATE BLANK

Era impossível. Depois de tudo, tudo o que foi dito, tudo o que fizemos...
Era imperdoável. Inacreditável, na verdade.

- Ele foi um cuzão. - Brian me abraça.

- Por favor - Me afasto para encara-lo nos olhos - Peça para ele parar de nos observar. Não quero que me veja fragilizada dessa maneira. Me recuso à dar esse gosto de felicidade para a cobra da Mary.

Brian assente, olha em direção à porta do café. Ele parece se irritar ao ver os olhos tomados de culpa e desapontamento de Ethan. Ele até parece quase ter sentimentos o suficiente para chorar. Eu disse quase.

- Para dentro, Heiter. - Ele sibila. Ethan o encara por um breve instante, aí lança o dedo do meio para ele e logo se afasta irritado. Tenho certeza que por medo de Brian é que não foi. - Seja lá o motivo pelo qual você o queria afastado, agora você conseguiu. - Ele sorri fraco pra mim e então eleva meu queixo com seus dedos. - Não há nada no mundo capaz de machucá-la ou colocar você para baixo. Você vai ver. Kate Blank, nunca deveria se quer olhar para o chão uma única vez. Sabe que eu estou aqui, e me recuso à permitir que alguém machuque minha irmã. - Me aconchega em seus braços.

- Eu sei. Por isso que gosto tanto de você. - Consigo dizer, mesmo com os olhos manejados e a voz embargada. Ele percebe logo de cara e já me dá um aviso prévio:

- Uma vez você me prometeu que jamais choraria por algum cara, lembra? Por favor, pare de quebrar suas promessas. Achei que a sua palavra fosse honrosa, mas pelo jeito... - Olho para ele, que faz uma careta.

- E é honrosa. - Limpo os olhos com a camiseta dele. - Não vou chorar por Ethan Heiter.

- Essa é a minha garota. - Ele me dá um sorriso feliz. Sua alegria estranhamente me contagia, me faz sentir vontade de estar de pé e lutar contra os dois com a arma mais potente que já existe: a merda de um sorriso depois de um coração partido. Só os mais fortes um dia entenderão como é passar por isso.

Fingimos estar bem, e forçamos nosso cérebro à acreditar nisso, criamos uma barreira potente contra as palavras dos outros, mas ficamos sob pressão o tempo todo, porque sabemos que à qualquer momento podemos desmoronar. Como se houvesse uma bomba-relógio dentro dos nossos corpos. Em algum momento desmoronamos, mas vale a pena correr o risco e testar nossas habilidades. Depois de algum tempo de prática, nos tornamos realmente bons em mascarar nossos verdadeiros sentimentos. Nos aprimoramos o suficiente para ao menos fingir que está tudo bem por uma hora, depois doze horas, mais tarde um dia, um mês e por fim, um ano. É a chamada "desligar a humanidade" - perder o que temos de mais precioso: O que nos faz ser os principais na face da terra, o que nos difere de qualquer outro ser vivo. Temos a infeliz capacidade de nos importar, nem que isso tenha acontecido apenas com uma coisa, ou uma única pessoa em toda a sua vida. Ninguém morre sem sofrer com os próprios sentimentos, já que são capazes de causar terríveis estragos nas nossas mentes acolhedoras e sensíveis. Isso nos deixa fracos, vulneráveis, e não é nada bom.

Brian me viu mais forte dois segundos depois. Ele não ficou surpreso. Acho que já tinha estimulado uma melhora significativa dessas em mim antes...

- Está pronta para voltar pra lá? - Ele parecia saber a resposta.

A verdade era que, Brian havia me ensinado esse truque. Ele sempre esconde seus sentimentos quando estão prestes à feri-lo. Sempre recua, dá o fora antes de levar um, some antes de ser abandonado. Por um momento ao olhar em seus olhos, eu descobri a verdade.

Acontece que eu sempre achei que Brian fugia descaradamente do carinho de Carol. Mas não era esse o seu grande motivo. Brian fugia de Zilda, sua própria mãe.

Ele me dizia que não gostava de magoá-la, não gostava de irritá-la. Por mais que ela fosse querida, era um pouco dura com relação à alguns assuntos que passaram a vir à tona com o passar dos anos. Perguntas feitas por Brian, nunca respondidas com palavras, só com olhares fulminantes.

Ele queria distância dela. Seu plano era tortura-la até que ele a faça contar quem é seu verdadeiro pai. Tortura-la até que ela o implore para voltar pra casa com a seguinte proposta: "se você voltar, meu filho, eu te conto tudo o que você sempre quis saber". E isso, embora não parecesse, estava prestes à acontecer. Zilda ficava sem chão com seu filho longe. 90% do seu coração estava com ele, e era com os 10% restantes que ela levava sua vida aqui no Brasil, tomada de saudade do filho.

- Estou pronta. - Afirmo, sorrindo levemente. Ele me puxa pela mão.

Entramos novamente e todos os presentes - todos os que se encontravam ainda acordados, nos encararam. Ethan murchou ao me ver sorrindo. Mary pareceu irritada e desapontada com sua tentativa falha de pisar em mim.

- Você tá bem? - Pergunta Natasha.

- Nunca me senti tão bem. - Meu cérebro bloqueia tudo o que consigo e sinto uma estranha vontade de rir das minhas próprias palavras, já que estou sendo sarcástica e irônica se for avaliar a verdadeira situação.

Vejo a cara de desaponto de Mary e lanço-lhe o melhor olhar que já lancei à alguém em toda a minha vida. Não sei como não consegui queimá-la daquela forma, ainda mais com o meu maravilhoso sorriso um tanto quanto malévolo, provocativo e... ~temporário~.

^*^
Desculpem os erros, postei sem revisar antes 😬
Espero que tenham gostado!! 💖



Beijos, Fran...

Dona Do Meu PensamentoOnde histórias criam vida. Descubra agora