Capítulo Sessenta - Ilhabela (Parte XV) ~ A presença de Brian

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(Quarta-Feira, 5 de Novembro)

ETHAN HEITER:

Não preciso nem contar maiores detalhes sobre o momento da madrugada em que perdi o sono, desacostumado à dormir sem a Kate. Foi preciso ligar a maquininha de café, que por sorte havia lá. E olha que eu nem gosto muito de café.

O lado bom de estar acordado enquanto Jack e Mike dormem, é que vou ter esse tempo suficiente para pensar na vida enquanto olho a vista da sacada, que dá de frente para o mar. Passo o endereço do nosso hotel para Brian, e o vejo de longe, se aproximando sobre a luz da lua. Caminhando descalço na areia. Ele me proporcionou tamanha inveja que resolvi lhe passar uma mensagem, avisando que eu estaria descendo para encontrar com ele na praia.

- De bermuda a essa hora Heiter? - Fala quando me vê.

- Estava sem sono - Explico.

- Esperando que eu chegasse, é claro. - Convencido como sempre.

- Lembra quando você ia lá em casa e me convidava para sair com você para umas festas? - Pergunto enquanto caminhamos.

- Isso soou meio gay cara. - Só então me toco que ele tem razão e começo a rir sem parar.

- Não tenho culpa se tivemos uma relação maravilhosa. - Provoco. Ele ri mais um pouco. - Mas enfim, voltávamos bêbados e encontrávamos nossas mães nos esperando às três da manhã. Depois passamos a chegar mais tarde, as quatro, e aí elas já estavam dormindo com as pernas encolhidas na poltrona, lembra? - Ele assente.

- Mas por que isso agora cara?

- Sei lá. Tava pensando no que o Mike disse.

- E o que exatamente o Mike disse?

- Que a fase de adolescente doidão dele já passou, que de agora em diante ele é responsável. - Digo e Brian ri até ficar sem ar.

- Não cara... Ele não pode ter dito isso!

- Pior que disse.

- Uau. Quem imaginaria.

- Pois é.

- Perdemos um soldado. - Fala sem nem mesmo saber sobre Natasha.

- Pode apostar que sim.

- Desculpa cortar a sua onda de nostalgia aí cara, mas preciso saber como que a Carol está. Você disse por mensagem que já à encontraram e que a Kate está tomando conta dela, mas por que?

- É... bom, pode se dizer que ela bebeu um pouquinho depois do telefonema de vocês, e o dia de hoje não foi muito dos bons, ela acordou com ressaca e não quis sair do quarto.

- Acha que se ela me ver as coisas vão piorar? - pergunta como um cachorro abandonado.

- Não sei. Não contamos para ela que você viria.

- Vou fazer uma surpresa então. - Diz logo de cara. - Sabe se tem alguma floricultura por aqui?

- Cara... não querendo ser estraga prazeres mas: você sabe que horas são?

- Uma vez um idiota me ensinou a olhar pro sol e ver a sua posição pra saber a hora então, posso fazer o mesmo com a lua... vejamos: pelos meus cálculos são 2:23 da manhã. - Diz olhando para o céu, como um babaca. Olho para a lua.

- Nossa, passou longe: 1:55. - Dou um tapa no seu rosto de leve e ele dá um sorriso.

- Se nós não fossemos héteros, daríamos um belo casal, não concorda? - Pergunta do nada. Dou risada, mas muita risada, levando meu amigo a rir como uma foca asmática.

- Claro. Somos um exemplo de gays héteros, Brian.

- Mas cara, sério mesmo! Olha, você é bonitinho e eu sou perfeito, tem casal melhor que esse?  - Pergunta zoando.

- Tem. Eu e a Kate. Você e a Carol. Eu sou um lixo e a Kate é linda. Você é feio e a Carol é... - Brinco.

- Linda. Eu sei. Não à mereço. - Seu humor cai em 100% e me sinto culpado por ter brincado com a sua alto-estima.

- Ei cara! Não era exatamente isso que eu queria, que você se sentisse mal. Mas se serve de consolo, também estou me sentindo um lixo ambulante. - Digo, me escorando em uma das colunas de um quiosque, observando a maré, ele se escora na outra.

- Sério? - Pergunta, parecendo surpreendentemente surpreso.

- É, cara. Não é só você que faz cagada o tempo todo. Eu também faço.

- Mas duvido que a sua tenha sido pior que a minha.

- O que foi que você fez de tão ruim?

- Fora o fato de eu ter ido embora logo depois que ela se declarou pra mim? Hum... não sei, talvez eu tenha pego umas garotas aí, cada dia uma diferente pra compensar ela. - Conta com ar de sarcasmo e insignificância, o tipo de coisa que me fez rir. - Mas e você? Me fala o que tem feito de errado com a minha irmãzinha de coração...

- Não contei pra ela que também vou embora. - Falo brevemente.

- Você vai para onde?

- Tudo vai depender dessa próxima semana, mas o que eu sei é que até o final desse ano já estarei lá.

- Hum... E a Kate, na Califórnia, incapaz de saber onde você vai estar. - Não conversamos olhando um para o outro, somos capazes de apenas ouvir a voz enquanto apreciamos o ar refrescante do mar.

- É.

- Cara, não quero ser chato, mas ainda sim, ela é a minha família. Se você não contar, eu conto. Ela não pode ir embora pensando que é a única culpada pela separação de vocês dois.

- Eu sei. Mas por favor não conte para ela! Eu dou o meu jeito, nem que seja à distância e... - Começo a tentar achar uma solução.

- Ethan: o que você faria se ao invés da Kate fosse a Lize? O que você faria se o namorado da sua irmã fizesse isso? - Pergunta, fazendo o meu coração parar. A resposta estava mais que óbvia. Eu faria o mesmo que ele está dizendo, botaria pressão no cara, tentaria fazer ele criar coragem para contar, mas se ele fosse tão acovardado, nunca que eu deixaria barato.

- Você tem razão, Brian. Mas eu não sei como vou contar. Preciso de algum tempo...

- O que você precisa de verdade é estar abraçado vinte e quatro horas por dia com ela, não é? - Pergunta, como se tivesse acabado de ler a minha mente. Confirmo com a cabeça, ele me encara. - Eu fiz isso, Ethan. A última semana antes de partir de vez, dei um jeito de fazer com que eu ficasse abraçado o tempo todo à Carol, mas só piorou. Assim que cheguei em Connecticut, um vazio me tomou, e a cada noite a vontade de beber aumentava ainda mais, e eu via fotos dela com a turma, fotos dela com alguns amigos e até mesmo com a própria Kate e tudo me deixava sensível à ponto de chorar logo depois de ficar bêbado. O pior de tudo era ficar excitado ao ver qualquer foto dela, tenho uma... - Pega o celular para ilustrar sua explicação. - Essa aqui em especial, me deixava louco. - Me mostra uma foto da Carol, iluminada pela luz do sol da sua janela, os olhos avelã puxa uma tonalidade verde e seu cabelo queimado tem a mesma cor que sua pele bronzeada, mas talvez o que faça essa foto ser tão diferente das outras é que ela está sorrindo. O sorriso mais sincero que eu já vi em seu rosto.

- Quando que ela tirou essa foto?

- Logo depois que fui embora. Ela parecia tão bem sem mim, e eu lá... vomitando vodka toda a noite e tomando mais um pouco depois de vomitar. - Diz. Consigo sentir o sofrimento que ele sentiu. - Era como se... a vida dela continuasse a mesma, ou até melhor depois que eu fui embora e isso doeu, de verdade, sabe?

^*^*^
Atualizadooo! ♥️

Beijos, Fran...

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